COP 30: a terra fala, mas poucos escutam
Reprodução: Eline Luz/ANDES-SN

COP 30: a terra fala, mas poucos escutam

A terra grita por socorro. Nós escutamos. Mas vocês, vão escutar antes que seja tarde demais?

Marcela Karapotó 29 abr 2025, 15:16

Para nós povos indígenas, ribeirinhos e camponeses, a terra não é apenas um território – ela é vida. É dos rios que alimentam comunidades, das florestas que abrigam biodiversidade e dos ciclos naturais que garantem a sobrevivência. No entanto, essa conexão ancestral está sob ataque, ameaçada por políticas que priorizam lucro e progresso acima da preservação.

A COP 30, realizada em Belém, se apresenta como um marco na luta ambiental, reunindo líderes globais para discutir sustentabilidade. Mas por trás dos discursos de preservação, a realidade é outra. Medidas como o “marco temporal” avançam sem considerar séculos de resistência indígena, tornando vulneráveis aqueles que mais protegem a natureza. A contradição entre o reconhecimento dos povos indígenas como guardiões da biodiversidade e a tentativa de deslegitimar seus direitos territoriais escancara a hipocrisia do evento.

No “Acampamento Terra Livre (ATL) 2025”, realizado em Brasília entre os dias 7 e 11 de abril, milhares de indígenas protestaram contra a violência aos seus territórios e reivindicaram a demarcação de terras. As ruas foram tomadas por manifestações, enquanto o governo insistia em políticas que aprofundam a destruição ambiental. O ATL expôs uma luta que vai além da sobrevivência dos povos originários – é uma defesa da vida e do equilíbrio planetário.

A COP 30 reflete a lógica de um sistema que prioriza o lucro e o consumismo em detrimento da preservação. Enquanto líderes discutem ações ambientais, a infraestrutura do evento – estradas, construções, exploração de recursos naturais – gera impactos irreversíveis. A modernização, como nos é vendida, se traduz na contaminação de rios, na extinção de espécies e na destruição de florestas. O progresso que prometem não sustenta a vida; ele a devasta.

Eventos climáticos extremos ilustram a gravidade da crise ambiental. Em 2023, uma onda de calor na Europa matou mais de 37 mil pessoas, enquanto enchentes devastadoras na Líbia tiraram a vida de mais de 12 mil. Esses desastres, intensificados pelas mudanças climáticas, são consequência direta do desmatamento e da exploração desenfreada da natureza. Segundo o IPCC, o desmatamento responde por cerca de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa, tornando-se um dos maiores desafios para limitar o aquecimento global.

Quantas florestas mais precisam ser destruídas para percebermos que esse modelo de progresso nos leva ao colapso? Por que o conforto dos líderes durante a COP 30 justifica danos permanentes à biodiversidade que eles dizem proteger?

Nossas terras não são apenas espaços para exploração. Elas são cultura, memória e vida. Somos nós que entendemos o equilíbrio necessário para a preservação do planeta. No entanto, enquanto o marco temporal avança, o agronegócio se expande e as mineradoras se multiplicam, a retórica da sustentabilidade continua vazia. Nos chamam de protetores, mas negam nossos direitos. Essa contradição precisa ser combatida.

O planeta não suportará mais discursos sem ação. A degradação ambiental é resultado das escolhas humanas, e sua reversão exige coragem para enfrentar os interesses que perpetuam a destruição. A COP 30 precisa ser um divisor de águas, comprometendo-se com ações concretas que protejam verdadeiramente a vida em todas as suas formas.

Enquanto promessas se acumulam, a terra segue sangrando. O tempo para salvar o planeta está se esgotando. É hora de agir com honestidade e determinação, priorizando a preservação sobre o lucro e reconhecendo os direitos de quem sempre protegeu aquilo que é vital para todos nós: a natureza. Sem essas ações, a COP 30 será apenas mais uma reunião cujo impacto real será tão passageiro quanto a estadia de seus participantes.

A responsabilidade não é apenas dos governos. Cada pessoa tem o poder de influenciar mudanças por meio de escolhas conscientes – apoiando políticas públicas que protejam os territórios indígenas, consumindo de forma responsável e se engajando em movimentos que defendam a biodiversidade. Somente juntos podemos transformar o sistema e construir um futuro sustentável.

Cada pessoa pode mudar o caminho que seguimos. Apoiar nossa luta, respeitar nossa cultura, consumir com consciência e denunciar os destruidores. A floresta não precisa de discursos, precisa de respeito. E sem ela, todos, indígenas ou não, estarão condenados.

A preservação não é apenas sobre hoje. É sobre o amanhã, sobre aquilo que será deixado para os que virão depois de nós. A terra sobrevive sem os humanos. Mas os humanos não sobrevivem sem a terra.


Imagem O Futuro se Conquista

Últimas notícias