Ecossocialismo por necessidade
Reprodução TV Comunitária DF

Ecossocialismo por necessidade

A urgência da luta socialista e ambiental e as tarefas da esquerda brasileira

Theo Louzada Lobato 16 maio 2024, 17:23

Já são mais de 2 milhões de pessoas afetadas pelas chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul. Uma tragédia que certamente ficará na história do Estado e do país. No Maranhão, ao mesmo tempo que se desenrola o drama no Sul, mais de mil famílias foram desabrigadas pelo mesmo motivo: chuvas e enchentes tiraram tudo de diversas trabalhadoras e trabalhadores pelo Estado.

A solidariedade a todos os que perderam suas casas ou mesmo familiares está na ordem do dia. As campanhas como tem protagonizado o DCE da UFRGS têm sido exemplos fundamentais de um ativismo real e vivo em um momento onde a realidade é de desamparo. Mas isso não significa que podemos aceitar a narrativa política que “não é hora de buscar culpados.”

Nesse sentido, a figura de Eduardo Leite é simbólica: ao mesmo tempo que tenta se colocar como uma figura de “gestor em tempos de crise” , a sua tentativa de despolitizar a tragédia está ligada a seu próprio histórico. Em 2019, promoveu diversas alterações no código ambiental do Estado, inclusive com a flexibilização da licença ambiental, do desmatamento do pampa e das matas ciliares e ampliando a área passível de cultivo de eucaliptos. Ou seja, sua tentativa de fugir do debate político durante a tragédia está ligada à sua responsabilidade, vindo de um histórico de desmonte ambiental do Rio Grande do Sul, como um representante de uma direita liberal negacionista.

Naturalmente, o que se passa hoje não recai exclusivamente ao governador. De Brumadinho a Altamira, a destruição da vida humana pelas chamadas “tragédias” ambientais, demonstram que as mudanças climáticas já estão definindo os rumos da humanidade e que fazer esse debate não pode ser mais uma pauta secundária ou parcial para a esquerda anticapitalista brasileira e internacional.

Não à toa, o desmatamento da Amazônia, durante o governo Bolsonaro, acendeu um alerta vermelho internacionalmente sobre o que significava a política de morte do então presidente. Sejam as nuvens de fumaça que foram do Norte para o Centro-Oeste e Sudeste brasileiro ou as imagens das áreas desmatadas, esse debate, que as populações originárias já se manifestavam no início do mandato, se tornou um dos principais pontos de oposição à extrema-direita brasileira pela possibilidade de uma irreversibilidade das consequências da sua política de destruição.

A questão é: a destruição ambiental não é conjuntural. O desmatamento e destruição ambiental existiam antes de Bolsonaro e vão seguir existindo dentro de uma lógica capitalista de eterna expansão. O modelo econômico que vivemos se mostra cada dia mais insustentável em todo o mundo: ano passado, por exemplo, os incêndios na Austrália mataram mais de 1 bilhão de animais pelo país, após o fogo ultrapassar metade do tamanho do Reino Unido em área afetada.

.Ou seja, não há como debater a pauta ambiental sem falar do sistema capitalista, mas não existe mais como ignorar na luta política socialista o debate ecológico. É necessário fortalecer uma esquerda ecossocialista no Brasil. Precisa ser entendido como um atraso a falta de debate ou às vezes até contrariedade que organizações social-democratas ou de tradição stalinista possuem sobre pauta ambiental. Argumentos como se fosse um debate “distante dos trabalhadores” ou desconectado com o projeto socialista só expressam o próprio atraso dos que fazem essa elaboração perante uma realidade que já está destruindo vidas em cifras milionárias.

Nossa construção de pauta ecossocialista não é de agora: a fundação do Juntos teve a luta contra Belo Monte e desde então sempre construímos de forma ativa a luta ambiental, entendendo que não é só um debate acadêmico ou individual, mas um dos centros do sistema capitalista e portanto, também da resistência a ele. Agora, porém, é hora de expressar essa luta com o máximo de firmeza possível: se não existe futuro nos moldes do capitalismo expansionista, também precisamos afirmar que não existe projeto de esquerda possível atualmente sem que ele seja centralmente ecossocialista.


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