A conjunção mortal de Bolsonaro, CBF e Conmebol
Jair Bolsonaro, Rogério Caboclo, Coronel Nunes e Alejandro Dominguez são os verdadeiros responsáveis pela estupidez criminosa de realizar a Copa América no país epicentro da pandemia de Covid-19 no mundo.
“A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia. Por sorte ainda aparece nos campos, embora muito de vez em quando, algum atrevido que sai do roteiro e comete o disparate de driblar o time adversário inteirinho, além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade.”
Eduardo Galeano
De forma inacreditável, a Copa América de 2021 está sendo disputada no Brasil. A explosão de casos positivados de Covid-19, as quase meio milhão de mortes de conterrâneos brasileiros, o colapso sanitário, nada disso impediu o governo Bolsonaro de responder urgente e favoravelmente ao e-mail do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, exigindo que a competição fosse realizada no país.
Logo após o povo colombiano ter rejeitado a realização do evento no país, a partir da grande revolta popular que se iniciou final de abril e se estende até hoje; e o governo argentino ter rejeitado a competição com o aumento do número de casos de Covid-19 na Argentina, Bolsonaro aceitou sediar a 4ª Copa América em cinco anos no Brasil. Evidentemente essa costura política da morte passou pelas mãos de Rogério Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e foi abraçada pelo genocida Jair Bolsonaro.
Acusado de assédio moral e sexual por sua ex-secretária, Caboclo foi afastado do mais alto cargo da CBF. Os jogadores da seleção masculina, quando tiveram a oportunidade de entrar para a História rejeitando a participação neste torneio, foram covardes, recuaram de uma posição de maior enfrentamento e, portanto, não surpreenderam. O gol de placa, por óbvio, veio da seleção brasileira feminina que, antes do jogo contra a Rússia, entrou em campo dando o recado aos poderosos Cartolas (que rejeitam, mas comandam o futebol), em geral, e, especificamente, ao Caboclo: ASSÉDIO NÃO. Além do grave caso de assédio, o agora presidente afastado da CBF é investigado em diversos escândalos de corrupção, situação semelhante aos três últimos comandantes da entidade, Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, banidos do futebol pela FIFA.
O afastamento de Caboclo é importante, principalmente pelo passado de impunidade dos dirigentes da CBF, sempre extremamente blindados dos escândalos de corrupção que cercam a mais alta cúpula do futebol brasileiro. É uma vitória de quem ama o futebol e acredita que o esporte é muito maior que qualquer dirigente corrupto. Caboclo é inimigo do futebol, assim como foram seus antecessores a frente da entidade brasileira
No lugar de Caboclo, assume interinamente a CBF o Coronel Nunes. Sim, um coronel. Antônio Carlos Nunes já havia assumido o comando da entidade e ficou nacionalmente conhecido por ter votado no Marrocos como sede oficial da Copa do Mundo de 2026, quando o acordo entre as entidades de futebol da América Latina era apoiar a candidatura de Canadá, Estados Unidos e México. Não há como ter esperanças de que os rumos da principal entidade de futebol do Brasil serão melhores sob o comando de Nunes. Além de ser amigo íntimo de Marco Polo Del Nero, banido do futebol, Coronel Nunes foi comandante militar e prefeito biônico de Monte Alegre (PA) – ou seja, foi investido no cargo sob a égide da Ditadura Militar brasileira, com a ausência do sufrágio universal. Além disso, Nunes liderou, na década de 1970, uma escalada de violência em Santarém (PA), inclusive com relatos de missões de extermínio dos povos indígenas.
O novo presidente da CBF, Coronel Nunes, se incorporou à PM do Pará na década de 70. Liderou em Santarém uma escalada de violência, com relatos de missões de extermínio dos povos indígenas. A queda de Caboclo é importante, mas agora Bolsonaro tem um fantoche perfeito no poder.
— Vivi Reis (@vivireispsol) June 6, 2021
Evidente que a Copa América de 2021 foi enfiada goela abaixo dos brasileiros por motivos puramente econômicos. Renderá milhões de dólares para a Conmebol e a CBF. Só com os direitos de transmissão (comercializados para emissoras) e patrocínios, a Confederação Sul-Americana de Futebol receberá cerca de 120 milhões de dólares – o equivalente a 25% de todo o faturamento anual da entidade. A CBF, por sua vez, lucrará outros milhões de dólares com os direitos da transmissão das partidas da Seleção Brasileira. Aliás, não é por acaso que o SBT está transmitindo os jogos da Copa América. Fábio Farias, genro de Silvio Santos, é chefe do Ministério das Telecomunicações do Governo Bolsonaro. Uma grande coincidência.
Isso deve e precisa ser denunciado. Mesmo que o Brasil esteja passando pela mais profunda crise econômica, social e sanitária, com milhares de vidas ceifadas pela Covid-19, enfrentando um dos piores momentos da Pandemia do novo Coronavírus no país, a Conmebol, a CBF e o Governo Bolsonaro, como uma espécie de amálgama mortal do futebol, fizeram acontecer a Copa América no Brasil sem que ninguém fosse escutado ou consultado, ignorando todos os protocolos sanitários de segurança. Até o fechamento desta publicação, em pouco mais de 24 horas do início da competição, já foram registrados 52 casos de Covid-19 entre jogadores, delegação e funcionários da Copa América.
O futebol é o esporte mais popular do Brasil e do mundo. Milhões de pessoas acompanham, torcem, se emocionam e vibram com seus clubes do coração. A brava e complexa luta dos amantes do futebol (jogadores, treinadores, professores e torcedores) precisa estar na direção de um processo profundo de reorganização política do futebol brasileiro, que denuncia o processo eleitoral antidemocrático de escolha da gestão da CBF, que pressiona as direções autoritárias das federações regionais e que influencia nos comandos políticos dos próprios clubes de Série A e Série B.
É necessário, mais do que nunca, unir a luta contra os poderosos e corruptos Cartolas do futebol nacional (pela reestruturação completa do futebol brasileiro) à luta pelo Fora Bolsonaro e por mais vacinas já. O povo brasileiro, amante da cultura do futebol, merece mais. Muito mais.
Por isso, dia 19 de junho estaremos ocupando novamente às ruas, exigindo a queda do governo Bolsonaro, a aceleração da vacinação do país e denunciando os crimes e os escândalos de corrupção da cúpula do futebol nacional.