Haddad vai à USP e o Juntos! dá o recado: “7% é proposta de tucano!”
“Vocês conhecem a professora Lisete [diretora da Faculdade de Educação da USP] e sabem que ela nunca mente. Já eu, às vezes, minto”. Dessa forma “descontraída”, o Ministro da Educação, Fernando Haddad, começou sua palestra. Leia mais!
“Vocês conhecem a professora Lisete [diretora da Faculdade de Educação da USP] e sabem que ela nunca mente. Já eu, às vezes, minto”. Dessa forma “descontraída”, o Ministro da Educação, Fernando Haddad, começou sua palestra durante a Semana de Educação da USP, que homenageia os 90 anos de Paulo Freire. O alerta, talvez, nem precisasse ser feito. Basta comparar a pirotecnia publicitária do governo federal sobre a educação com o que dizem estudantes de mais de uma dezena de instituições federais que entraram em greve em 2011, o que dizem os servidores organizados na FASUBRA, que passaram mais de 60 dias em greve sem ter suas reivindicações sequer ouvidas ou os docentes das universidades, que têm insistentemente reafirmado as reivindicações históricas do movimento social da educação enquanto o governo do PT decidiu virar as costas a tudo isso na proposta do novo Plano Nacional de Educação (PNE). A resposta do plenário foi imediata: “Haddad, que porcaria, o Paulo Freire choraria!”
Foram mais de duas horas de exposição do ministro, que falou de tudo, menos do que importava: o governo vai acatar a reivindicação da sociedade civil ou manterá sua política de recursos fartos para o sistema financeiro e migalhas para as políticas sociais? Na verdade, Haddad utilizou a atividade como parte de seu calendário na cidade de São Paulo, onde pretende passar de um ilustre desconhecido a um candidato com potencial eleitoral. Se era essa sua intenção, o ministro se deu mal. A militância do Juntos!, do DCE-Livre da USP, da Oposição de Esquerda da UNE e de diversas outras entidades e organizações do movimento estudantil deram seu recado. Foram diversas palavras de ordem exigindo 10 % do PIB para a educação, apoiando as greves nas instituições federais e criticando o descaso do governo com reivindicações de melhorias na infra-estrutura e na permanência estudantil.
Haddad perdeu o controle. Monopolizou o tempo de fala, quis impedir a leitura da carta de reivindicações construída por entidades estudantis da USP e decidiu não responder aos questionamentos dos estudantes. Preferiu desqualificar os partidos de esquerda, o movimento estudantil e suas reivindicações. Acusando-nos de “conservadores”, afirmou que considera absurdas as críticas sobre a falta de infra-estrutura. Para ele, “restaurantes universitários, banheiros e papel higiênico” são luxo, coisa desnecessária que só a “pequena-burguesia” quer. Aproveitou a oportunidade para defender o repasse de milhões de reais para instituições privadas e a política econômica do governo, que destina mais de 40% do orçamento federal para o pagamento de juros e amortizações. Também quis aproveitar a presença da imprensa para criticar os governos do PSDB, dizendo que FHC vetou a proposta de 7% do PIB para a educação. Só faltou dizer, é claro, que Lula, alguns anos depois, também vetaria a mesma proposta. Ainda bem que o ministro nos advertiu logo no princípio que alguns esquecimentos são convenientes.
O Juntos! marcou presença na atividade. Organizou a agitação, pressionou o ministro e exigiu respostas. Assim como há algumas semanas em reunião da UNE com Dilma, deixou claro para Haddad que nosso único compromisso com o governo é organizar a luta em cada escola, cursinho popular e universidade onde estivermos. Nosso exemplo é a luta dos estudantes chilenos, que exigem outro futuro, o fim dos lucros na educação e a estatização do sistema de ensino. No dia 15 de outubro, certamente, em diversas cidades brasileiras, vamos também dar o recado de que 10% do PIB para a educação é a exigência da juventude indignada brasileira. Queremos democracia real já!