Para que serve uma entidade estudantil?
Uma reflexão do Juntos RJ sobre as eleições da AMES-Rio
Aconteceu, nessa segunda-feira, dia 19, no Rio de Janeiro, uma tentativa de refundar a Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas do Rio. Numa construção do Congresso às pressas, pouco debatido, sem eleições, conselho de entidades, ou ao menos participação aberta e realmente convocada dos grêmios do Rio de Janeiro, a UJS moveu suas estruturas para tentar garantir mais uma entidade apenas para chamar de sua. Faltando menos de uma semana para o Natal e com a maior parte das escolas de férias, ou finalizando o ano letivo, essa movimentação foi feita sem os estudantes. As forças da oposição da UBES se movimentaram para estar no “Congresso”, de forma prioritária para constranger e apontar as contradições colocadas.
É importante ter em mente, as contradições na política do Rio de Janeiro. Berço do bolsonarismo, o estado daria reeleição ao Bolsonaro, bem como reelegeu um governador que impõe intervenção nas FAETECs, que desviou verba da educação para pagar cabos eleitorais, e também tem em suas escolas estaduais, a precarização e paralização da verba para alimentação escolar. Na capital, bateu-se recordes de genocídios, com uma polícia truculenta. Ao mesmo tempo, há também uma importante vanguarda disposta, que protagonizou os atos do tsunami da educação, e ainda este ano foi linha de frente na luta contra os bloqueios e cortes de verbas na educação federal, como demonstrou a recente mobilização puxada pelo DCE da UFRJ.
O momento nos exige, portanto, uma reflexão: para que serve uma entidade estudantil? Com todas as problemáticas e desafios colocados para o próximo período, não há como fugir deste questionamento. A imposição de uma derrota eleitoral ao Bolsonaro não anula o fato de que vai ser papel do movimento estudantil combater de forma independente a extrema direita. O fortalecimento das entidades estudantis não deve servir como megafone e estrutura para coletivos, mas como potencializador das lutas, da auto organização e da expansão da mobilização. Não queremos uma AMES que fale para si mesma, e os moldes de refundação já impõem esta condição, que deve ser alvo de reflexão.
Foi nesse contexto que, reconhecendo as deturpações ligadas à refundação de uma AMES sem base estudantil e sem debates nas entidades de base – especialmente após a UJS votar uma diretoria de portas fechadas à oposição – que a militância do Rebele-se (UJR), sem resolver os problemas aqui apontados, apostou na votação de uma outra diretoria, no mesmo espaço, mas dirigida pela oposição.
Depois de argumentar a ilegitimidade do Congresso e a necessidade de apontar as contradições na forma de construção da majoritária da UBES nessa refundação da AMES, se propõe a eleição de uma diretoria alternativa que não resolve a questão dos problemas – resposta para nós contraditória, já que o próprio Congresso se moldava em bases pouco legítimas e com pouco debate, fazendo necessário, ao invés da eleição de uma diretoria que fosse construído uma comissão para organizar um real congresso dos estudantes.
Precisamos refundar a AMES, porém devemos fazer isso com a consciência de que este momento tem que prezar pela auto organização dos secundaristas do Rio de Janeiro, deve encantar os estudantes e ser um momento de expansão política do movimento, com passagens em escolas, convocações amplas, conversas de forças, e conselhos de grêmios e demais entidades.
Por isso, nosso posicionamento foi o de, não legitimando o espaço como espaço representativo dos estudantes, iniciar um processo de construção de real congresso da AMES – amplamente divulgado e convocado nas escolas em construção com os Grêmios e as forças políticas que tivessem abertas a um processo democrático.
Precisamos de entidades ativas, na luta contra o sucateamento, contra a reforma do ensino médio, pela recomposição orçamentária, e com independência política para avançar em pautas importantes. Precisamos de entidades que se disponham a rodar escolas, e que tenham como prioridade a expansão da luta e da organização para além das bases dos coletivos, que tenham capacidade de falar para além de si mesmos. O movimento estudantil não pode se comportar como marginal na luta de classes, e deve atuar como um movimento social que atraia para si a responsabilidade de ser o setor mais dinâmico, combinando a luta dos estudantes com a dos servidores, sindicatos, e principalmente, com a realidade do estudante. Queremos uma entidade que construa com os estudantes, não apenas em nome deles.
Por isso não basta a refundação de uma entidade nos moldes que for interesse a determinada força política se não for uma construção para e a partir dos estudantes secundaristas. Uma entidade serve para luta, não para cargos, serve para que os estudantes tenham um instrumento de combate contra o governo e em defesa de seus direitos. A lógica de manter entidades para fortalecer as forças políticas e coletivos e não para ampliar a luta estudantil não é representativa do que precisa ser o movimento secundarista carioca. Precisamos que um real refundação da AMES sirva para o fortalecimento da luta estudantil e dos grêmios, depois de toda desarticulação gerada pela pandemia.
O Coletivo Juntos não irá compor nenhuma das direções formadas, por não acreditar ser legítimo construir uma entidade sem os próprios estudantes. Vamos buscar, com quem tiver disposição, que seja construído um congresso aberto, convocado e que tenha espaço para a participação aberta dos estudantes. Precisamos de um real congresso de refundação da AMES!