Campeões Do Carnaval 2014, Garis Voltam À Avenida Nesta Quarta-Feira
Categoria mobiliza protesto e chama sociedade para lutar contra “demissões e privatização da Comlurb”.
Por Caetano Manenti*
Assim como aconteceu durante o Carnaval 2014 – nos primeiros dias de março – parte dos garis do Rio de Janeiro estará nas ruas, nesta quarta-feira, para protestar. Categoria simpática aos cariocas e aos movimentos sociais mobilizados, a expectativa é que haja uma grande adesão à passeata, que está marcada para as 4 horas da tarde, a partir da Igreja da Candelária, no centro.
Vitorioso na campanha salarial do início do ano, o grupo, que não é ligado à direção do sindicato, agora têm novas bandeiras. Quem conta é Célio Viana, uma das principais lideranças entre os garis.
– Essa passeata é referente à privatização que está querendo ocorrer dentro da Comlurb. A Comlurb está procurando precarizar o serviço para privatizar. Privatizando, haverá várias demissões dos trabalhadores.
– Quais indícios vocês têm de que a Comlurb está sendo privatizada?
– Vejamos: o Porto Maravilha hoje é um consórcio, de Eike Batista, Odebrecht e etc. Já descaracterizaram os uniformes dos trabalhadores que trabalham nesta área. O uniforme da Comlurb sempre foi da cor coral. Hoje o trabalhador do Porto Maravilha trabalha de azul. Ele já não tem visibilidade como gari. Eles ainda carregam no uniforme o logotipo do Porto Maravilha. O empregado que trabalha no Porto Maravilha, além de ter um encarregado da Comlurb, que toma conta do seu serviço, ainda tem o pessoal do Porto Maravilha.
Para Célio, ainda existem outros fatos que indicam uma privatização da Companhia.
– Os caminhões da empresa são terceirizados. Os motoristas, terceirizados. O tele-atendimento ao empregado da empresa, terceirizado. Recepção, terceirizada. As pessoas que controlam os locais onde jogamos o lixo, terceirizadas. Ou seja, a empresa está sendo privatizada de dentro para fora.
O curioso é que, durante a paralização do carnaval, o próprio prefeito Eduardo Paes alegava que as intenções grevistas eram privatistas. Para o prefeito, grupos de oposição, como o de Anthony Garotinho, faziam lobby para a coleta de lixo do Rio ser entregue à iniciativa privada, como ocorre em muitas capitais brasileiras.
A maior preocupação de Célio é com as demissões que a privatização de serviços pode acarretar. Aliás, para ele, 2014 tem sido um ano anormal em relação ao volume e ao caráter das demissões. Ele reclama que nem a direção da empresa, nem o sindicato fornecem os dados precisos dessas ocorrências, mas que, através de conversas, é possível perceber que o engajamento do início do ano ocasionou um acirramento das relações de alguns funcionários com a diretoria da companhia, resultando em demissões.
A passeata desta quarta-feira ainda quer fazer pressão para uma mudança significativa no vínculo trabalhista da categoria. Hoje em dia, os garis são servidores públicos celetistas – ou “empregados públicos”. Isso significa que suas relações de trabalho atendem às normas da CLT, ao contrário dos servidores públicos estatutários, que têm um estatuto próprio na relação com o ente público empregador, no caso, a Prefeitura. Invariavelmente, o servidor público estatutário goza de muito mais estabilidade em seu cargo.
– Queremos ser um servidor público normal. A Guarda Municipal hoje é estatutária. Ela saiu de dentro da Comlurb e já é estatutária. E nós, que viemos desde a época de D. João VI, não somos– ressalta Célio Viana.
A reportagem tentou contato com a direção da Comlurb para saber a opinião dela sobre as pautas da passeata. Ao telefone, a assessoria de imprensa pediu o envio de um email, que, infelizmente, não foi respondido.
Pelas redes sociais, Célio vem empolgando quem pode a participar do ato desta quarta-feira. Pela combatividade da greve dos garis em março, ele e outros colegas tornaram-se símbolos das lutas populares do Rio de Janeiro neste ano de 2014. Estiveram ao lado dos professores nas greves de maio, com a Mídia Ninja na construção de espaços alternativos de debates e ainda deram apoio aos sem-tetos de São Gonçalo na ocupação de novembro. Nesta segunda-feira (8/12), os garis foram homenageados pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Na esperança de ser um catalisador de indignação popular, o ato desta quarta-feira também quer se opor à “criminalização das greves, ao aumento das passagens, à ocupação do Exército na Maré, às remoções e ao genocídio do povo índio, preto, pobre e favelado”.
Felipe Aveiro é jornalista e militante do Juntos! e garante que o grupo estará ao lado dos garis nesta quarta-feira.
– É importante que a juventude e o movimento estudantil estejam ao lado dos trabalhadores que lutam por seus direitos. É fundamental que saibamos que a luta é deles, mas podemos ser aliados e ajudar no que for possível. Não podemos esquecer da importância que a Greve dos Garis teve esse ano, uma categoria precarizada que, no meio do Carnaval – contra um sindicato pelego, contra o governo e o poder da mídia – conseguiu uma luta vitoriosa, que foi uma verdadeira lição, não apenas para a juventude, mas também para outras categorias, como os professores, que muito se inspiraram na coragem e perseverança dos garis.
Para lembrar dos dias históricos da greve de março, acesse a reportagem: https://juntos.org.br/2014/03/na-noite-das-campeas-o-gari-desfila-como-o-grande-vencedor-do-carnaval-2014/
O que: Passeata dos garis
Quando: 16h desta quarta-feira (10/12), a partir da Igreja da Candelária