Janeiro da (in)Visibilidade à Luta da Comunidade Trans
A luta contra a transfobia é em essência uma luta anticapitalista, anticolonialista e antifascista, pois a mesma só estará concluída quando o capitalismo ruir e as definições de gênero forem destruídas.
Estar no Mês da Visibilidade Trans, dado o que nossos corpos enfrentam, é perceber que pouco se tem a comemorar. Em um único mês que somos lembrades, nós viramos produtos a serem explorados e a virar marketing, para assim movimentar o Rainbow Money, e empresas, que nem sequer pessoas trans trabalham, nos estampam em revistas e comerciais. Nossa luta diária é então resumida a um bem de consumo com cores vazias das nossas bandeiras. A população Trans, Travesti e Não-binario, no entanto, batalha todos dias, horas e meses para sobreviver. Somos ensinades que nossos corpos estão errados, que nossas identidades são pecados e que nossa existência é criminosa. Para nós, viver é um ato de resistência.
Sempre estivemos na mira desse Estado e “Cistema” burguês. Todavia nos últimos anos, mediante às crescentes ondas da extrema-direita e suas ideologias fascistas, como o Bolsonarismo, vemos o acirramento da guerra contra as nossas comunidades, onde figuras assumidamente transfóbicas e transmisóginas – que nos colocam como inimigo número um, por meio de falácias como a da “Ideologia de Gênero” – ganham sucesso ou são eleitas, fazendo com que a besta facista cresça e ganhe adeptos. Mas paralelo a isso vemos a reação das nossas comunidades conquistando, ocupando e lutando pelas nossas vidas. Com cada vez mais pessoas trans gerando conhecimento, vindo a público denunciar casos de transfobia, se organizando, sendo eleitos e ocupando espaços que nos foram e são negados. Tais conquistas e lugares ocupados pelos nossos corpos fazem com que cada vez mais pessoas rompam com as suas correntes e quebrem armários para serem quem são.
Nossa comunidade, no entanto, caminha a passos curtos, presas a antigos e recorrentes problemas. Como a falta de acesso à educação, trabalho, saúde e cultura de maneira digna. Onde vemos que 72% de pessoas trans não conseguem concluir o ensino médio, que 0,3% chegam ao ensino superior e que mais de 90% tem na prostituição a sua única forma de renda e que pessoas trans tem apenas 35 anos de expectativa de vida. Entender tais estatísticas que nos permeiam, é entender que o Brasil carrega as raízes da colonização, que junto ao capitalismo estruturam o modus operandi da sociedade brasileira, que por conta disso é essencialmente cristianizada e binarizada, logo, a existência de corpos fora do padrão cis-normativo vão ser sempre um ataque a tal “Cistema”. Por isso, dizemos que a Transfobia no Brasil é estrutural e institucional, pois não é feita de casos isolados, mas sim, reflete uma estrutura social e história que tem como projeto a nossa extinção.
Portanto, a luta contra a transfobia é em essência uma luta anticapitalista, anticolonialista e antifascista, pois a mesma só estará concluída quando o capitalismo ruir e as definições de gênero forem destruídas. Mediante ao que foi exposto, é urgente, que políticas públicas que promovam o acesso à dignidade por pessoas trans, como: cotas em universidades e em editais do serviço público, ações educacionais na educação básica, campanhas e projetos que promovam a saúde trans e acesso gratuito a hormônios e bloqueadores, implementação de matérias como “estudos sobre gênero” nos currículos universitários a fim da formação de profissionais que não segregam nossas comunidades e ampliação de debates que envolvam nossas pautas, a fim de pessoas trans ocuparem e se verem como prioridade em mais espaços – pois onde nós não se vemos, não nos pensamos como parte daquilo. Para além disso, é importante que pessoas cisgêneras enxerguem onde os seus corpos estão localizados socialmente, construindo assim uma luta conjunta com as nossas comunidades, sempre buscando nos dar espaço e voz e construindo em si próprios uma luta contra a cisnormatividade compulsória e entendendo como isso os afeta, sendo corpos ativos nessa luta pois não basta dizer, de forma vazia, que não é transfóbico, é necessário ser anti-transfobia.