Alejandro Dominguez é o sintoma de um buraco muito maior: Sobre o racismo no futebol
Com cartolas racistas, casos de racismo sem resposta não são por acaso
A fala do Presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, afirmando que a Libertadores sem o Brasil é como “Tarzan sem Chita” caiu como uma bomba no mundo esportivo reacendeu o debate sobre racismo no futebol. Porém a fala de Dominguez não é surpreendente vindo de uma entidade complacente com o racismo, não foram poucos os casos em que a Conmebol não se posicionou ou tomou atitude em ocasiões de racismo nos estádios. Casos como os de racismo sofridos por torcedores e jogadores brasileiros em estádios por toda a América do Sul, mais corriqueiramente na Argentina, Paraguai e Uruguai são ignorados pelos cartolas que comandam a entidade que rege o futebol Sulamericano. Mais recentemente o caso do jovem Luighi de 20 anos da base do Palmeiras se tornou um exemplo de levante contra esses casos cada dia mais frequentes, porém mais uma vez a Conmebol pouco fez, punindo o clube do torcedor que imitou um macaco para o jogador em apenas 50 mil dólares, em comparação a multa para atraso na volta pro segundo tempo é de 100 mil dólares e o uso de sinalizadores de 180 mil. Isso passou mais uma vez a sensação de racistas saindo impunes, tornando o ambiente nos estádios, principalmente para visitantes, algo hostil e por muitas vezes criminoso.
O racismo nos estádios não têm o combate feito de forma séria por parte daqueles que comandam o futebol na América do Sul e tão pouco em outras associações de futebol, porém como esperar tal combate vindo de entidades comandadas por velhos cartolas que comandam o futebol a décadas, e no caso da Conmebol que têm na sua figura de presidente uma pessoa que faz uma analogia racista de forma pública e em tom de piada?
Os casos Luighi e Alejandro Dominguez tornaram o debate sobre racismo no futebol a pauta do dia, diversas personalidades do esporte, clubes e torcedores se manifestaram repudiando ambos os casos e cobrando por medidas concretas contra o racismo no futebol. Setores principalmente ligados a personalidades e torcidas organizadas se posicionaram pedindo mais do que apenas notas de repúdio, como muitas vezes acaba sendo o máximo que acontece, quando por vezes nem isso ocorre. É importante também não só apontar o dedo como se o racismo não ocorresse também no futebol brasileiro, são dezenas de casos de racismo nos jogos de futebol brasileiro todos os anos e a lógica da nota de repúdio que por vezes fomos vítimas é apropriada quando se é algoz. Recentemente a torcida do Flamengo cometeu um ato lastimável contra o Luighi da base do Palmeiras, o mesmo que chorou denunciando o caso de racismo que sofreu de torcedores paraguaios agora se via sendo chamado de “chorão” repetidas vezes por torcedores brasileiros. Esse é apenas o exemplo mais recente de inúmeros casos em estádios no Brasil. A retórica racista de minimizar esses casos como simples provocações retroalimenta uma lógica que perpetua o racismo como algo do jogo, o que por muitas vezes não é repudiado pelos próprios clubes que não tomam medidas quando é com a sua própria torcida.
Esse é um debate que precisa ser levado a frente de forma responsável, com a Conmebol e outras entidades sendo agentes de pressão política nos países para pressionar não só os clubes, como levar o debate antirracista para as leis dos países sulamericanos, alguns deles que inclusive não tem uma legislação que trate de casos de racismo nos estádios como a legislação brasileira, um exemplo é a Lei Vini Jr de combate ao Racismo nos Estádios e Arenas esportivas do Dep. Estadual Professor Josemar (PSOL-RJ) que está sendo replicada em outros estados e a nível nacional proposto pela Dep. Federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Chico Alencar (PSOL-RJ), medidas importantes mas que ainda apresentam limitações ao caráter legal. Tais medidas e leis não serão concretas sem que exista uma forte pressão para alterar o status quo do futebol sulamericano e mundial. A pressão via redes sociais é importante para não só denunciar mas também alcançar um número maior de pessoas. Porém, a pressão deve ser feita pelos setores populares e antirracistas articulado às torcidas organizadas exigindo medidas que se concretizem em ações diretas de combate ao racismo no futebol.
A mística por trás do futebol brasileiro molda relações sociais e mexe com o imaginário de milhões de brasileiros todos os dias. O futebol representa um importante espaço de disputa de consciência na sociedade, uma vez que cidades inteiras param para assistir seus jogos. Dessa forma o futebol representa uma importante trincheira na luta antirracista no Brasil e no mundo. Nessa luta são muitos os aliados que podemos contar, principalmente as torcidas organizadas e seus muitos pelotões antifascistas, uma importante forma de organização popular que precisa ser valorizada e ter seu sentido disputado, não só na luta antifascista como aliado a luta antirracista e anticapitalista. A disputa por um esporte que seja radicalmente antirracista é fundamental para a disputa da sociedade, é no esporte que expressões politicas se manifestam e disputar seu caráter é fundamental.