Estamos com as barricadas de Itu
Em São Paulo já são milhares as reclamações de falta de água. 60% da população diz que já faltou água na sua casa nos últimos trinta dias. Enquanto isso, no condomínio onde Alckmin tem apartamento, cinco piscinas são mantidas cheias.Itu nos dá um exemplo de resistência e luta.
*Por Giulia Tadini
A cidade de Itu, com cerca de 163 900 habitantes, vem dando um exemplo de resistência e luta no estado de São Paulo. A população enfrenta racionamento e falta de água a meses. É comum que casas fiquem 10, 15 dias sem água. Os caminhões-pipa tem que ser escoltados, e os preços da água sobem, e estão superfaturados. O problema é recorrente na cidade há anos, não só no período de estiagem.
Mas agora chegou ao limite. São atos, ações diretas, queima de pneus e barricadas, sem exagero, quase todos os dias, nos bairros, de forma completamente espontânea.
A rede de água de Itu enfrenta vazamentos e falta de investimentos. A água da cidade foi privatizada há nove anos. E a empresa vencedora não tinha nenhuma experiência em gestão da água. Mas foi financiadora de campanha do ex-prefeito e agora deputado.
A população reivindica que o prefeito Antônio Luiz Carvalho Gomes – Tuíze (PSD) declare calamidade pública, algo que já foi pedido pelo MP-SP, mas que foi ignorado por ele. Nem sequer as regras de racionamento vêm sendo cumpridas. Além disso, eles pedem o fim da concessão e a participação popular na gestão da água.
Nessa segunda estive em Itu, uma cidade que acorda e dorme em chamas. O lema é “se não tem água em casa, não tem água pra apagar o fogo”. Os moradores, principalmente dos bairros periféricos se organizam espontaneamente para colocarem fogo em pneus, galhos e até em sofás, no meio das ruas. Só na noite de ontem, quatro pontos na cidade, inclusive no portal de entrada.
Se não tem água, tem fogo. O ato que acompanhei foi na “Bica D’água”. O local é conhecido por toda a população por ser um dos únicos que sempre tem água. Por conta disso, filas são feitas para que os moradores possam encher os galões em apenas três torneiras. Não há nenhuma organização por parte da prefeitura. Tem gente que vai de madrugada porque a fila é menor. Mas são raros os momentos que não tem fila.
Conversei com um dos moradores que estava montando a barricada neste local que me relatou “sabemos que só esses atos de botar fogo não vão resolver todos os problemas, mas queremos chamar a atenção”. Eles se organizam pela internet, com as outras pessoas dos bairros que estão indignadas formando uma rede. Mesmo com a pouca repercussão na mídia, eles não vão deixar serem esquecidos.
Há uma página “Itu vai parar” que concentra a divulgação das iniciativas na cidade. Porém há uma dificuldade de organização centralizada por conta da repressão. Os manifestantes foram duramente reprimidos pela guarda municipal e pela PM, inclusive com relatos de tortura dos manifestantes presos.
Porém os moradores não vão parar. Eles querem medidas concretas. A cidade vai queimar até serem atendidos. Já se completou uma semana em chamas.
Todos os movimentos, coletivos e entidades devem acompanhar e se solidarizar. O que ocorre em Itu é um exemplo do que pode vir acontecer em outras cidades. Em Bauru barricadas de fogo já foram feitas na última sexta-feira. Também em um bairro periférico que está sem água.
Em São Paulo já são milhares as reclamações de falta de água. 60% da população diz que já faltou água na sua casa nos últimos trinta dias. Enquanto isso, no condomínio onde Alckmin tem apartamento, cinco piscinas são mantidas cheias.
Itu nos dá um exemplo de resistência e luta.
*Por Giulia Tadini correspondente especial em Itu do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos.