O que daria para fazer com o aumento dos salários dos políticos do sistema?
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O que daria para fazer com o aumento dos salários dos políticos do sistema?

Trata-se de um descompasso completo com o que é o nível médio de vida dos brasileiros. Além disso, os reajustes significarão um acréscimo de cerca de 2,85 bilhões de reais por ano nos gastos públicos. O que será que a presidenta Dilma e Joaquim “Mãos-de-Tesoura” têm a dizer sobre isso?

Pedro Serrano 18 dez 2014, 09:15

*Pedro Serrano

Pelas costas do povo, Câmara e Senado aprovaram, nesta quarta-feira (17), um absurdo aumento de salário para eles mesmos! Todos os membros dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, além do Ministério Público, terão reajustes salariais que variam de 15% a 26%, elevando suas remunerações para cifras superiores a 30 mil reais por mês!

Trata-se de um descompasso completo com o que é o nível médio de vida dos brasileiros. Além disso, os reajustes significarão um acréscimo de cerca de 2,85 bilhões de reais por ano nos gastos públicos. O que será que a presidenta Dilma e seu novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conhecido como Joaquim “Mãos-de-Tesoura” por sua obsessão por cortar investimentos nas áreas sociais, têm a dizer sobre isso? Certamente, nada. Pois foi o próprio PT, em conjunto com os chefes do Legislativo (PMDB) e em unidade com a oposição de direita (PSDB e cia), que costurou estes absurdos aumentos. Apenas o PSOL — como historicamente faz, em sua postura coerente de combate ao sistema — votou contra.

O que daria para fazer com os 2,85 bilhões por ano? Muita coisa. Como estudante universitário, sei que um grande problema nas dezenas de universidades federais é a questão da permanência estudantil. Milhões de estudantes que ingressam, mas não podem se formar, pois não têm seu direito à moradia, à alimentação, ao transporte, às bolsas de auxílio etc., respeitado. A reivindicação do movimento estudantil é que o investimento no PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil) passe dos atuais 650 milhões para 2,5 bilhões anuais. Ou seja, só com o que engordará o bolso dos políticos a partir de 2015 poderíamos resolver (ou chegar próximo disso) o dramático problema de permanência estudantil nas universidades!

Não para por aí. Se fôssemos realizar cálculos do tipo que fazíamos no período da Copa, com os gastos em estádios, poderíamos aferir as dezenas de novos hospitais, de estações de metrô, as milhares de novas escolas e creches que poderiam ser construídas com este dinheiro.

A cara-de-pau dos políticos não é somente uma questão moral (ainda que também seja). Os que estão encastelados nos poderes do Brasil são os mesmos envolvidos nos mais variados escândalos de corrupção, como o da Petrobrás ou o dos cartéis no metrô de São Paulo. Temos uma casta de políticos profissionais que se elege graças ao patrocínio de grandes empresas (como as empreiteiras e os bancos), para depois governar em benefício delas, e não do povo. Assim como em muitos lugares do mundo, também no Brasil temos uma “democracia sequestrada” pelos interesses dos grandes capitalistas, o 1% da sociedade. E nisso se igualam todos os partidos do sistema, sejam os que estão no governo (PT, PC do B, PMDB e cia) ou na oposição de direita (PSDB, DEM, PSB etc).

Diante do rechaço que o povo tem pela política, depois de retomadas as manifestações e greves com junho de 2013, e diante das perspectivas econômicas pessimistas para o país, o que deve afetar o salário e o emprego dos trabalhadores, é mesmo muita ousadia o Congresso Nacional aprovar o que aprovou ontem!

Parece que os políticos do sistema, no Brasil e no mundo, têm “memória curta”. Passam rapidamente do medo, quando o povo está na rua, para o golpe desavergonhado às vésperas do Natal. O mesmo se pode dizer a respeito do governo de Dilma e do PT, que, nas eleições, promete benefícios para o povo, mas depois faz tudo como sempre em aliança com a direita.

As “mãos-de-tesoura”, que cortam para o povo, são as mesmas que aplaudem os benefícios para os políticos e empresários. Mas no ano que vem nos veremos nas ruas. Vamos cobrar a conta. Por questão de coerência, nenhum trabalhador merecerá um reajuste menor do que 26% de seus salários.

 

*Pedro Serrano é membro do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos!

 

 

 


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