LGBTfobia: a luta vai além da criminalização
Criminalizar uma atitude não é a única forma de demonstrar o quanto ela é primitiva e problemática. Mas confrontá-la é o modo mais curto de cansar e gerar uma reflexão. O nome disso é politização – e vai além de qualquer punição, pois é a prevenção.
Lembra que admitimos, ainda acima, que a sigla está em repercussão midiática? Mas por que dizer “a sigla” e não “o movimento”? Tem uma diferença aí. É porque nossas emissoras de TV (que também são donas de jornais impressos, sócias de revistas, donas de portais na internet, etc), não coincidentemente, são tão conservadoras quanto nosso legislativo. Todxs sabemos que isso não é uma solicitação da moral, dos princípios e dos bons costumes (vide escândalos de corrupção, políticos ladrões em nome de Deus e etc). Isso é uma solicitação para a manutenção do status quo. Resultado: o movimento não consegue incorporar-se à mentalidade regente.
Mas por que a sigla repercute? Ela é um acessório para a imprensa, para os políticos, para o patriarcado. Só que para nós, não! Para nós é coisa séria. E foi justamente o caráter de politização que afastou a sigla atual da anterior.
Assim, a luta contra a LGBTfobia não está estagnada nas pautas do casamento igualitário nem da criminalização da homofobia somente. São pontos importantíssimos? São. Só que a ingênuidade não permeia mais o nosso movimento! A gente sabe que não é legislação, sozinha, que vai mudar aquele velho modo de pensar dos mais de 86,8% de cristãos brasileiros – de acordo com o censo 2010 do IBGE. Aquele, que diz que “Deus fez a mulher para o homem”.
Então, o que pode mudar essa mentalidade? O movimento não é desesperançoso e, embora saibamos que o tempo seja fator preponderante, a marcha vai seguir em frente. Quando falamos em movimento, não é a só a reivindicação frontal, mas também a manutenção da nossa coragem, o apoio que nos damos, o nosso empoderamento. É a nossa autonomia! A criminalização é uma demanda de proteção e isso só alarma para os perigos que esta sociedade heteronormativista e machista alastra.
Isto é, queremos ações na educação básica, casamento civil igualitário, políticas públicas de regulação social a partir de instrumentos governamentais, participação social dos nossos grupos. Queremos ir e vir, ficar, fazer, saber, amar, estar e aparecer. Queremos ser! Sabe por que? Porque criminalizar uma atitude não é a única forma de demonstrar o quanto ela é primitiva e problemática. Mas confrontá-la é o modo mais curto de cansar e gerar uma reflexão. O nome disso é politização – e vai além de qualquer punição, pois é a prevenção.
Portanto, a reunião de esforços precisa começar na base. Tem que começar lá onde estão os indivíduos em formação. O movimento LGBT já entrou na Universidade! Agora, UNE, vamos reconhecer isso e cumprir com as demandas. O tempo urge e nosso povo sofre.
Marielle é estudante do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFRN e militante da setorial LGBT do Juntos.