Reacender o Movimento Estudantil da USP
Não podemos acreditar que esse momento de apatia em que o movimento estudantil da USP se encontra, seja definitivo.
A geração de estudantes, que está agora na universidade, enfrenta um momento inédito, fruto do encontro das crises econômica, política e social capitaneadas por Jair Bolsonaro e da crise sanitária do coronavírus. A política negacionista e de pressão pela flexibilização encampada pelo presidente, agora encontra espaço também entre os governadores. Mesmo nesse cenário difícil, as universidades vêm prestando um serviço fundamental no combate à pandemia e, apesar dos inúmeros ataques por parte dos ministros da educação, mostram a importância do seu papel na sociedade, produzindo EPIs, respiradores, testes e estudando vacinas.
Entretanto, mesmo com a queda de Abraham Weintraub, a educação não passará a ser prioridade, nem no governo federal, tampouco no estado de São Paulo. Diante da pandemia e da necessidade da quarentena, a reitoria da USP, pressionada por João Doria, adota medidas irresponsáveis, como a demissão de trabalhadores terceirizados e a suspensão de contratações de professores, e não consegue estabelecer uma política de apoio aos estudantes mais vulneráveis nesse momento, que precisam se isolar em moradias estudantis precárias, sem alimentação adequada ou muitos daqueles que não conseguem acompanhar o ensino remoto improvisado pela reitoria. Em meio a tantos outros momentos difíceis que já atravessamos na USP, o movimento estudantil buscava dar respostas e mobilizar os estudantes contra os ataques das reitorias e dos governos. Não podemos, portanto, acreditar que esse momento de apatia em que o movimento estudantil da USP se encontra – e quem vem de antes da quarentena – seja definitivo.
Com uma crise orçamentária se avizinhando, devido a queda de arrecadação das estaduais paulistas, as propostas de Vahan e de Doria serão ainda mais cortes, mais precarização e menos assistência aos que mais precisam – e numa pandemia essa combinação pode gerar um colapso na universidade. Entretanto, o movimento estudantil, infelizmente, não pode mais esperar qualquer tipo de iniciativa do DCE Livre da USP, que não vem estabelecendo um diálogo cotidiano com a maioria dos estudantes e sequer tem previsão de uma assembleia geral.
No Conselho de Centros Acadêmicos ocorrido no último dia 27, e convocado muito tempo após o início da quarentena, nós do Juntos, em conjunto com outros coletivos e diversos centros acadêmicos dos campus da capital e dos interiores, apresentamos uma Carta de Reivindicações com um programa emergencial para a USP, que prevê a necessidade de reivindicar mais verbas públicas para a garantia do caráter público, de qualidade e gratuito da universidade, e que seja também mais democrática.
Reivindicamos que não haja retrocessos em permanência estudantil, além de defender medidas de inclusão digital de alunos com condições desfavoráveis de acesso à internet e computadores e com instalação imediata de internet nas residências estudantis. Reacender o movimento estudantil da USP nesse momento, com uma ampla campanha de estudantes, coletivos e centros acadêmicos significa enfrentar um plano cruel que reservam para nossa universidade e que, se posto em prática, afetará diretamente o seu funcionamento e sua qualidade, além de sua produção científica e pesquisa.
Mas essa crise recairá, principalmente, sobre os estudantes pobres, negros e indígenas, que historicamente já tem que lidar com uma política de permanência estudantil insuficiente e precária. Por esses estudantes, mas por todos os outros e por uma universidade pública, gratuita, de qualidade e democrática que o movimento estudantil da USP precisa assumir seu desafio, e mesmo sem um DCE presente e atuante, destravar uma potente mobilização em meio a esse momento difícil em que vivemos.
Nos próximos dias, iremos construir a campanha Nenhum Estudante Fica Para Trás, que busca divulgar a carta de reivindicações construída coletivamente e aprovada no CCA, acolhendo mais demandas de cursos e campus, para que seja protocolada na reitoria. Seguiremos pressionando o reitor por respostas e um plano emergencial para a USP e uma campanha articulada entre estudantes, centros acadêmicos, DCE e coletivos é fundamental para essa pressão.