Temos acompanhado, nos últimos dias, o Caso Lázaro, também conhecido como o serial killer de Brasília, e todo o circo midiático que o envolve. Nos solidarizamos aos parentes e familiares daqueles que foram vítimas dos assassinatos e nos propomos aqui a discutir a respeito do racismo religioso institucional que está acarretando na invasão da Polícia Militar de Goiás a vários terreiros religiosos.
Lideranças de terreiros de Águas Lindas de Goiás, Girassol e Edilândia, todas no estado de Goiás, denunciaram a invasão truculenta da PM a suas casas de axé. O Babalorixá (pai de santo) André Vicente de Souza, 81 anos, realizou um boletim de ocorrência após seu terreiro ser invadido duas vezes durante a semana pela PM de forma abusiva e violenta, segundo o babalorixá “Eles bateram no meu caseiro. Eu disse para eles: quem responde aqui sou eu!”, relatou.
Dentre as invasões cometidas, foi tirada uma foto e espalhada uma grande notícia falsa, a qual informava que Lázaro possuía objetos sagrados frequentemente utilizados em rituais de religiões de matriz africana. Essa fake news certamente foi potencializada pelo racismo existente na nossa sociedade e também como consequência do racismo religioso.
Afirmar que Lázaro comete os crimes que comete porque é Afro Religioso, é racismo religioso, que infelizmente não está apenas sendo endossado pela sociedade, mas também pelos agentes institucionais.
A invasão de nossos territórios sagrados é mais uma violência que sofremos em consequência do racismo religioso e que perdura, infelizmente, por anos.
Enquanto o governo Bolsonaro se sustenta por meio de acordos com líderes religiosos evangélicos que exploram seus fiéis, a Polícia Militar, pela mãos do estado que tem como modus operandi o racismo, permanece violentando territórios sagrados de religiões de matriz africana. Quando invadem terreiros e agridem líderes religiosos, revelam como é dado o tratamento às nossas crenças e nossa ancestralidade. Relembra-se a fiscalização nas “casas de macumba”, que foi assunto das Delegacias de Jogos de Azar, com o objetivo de criminalizar os rituais e objetos sagrados apreendidos.
O comportamento da Polícia Militar no Caso Lázaro transparece como as religiões de matriz africana são tratadas e não são compreendidas como uma religião séria, como compreende Wanderson Flor do Nascimento em seu texto Intolerância ou racismo?.
O povo de terreiro continua exigindo respeito e a vida da sua tradição e seu território sagrado!
Isadora Carvalho é estudante de serviço social, candomblecista e militante do Coletivo Juntos!
Ketson Neres é estudante de pedagogia da UFMG, candomblecista e militante do Coletivo Juntos!