I Fórum Nacional de Educação Superior Indígena e Quilombola: Como foi e quais serão os próximos passos
Desde o mês de julho os povos indígenas de todo o Brasil estão ocupando Brasília em um só sentimento: defender nossas vidas, nosso território e nosso futuro.
Ser um (a) estudante indígena e ter noção das lutas que precisam ser enfrentadas não é fácil. Estamos em um momento que somente a nossa coragem e a organização será capaz de nos mover rumo ao que desejamos.
Desde o mês de julho os povos indígenas de todo o Brasil estão ocupando Brasília em um só sentimento: defender nossas vidas, nosso território e nosso futuro. Levante Pela Terra, Acampamento Terra Livre e Marcha das Mulheres Indígenas são a expressão de que o movimento indígena está mais aguerrido do que nunca.
O cenário que esses levantes acontecem é o mais necessário possível. Bolsonaro segue com o seu projeto genocida para nos apagar da história e dos espaços que ocupamos. O Marco Temporal foi e continua sendo o ponto que reúne as nossas vontades por continuar existindo e (r) existindo.
A retirada do nosso território não significa apenas tomar o chão que nós pisamos, mas significa passar uma borracha na nossa existência e jogar no lixo os saberes que herdamos dos nossos mais velhos.
Nesse sentido, o I Fórum Nacional de Educação Superior Indígena e Quilombola, que ocorreu em Brasília do dia 4/10 até 8/10, carregou consigo esse mesmo sentimento de sobrevivência. Nós, estudantes indígenas e quilombolas, enfrentamos muitas dificuldades para entrar em uma universidade pública, desde o modo de educação precário e embranquecido das escolas, passando por um exame de ensino médio desigual, até chegar na universidade e se deparar com processos seletivos totalmente excludentes.
De fato a universidade pública não foi pensada para nós, e é por isso que nos unimos, para dizer que o terreiro, o quilombo, a aldeia, a comunidade também produz ciência.
O I Fórum foi repleto de ocupações. Ocupamos o MEC, ocupamos o Ministério da Econômia, ocupamos a Câmara dos Deputados, ocupamos o Palácio do Planalto. Se eles não queriam nos ouvir, nós nos fizemos ser ouvidos. Se eles nos enrolavam com reuniões inexistentes, nós exigimos respostas imediatas. Para isso que nós estávamos ali.
Estamos há mais de 2 anos sem receber a bolsa MEC, que é o auxílio que minimamente garante a permanência dos estudantes indígenas e quilombolas dentro da universidade. Uma coisa é certa: entrar na universidade é muito difícil, mas permanecer nela é ainda mais.
A bolsa permanência hoje (que é uma portaria e, por isso, pode ser revogada) garante um auxílio de R$900,00 reais. Quem, nos dias de hoje, consegue se manter na cidade com esse valor? Aluguel, gás, alimentos, transporte, energia, tudo está extremamente caro. Os estudantes indígenas e quilombolas muitas vezes enfrentam uma jornada dupla de aula e trabalho para poder se manter, mas, ainda assim, muitos não conseguem e abandonam a universidade.
Isso não é por acaso. Faz parte de um projeto de cada vez mais nos retirar dos espaços de produção de pesquisa e conhecimento. E sabe o que acontece quando resistimos? Eles nos perseguem até nos intimidar e nos retirar de vez da universidade.
Saímos do I FNESIQ renovados na luta e com os próximos passos armados: seguir agregando parentes na luta, organizar dentro das nossas universidades permanentes lutas pela garantia do acesso e permanência dos parentes ingressantes e dos que já estão nela; continuar pressionando o Ministério da Educação por respostas imediatas sobre a bolsa MEC (assim como uma posição do Ministério da Econômia), e, claro, seguir na luta pelo fora Bolsonaro.
Não vamos abrir mão dos nossos direitos de ter uma educação pública e de qualidade, assim como não abriremos mão de continuar ocupando as ruas, as universidades e tudo o que desejamos.
Resistir é preciso. Permanecer é necessário. Demarcar é urgente.