Nosso carnaval jamais CALARÃO
Na madrugada de segunda para terça-feira, a polícia militar disparou bombas e balas de borracha contra foliões durante o carnaval de rua de Campinas.
*Por Juntos Campinas
O Carnaval é uma das maiores festas populares de nosso país. Milhares de pessoas, de diferentes realidades, regiões e bairros se encontram nas ruas para se divertir e manifestar nossa cultura. Mas em Campinas não tivemos o mais do mesmo este ano. Principalmente por termos vivido mais um momento de extremada violência policial na cidade. Na madrugada desta terça, no distrito de Barão Geraldo, sob a pretensa justificativa de depredação e saque de lojas, bancos e supermercados, a PM e sua tropa de choque em conjunto com a Guarda Municipal usaram de bombas e bala de borracha para dispersar as centenas de pessoas que curtiam os blocos de carnaval e festas do dia.
O motivo, ainda que seja real (não há nada que comprove se as ditas ‘depredações’ foram causa ou consequência da ação policial), jamais será capaz de justificar a intervenção militar nas ruas ocupadas pela folia de carnaval. O fato é que há uma ação organizada do Estado brasileiro para impedir as manifestações políticas e, agora, culturais, como forma de limitar o acesso da juventude e do povo trabalhador aos espaços da cidade.
Manifestações, FIFA e reação
Sabemos que há em curso em nosso país, e também no mundo, uma disputa pelo que será nosso futuro. No Brasil, em particular, há uma série de iniciativas do Estado brasileiro, através de seus governos nas esferas federal, estaduais e municipais, para garantir a realização do maior e principal evento privado que é a Copa do Mundo da FIFA. Bilhões de reais são gastos dos cofres públicos para atender as exigências da entidade que pretende lucrar rios de dinheiro às nossas custas. Indiretamente, essa foi a razão dos levantes de Junho do ano passado.
O fato de vivermos uma ação extremada de uso da força policial e militar na cidade e também durante o carnaval é um forte sintoma da reorganização da violência de Estado. Em Campinas, desde o ano passado, uma série de eventos demonstram os interesses daqueles que dominam nossas vidas e que colocam a cidade em um posto (nada) privilegiado de crimes cometidos pelo Estado.
A primeira delas é a resposta que o governo municipal, através do presidente da Câmara de Vereadores, Campos Filho deu aos manifestantes que lutam pelo transporte público da cidade. Na onda de ocupação de câmaras municipais, estivemos lado-a-lado com outros grupos e ativistas na ocupação pela abertura da caixa preta do busão. O saldo foi a detenção de 132 ativistas e nenhum esclarecimento pelo poder municipal. Logo após, em Dezembro, foi oficializada a criação do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), com função similar à ROTA. Em janeiro agora, ocorreu a chacina de aproximadamente 14 pessoas, em sua maioria jovens, nas periferias da cidade e que a ampla maioria das pessoas e até mesmo os órgãos midiáticos acreditam (por inúmeras evidências) que tenha sido praticado por grupos de extermínio da polícia.
Qual é o nosso espaço?
O que aconteceu no carnaval foi mais uma demonstração de que a força policial e militar está sendo e será cada vez mais usada pelos governos para manter as pessoas em seus ‘devidos’ lugares. Toda e qualquer tentativa de enfrentamento ao movimento em curso em nosso país com os megaeventos, a real ocupação dos espaços da cidade pelos mais variados interesses e necessidades da maioria contra a ordem estabelecida será atacado seja pelas forças policiais e militares, seja pela grande mídia que apenas reproduz o coro preconceituoso e excludente de uma minoria.
Da nossa parte, seja em atos políticos, todos os tipos de rolezinhos que damos por aí e agora até mesmo na resistência pra curtir as festas populares, a juventude seguirá na luta para vencer a batalha das ideias por um novo futuro, pela ocupação dos espaços públicos da cidade e pelos direitos da maioria de jovens e trabalhadores explorados e oprimidos. Também seguiremos reivindicando pela imediata Desmilitarização da PM!
Com as diferentes batidas, pegadas e origens, mas através de um sonho coletivo de uma sociedade radicalmente diferente, justa e igualitária, iremos organizar nossa indignação e manter, com cada vez mais firmeza, nosso bloco na rua.