Cresce a luta dos trabalhadores do RS contra o ajuste e o pagamento da dívida pública
Diante do pacote de ajustes de Sartori, não há outro caminho senão a mobilização unificada dos trabalhadores e da juventude. O dia 18 de agosto foi um marco e deve servir de exemplo.
Por Nathi Bittencurt, Julio Câmara e Guly Marchant.
Há uma semana os servidores públicos do estado do Rio Grande do Sul protagonizaram um dia histórico de luta da categoria. O dia 18 de agosto foi marcado por intensas mobilizações que reuniram mais de 30 mil trabalhadores do estado, das mais diversas categorias, contra o ajuste e o arrocho salarial aplicado pelo governador José Ivo Sartori (PMDB). Nas primeiras horas do dia os educadores da rede estadual deram uma aula de cidadania ao lotar o ginásio do Gigantinho com delegações de todo o estado, e deflagrar greve por três dias em uma assembleia com cerca de 13 mil professores. A greve de 3 dias ainda que curta frente ao ataques enfrentados foi o reflexo de uma proposta unificada que, mais tarde, seria aprovada em assembleia geral dos servidores públicos do estado. O dia que começou com assembleias culminou em um ato com policiais, bancários, professores e outras categorias que tomaram as ruas do centro de Porto Alegre para defender seus direitos. A resposta do governo Sartori foi corte de ponto e mais arrocho, com a chance de pagar apenas R$ 500,00 no próximo pagamento.
A crise econômica é usada como justificativa para as medidas de ajuste.O pacote de austeridade segue com propostas de privatizações que incluem a venda da Companhia de Energia Elétrica do Estado e desmanche do serviço público com a iniciativa de extinguir fundações como a Fundação Zoobotânica (FZB), a de Produção e Pesquisa em Saúde (FPPS) e de Esporte e Lazar do Rio Grande do Sul (Fundergs). Tanto o ajuste de Sartori como o de Dilma e Levy são escolhas dos governos, esta é a forma de fazer com que o povo pague a conta de uma crise e sofra suas consequências a fim de manter os lucros dos grandes capitalistas. Precisamos questionar por que se parcela salários enquanto 13% do orçamento do estado segue servindo a pagamento da dívida pública? Por que se corta 20% os investimentos da educação, saúde e segurança e se deixa impune a sonegação de impostos de empresas como a RBS e Gerdau, investigadas na operação Zelotes?
No início do mês o medo dos grandes protestos que se forjavam em relação ao parcelamento dos salários fez o pmdbista atrasar o pagamento da dívida do RS com a União, trazendo a tona um debate fundamental em tempos de austeridade: Que dívida é esta, que já pagamos e ainda devemos? Ao atrasar o dinheiro para o governo federal e ter o repasse orçamentário bloqueado para o estado, Sartori apontou uma das possíveis soluções políticas sobre o tema polêmico da dívida dos estados. Diferentemente do que é repetido pelos, sabemos que há dinheiro nos cofres do RS que tem sido aplicado de acordo com as opções políticas dos governos. Na última semana deputado estadual Pedro Ruas (PSOL) deu início a Frente Parlamentar pela suspensão da dívida pública, uma medida que visa auditar e conhecer os reais valores dessa dívida que cresce na base de juros sobre juros. É preciso suspender este pagamento imediatamente para auditar as contas do estado, sem pôr em risco o salário – já muito baixo – dos trabalhadores e os serviços públicos afetados com o bloqueio do repasse orçamentário.
A mobilização da juventude tem papel fundamental nessa luta e o ato do dia 11 de agosto colocou mais uma vez que o dia do estudante é dia de luta e que a unidade entre professores e estudantes é fundamental para a defesa do ensino público. A prova disso são as centenas de jovens presentes nas mobilizações. No ensino público o sucateado e a baixa estima.de professores já uma realidade infelizmente conhecida. Somasse a isso a triste herança deixada pelo governo Tarso Genro (PT) que reestruturou o currículo para transformar as escolas em verdadeiras fábricas de mão de obra barata com o Politécnico, que reduz carga horária de disciplinas básicas como português e matemática e substituí por conteúdos profisionalizante. Nos sete meses de gestão Sartori não só as escolas têm seus problemas aumentados, mas também a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul que convive com a possibilidade de fechamento de cursos. O corte de 20% nas áreas sociais, somados com o corte de R$ 10,4 do governo federal colocam uma interrogação sobre a educação no estado, a cada ano a qualidade do ensino cai mais, seja pela falta de investimento em estrutura das escolas, seja pelo não pagamento do piso salarial dos professores desmotiva a categoria.
O dia 18 de agosto foi um marco e deve servir de exemplo. A tentativa de Sartori de conter os ânimos dos grevistas com o pagamento da “segunda parcela” do salário não funcionou, pois o sindicalismo gaúcho sabe que ainda existem pacotes de privatizações extinções de órgãos públicos esperando votação na Assembleia Legislativa e o anúncio de que os servidores devem receber apenas R$ 500,00 deixa claro que o governo estadual está disposto a sacrificar o funcionalismo público e seguir pagando a dívida pública. Nessa conjuntura não há outro caminho senão a mobilização unificada dos trabalhadores e da juventude. É preciso inverter a lógica que cobra dos pobres e beneficia os ricos, é preciso suspender e auditar a dívida pública que entrega o dinheiro dos gaúchos para os banqueiros fazendo com que não sobre nem para pagar o salário dos nossos professores. Enquanto o governo priorizar o enriquecimento dos mais ricos em virtude dos trabalhadores e serviços públicos, o movimento estudantil e os trabalhadores seguirão firmes na luta contra o ajuste.
* Nathi Bittencurt, Júlio Câmara e Guly Marchant são do Juntos! RS e do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos.