Construir um novo movimento estudantil para derrotar Bolsonaro e popularizar a universidade: por uma chapa unificada de oposição nas eleições do DCE Livre da USP
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Construir um novo movimento estudantil para derrotar Bolsonaro e popularizar a universidade: por uma chapa unificada de oposição nas eleições do DCE Livre da USP

Diante do enorme desafio da derrota de Bolsonaro e da disputa de um novo projeto de universidade, é hora de apresentar uma oposição unificada nas eleições do DCE Livre da USP.

Coordenação do Juntos! USP 23 maio 2022, 15:36

O ano de 2022 é decisivo para derrotar Bolsonaro. Seus quase 4 anos de governo foram marcados por alguns dos maiores crimes contra a humanidade da história do Brasil. Quatro anos à frente do país o possibilitaram fortalecer a ideologia da extrema-direita em algumas camadas da população, aparelhar instituições a serviço de seu projeto, além de ampliar a organização de grupos fascistas, como tem se expressado no aumento de pichações nazistas e nas tentativas de intimidação como ocorreu semana passada na Unicamp. Não bastasse isso, Bolsonaro flerta a todo momento com a possibilidade de não aceitar o resultado eleitoral deste ano, e ensaia dar um golpe no Brasil. Mas faz isso porque sabe que seu projeto perdeu viabilidade eleitoral desde sua eleição, em 2018.

Ainda que não tenham sido suficientes para derrubar Bolsonaro, as manifestações do Ele Não, o Tsunami da Educação, os atos antifascistas e antirracistas, e a jornada de lutas pelo Fora Bolsonaro ano passado foram fundamentais para impor uma barreira democrática a Bolsonaro, e para que cheguemos neste ano com condições de derrubá-lo da presidência da república.

Como, então, derrotar Bolsonaro, e qual o papel do Movimento Estudantil diante disso?

A derrota de Bolsonaro precisa passar pela derrota de todo seu projeto político, o bolsonarismo. Seu primeiro passo, muito importante, será arrancar o genocida da presidência, e o processo das eleições será central. Para isso, é necessário sabermos usar as ferramentas que estão à nossa mão sem fazermos dela nossa única saída. O Juntos vê hoje que Lula é o candidato mais bem posicionado no tabuleiro eleitoral para vencer Bolsonaro nas eleições. Compreendemos as estudantes que irão optar por votar em Vera Lúcia, Léo Péricles ou Sofia Manzano no primeiro turno, mas acreditamos que, diante do acirramento da polarização social já no primeiro turno, a saída correta é fazer um voto antifascista em Lula.

No entanto, o voto em Lula não pode significar um cheque em branco de apoio ao programa de conciliação de classes que ele carrega, cuja maior expressão é a presença de Geraldo Alckmin, inimigo histórico dos estudantes, como vice na sua chapa. Para resolver a crise brasileira e combater a extrema-direita é necessário defender um programa radical, que ataque os grandes pilares que estruturam o capitalismo brasileiro, e isso não se faz pactuando com nossos inimigos. É por isso que acreditamos que, independentemente do voto, o Movimento Estudantil precisa ser independente de qualquer governo que ataque nossos direitos.

Mas sabemos que Bolsonaro ameaça não aceitar sequer o resultado eleitoral, e faz isso porque seu projeto é de cercear as liberdades democráticas e implementar uma ditadura no Brasil. A única forma de derrotar esse projeto é nas ruas, construindo mobilizações, e respondendo a cada avanço da extrema-direita. A prioridade da direção da campanha de Lula hoje é a garantia de pactos por cima e a confiança nas instituições para  manter fria a temperatura da disputa política – uma saída muito perigosa para o cenário que vivemos. Do contrário, acreditamos que é necessário que os estudantes protagonizem um verdadeiro levante antifascista no Brasil, que façamos de cada escola e universidade um território de organização para a derrota da extrema-direita. Neste sentido, estar num estado de permanente mobilização é decisivo para aproveitar a brecha de derrota de Bolsonaro, e acreditamos que o movimento estudantil da USP pode ser linha de frente  neste processo.

A USP nos últimos anos: novos problemas, velhas saídas

Em 2017 o movimento estudantil e o movimento negro de dentro e fora da universidade conquistaram, depois de muita luta, a aprovação das cotas raciais e sociais à revelia do que sempre quis a Universidade de São Paulo. Entretanto, embora essa enorme conquista venha mudando  profundamente a composição social da universidade, a USP tem sido muito negligente em garantir uma estrutura para que essas estudantes permaneçam nela; ao contrário, tem adotado um projeto elitista de universidade, que coloca o ensino, a pesquisa e a extensão a serviço do interesse de grandes empresas enquanto desvaloriza o conhecimento crítico e emancipatório.

A pandemia aprofundou essa situação. Depois de dois anos sem atividades presenciais, encontramos uma universidade despreparada para acolher as três turmas de calouras que não viveram a universidade presencialmente, com inúmeros problemas para garantir a permanência estudantil: filas enormes nos bandejões e nos circulares, atraso no pagamento de bolsas, falta de vagas nas moradias, falta de professores, falta de apoio às estudantes nas questões de saúde mental, planos ineficientes e militarizados que não garantem segurança nos campi, e diversas obras ainda em andamento. 

A nova reitoria da USP, representada pela chapa eleita Carlotti-Maria Arminda, tem demonstrado caminhar na mesma direção. Ainda que tenha recém-criado a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, que pode ser um instrumento importante de permanência estudantil, não altera estruturalmente o modelo de gestão neoliberal – apoiado pelos governos tucanos – que tem orientado todas as últimas reitorias. Além disso, já nos primeiros meses de gestão tem dado uma péssima demonstração ao não pagar as bolsas de auxílio emergencial no mês de maio, deixando centenas de calouras sem condições de seguir na universidade. 

O que foram as gestões Nossa Voz à frente do DCE Livre da USP

Coincidentemente, em todos esses últimos anos o Movimento Estudantil não tem dado respostas à altura frente a essa situação. Eleita pela primeira vez em 2017 prometendo representar a voz da maioria dos estudantes e aproximar a entidade da sua base, o que temos visto ao longo dos anos tem sido um crescente distanciamento da entidade em relação aos estudantes e a suas principais demandas. 

Mais que isso, a Gestão Nossa Voz aposta numa estratégia de esvaziar o Movimento Estudantil ao buscar substituir o protagonismo dos estudantes pela representação estudantil do DCE. Por essa lógica, basta uma gestão de DCE que seja ágil para resolver junto da reitoria os problemas imediatos que surgem, não sendo necessário apostar na mobilização das estudantes. O que essa forma de conduzir a entidade não considera é que todas as grandes conquistas do Movimento Estudantil, dos blocos do CRUSP às cotas raciais e sociais, só existiram porque houve muita mobilização. No sentido contrário, o que a atual gestão busca construir é um Movimento Estudantil apático, sem debate de ideias, e sem capacidade de responder aos ataques de Bolsonaro ou apresentar um projeto de universidade diferente. Não à toa, propuseram que as próximas eleições do DCE tivessem somente 1 dia de campanha e debate presencial, proposta que felizmente não foi aceita pela maioria dos Centros Acadêmicos.

Diante da calourada mais importante da história da USP, em que três turmas de calouras estavam ingressando presencialmente pela primeira vez na universidade, o DCE organizou uma recepção praticamente clandestina, com mesas muito pouco divulgadas e sem qualquer preparação para integrar as novas turmas. Mas não é só nisso que vemos o sumiço da Gestão Nossa Voz: nos últimos 2 anos e meio de gestão, foram somente duas assembleias gerais e nenhuma reunião aberta de gestão. Desde o começo do ano não há praticamente nenhum indício da gestão nos campi de Lorena, Pirassununga, Piracicaba e São Carlos, além da EACH. E no maior ato unificado neste ano, que reivindicou o pagamento das bolsas auxílio moradia no mês de maio, o DCE sequer mandou uma representação. 

Uma geração inteira fez sua experiência e não quer mais o “modo Nossa Voz” de fazer movimento na USP. A USP mudou nesses últimos 5 anos. O país mudou. E o Movimento Estudantil da USP precisa mudar: precisamos de um novo Movimento Estudantil

O que queremos dizer com um novo Movimento Estudantil?

2022 é o último ano para a primeira turma de estudantes cotistas de muitos cursos. Acreditamos que é cada vez mais necessário que sejam esses estudantes a estarem no centro do Movimento Estudantil. Não só protagonizando o próprio DCE, mas no projeto que a entidade encabeça, lutando para colocar as lutas em defesa da permanência estudantil no centro, revendo a estrutura profundamente racista e elitista da universidade, e lutando para que as estudantes sejam parte cada vez mais importante da tomada de decisões da universidade.

Para isso, precisamos de uma nova cultura política no Movimento Estudantil da USP: que aposte na mobilização para derrotar Bolsonaro; que se mantenha independente a qualquer governo e/ou reitoria; que estimule espaços de debate e acúmulo coletivos, e não somente as opiniões da gestão; que chame o conjunto das estudantes a participar do movimento através de assembleias gerais, reuniões abertas, debates, boletins periódicos; que garanta mais espaços de troca com os Centros Acadêmicos; que dialogue e incorpore as discussões dos coletivos auto organizados; que compreenda o movimento estudantil como um movimento social, construindo e apoiando as lutas de fora da universidade; que esteja presente em todos os campi, da capital ao interior; e que faça de cada luta uma oportunidade de apresentar um novo projeto de universidade.

Acreditamos que já existem exemplos positivos desse novo movimento estudantil, como foram os blocos estudantis organizados pela Gestão Travessia à frente do Centro Acadêmico XI de Agosto nos atos pelo Fora Bolsonaro em 2021; a arrecadação de mais de 2 mil assinaturas da Campanha Permanência Não É Esmola pela ampliação da capacidade do bandejão, assim como a mobilização das estudantes de São Carlos e Piracicaba pela diminuição das filas; o ato unificado pelo pagamento das bolsas em maio; as iniciativas de diversos coletivos pela redução da fila dos circulares; as lutas das estudantes de Ribeirão Preto em defesa da reabertura da Biblioteca Central e pela reforma da Vila Estudantil; assim como as iniciativas do CALC pela contratação de professores e pelo direito às festas, do CAHIS em defesa da pró-aluno, e do CAELL pela garantia do retorno presencial. Agora, é necessário ganhar o DCE Livre da USP para essa orientação.

É necessária uma chapa de oposição unificada para disputar o DCE Livre da USP!

Nos próximos dias 07, 08 e 09 de junho ocorrerão as eleições para o DCE Livre da USP, e está colocada uma grande oportunidade de fazer desse novo movimento estudantil uma realidade. Mas para isso é necessário que a oposição à atual gestão do DCE, que além do Juntos! envolve os coletivos Afronte, RUA, Ecoar, Correnteza, UJC e Rebeldia, além de estudantes independentes, se apresente de forma unificada nessas eleições. Diante do enorme desafio da derrota de Bolsonaro e da disputa de um novo projeto de universidade, é hora de colocar a necessidade de um novo DCE à frente das diferenças que definem cada uma das organizações.

Construir um novo movimento estudantil é possível e necessário. E confiamos na força e na radicalidade de cada estudante que vem protagonizando essas lutas para organizar a travessia de 2022. Por uma chapa unificada de oposição para as eleições do DCE Livre da USP 2022!


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