UnB e Israel: conivência com o apartheid em nome da Ciência
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UnB e Israel: conivência com o apartheid em nome da Ciência

Não podemos fechar os olhos para o que ocorre na Palestina. O sionismo do Estado de Israel mata milhões de palestinos e transforma a vida das pessoas em um pesadelo constante. Qualquer acordo que ajude a fortalecer as políticas israelenses precisa ser rejeitado.

Eduardo Theodoro 1 abr 2021, 14:28

Recentemente, a reitora da universidade de Brasília anunciou com entusiasmo um encontro com o embaixador de Israel e o fortalecimento das relações com empresas israelenses. Na visão da reitoria essa aproximação aumenta o prestígio internacional da UnB, ajuda a melhorar os indicadores acadêmicos da universidade e amplia a convergência entre academia e sociedade. Em meio a tantos benefícios, parece ser irrelevante o regime de apartheid que Israel impõe aos cidadãos palestinos.

Antes de se iniciar o debate é preciso esclarecer que ele não gira em torno da religião judaica ou do povo judeu. O problema aqui é o sionismo, movimento que se inicia com o objetivo de garantir o direito à autodeterminação do povo mas que se transforma em uma ideologia colonizadora. Não podemos resumir a questão da Palestina a uma disputa religiosa ou uma guerra por território. A colonização faz com que o colonizado não seja visto como humano, muito menos como alguém digno de respeito. 

O processo de formação do Estado de Israel é marcado por sangue e uma correlação desleal de forças desde seu início. A região da Palestina abrigava diversos povos diferentes e, até o começo do século XX, os judeus correspondiam a uma minoria esmagadora da população. Durante a colonização inglesa, na década de 1920, os judeus começam a comprar sistematicamente terras no território e o sionismo aperta seus laços com os colonizadores. Por meio da declaração de Balfour, os ingleses se dispuseram a partilhar o território com lideranças sionistas.

Após os horrores do nazismo, a ONU consolidou a partilha desses territórios entre os judeus. O grande problema é que ‘uma terra sem povo para um povo sem terra’ nunca existiu e a conquista do território para o ‘povo sem terra’ só era possível por meio da força. Com a chancela das grandes potências os judeus sionistas, em 1947, deram início a um período de terror para retirar os povos árabes de seu território, afinal o Estado Sionista não pode ter minoria judia. No ano de 1948, em meio à chacinas em diversas vilas, mais de 700 mil palestinos fugiram da região para se abrigar em países vizinhos. Esse êxodo em massa ficou conhecido como Nakba, palavra árabe para ‘catástrofe’.

Após as guerras contra os árabes em 1967/68, Israel passa a ocupar ilegalmente territórios da Cisjordânia e de Gaza. Eles seguem esse projeto de expansão e ocupação ilegal até os dias de hoje. É importante destacar o papel do Imperialismo nesse processo, já que manter a influência sobre a região é extremamente conveniente para manutenção de seus interesses. Em 2016, por exemplo, Estados Unidos e Israel firmaram um acordo em que os EUA fornecerão, anualmente, US$ 3.8 bilhões para ajudar na ‘defesa’ do Estado israelense durante 10 anos, entre 2019 e 2028.

Dizer que os palestinos vivem sob um regime de apartheid não é nenhum exagero. A agência de direitos humanos israelense B’Tselem declarou que Israel é um regime de apartheid e relatou a política de supremacia étnica imposta pelo Estado. A adesão de diversas figuras públicas, intelectuais e políticas ao BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), movimento de combate ao regime sionista deveria ser um alerta em relação ao absurdo que ocorre na região da Palestina.

Para entender o regime de apartheid israelense convém dividir a relação entre Israel e palestinos em 4 grupos, como ilustrado pelo relatório da B’Tselem. Temos os cidadãos palestinos com nacionalidade israelense, os que estão na região de Jerusalém Oriental, os da Cisjordânia e os de Gaza. O nível da barbaridade aumenta em relação a cada um desses grupos.

Os cidadãos palestinos com nacionalidade israelense correspondem a 20% da população e, mesmo que possam ocupar cargos políticos, não possuem os mesmos direitos que os cidadãos judeus. Palestinos que estão na diáspora, por exemplo, enfrentam inúmeras dificuldades ao tentar retornar para suas terras, enquanto o governo incentiva a vinda de judeus. As regiões de maioria árabe recebem menos investimentos e diversos territórios árabes nem são reconhecidos pelo Estado, portanto não recebem investimento público. Israel gasta 35% a mais com os cidadãos judeus, os árabes recebem menos de 7% dos recursos e não podem realizar manifestações questionando o caráter étnico do Estado. 

Os palestinos que vivem em Jerusalém Oriental -região dividida por um muro e que abriga cerca de 350.000 pessoas- são constantemente expostos a políticas de demolições, grande parte dos que tentam obter cidadania israelense tem o pedido negado e a limpeza étnica segue a todo vapor, tornando as condições de moradia insustentáveis para os árabes na região.

Os 2.7 milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia, estão sob o jugo militar israelense e não possuem direitos políticos. O Estado Palestino é subordinado a Israel e as vilas palestinas vão sendo ilhadas, o território fragmentado e cercado por muros para separar as terras de árabes e dos colonos. De acordo com a Anistia Internacional, cerca de 85% dos muros estão em território palestino. Na região de Gaza, sitiada por Israel -basicamente uma prisão a céu aberto-, cerca de 30% da população vive abaixo da linha da pobreza e 90% da água consumida não está nos padrões adequados de consumo. A distribuição de eletricidade e água é completamente controlada por Israel e o consumo de água é quatro vezes maior que nas áreas palestinas.

Durante a pandemia, o sionismo teve mais uma chance de mostrar sua face genocida. Enquanto Israel é tratada como um exemplo de campanha de vacinação no mundo, vacinando -até o final de fevereiro- 50% da ‘sua’ população com uma dose e 30% com duas, apenas 0.8% dos palestinos haviam sido vacinados. Israel não apenas se isentou da responsabilidade de vacinar o povo árabe que vive nos territórios ocupados como impediu que as vacinas chegassem até a população. Para fins de comparação, as chances de você ser vacinado em Israel é 60 vezes maior do que na Palestina.  

O sionismo mata independente do espectro político dos seus agentes. Precisamos estar atentos e fortalecer a luta contra o regime de apartheid israelense, lutar pelo direito à terra e à vida dos povos palestinos e rechaçar qualquer iniciativa que contribua para a manutenção desse regime. O nosso desenvolvimento científico não pode fortalecer a morte e a expropriação de terras palestinas.

Claro que a cooperação internacional é importante para o desenvolvimento da Ciência, mas é preciso estar atento em relação a quem são seus parceiros e o que essa parceria implica. A UnB não pode fechar os olhos para o que acontece na Palestina. Não podemos ser coniventes com o genocídio em nome de um dito progresso científico. As universidades também possuem um papel fundamental na luta contra as opressões e no desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária. A Universidade de Brasília precisa ser um exemplo positivo nesse combate, não se aliar a quem governa por meio da barbárie.


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