Greve estudantil: seguir o exemplo da USP!
Primeiras impressões sobre a luta estudantil na USP por contratação de professores e permanência
Na última semana a USP tomou os olhos de quem vive o movimento estudantil. Depois do anúncio da direção da FFLCH de suspensão das aulas, um ato com mais de dois mil pessoas, que se somaram de forma quase que espontânea, tomou as redes ao demonstrar a resistência a uma tentativa de impedir o desenvolvimento da luta estudantil.
O DCE Livre da USP havia convocado uma Assembleia Geral para debater greve estudantil no último dia 19, com uma forma de lutar pela contratação de professores e mais permanência de uma universidade que possui um orçamento bilionário. O ocorrido na FFLCH apenas aqueceu a luta e fez com que mais de mil pessoas comparecessem a Assembleia que deliberou pela greve no dia 21.
No dia 21, estive na USP como Diretor da UNE pelo Juntos! para acompanhar o processo. A noite anterior foi marcada por piquetes nos cursos e o dia iniciou com um trancaço. A Reitoria, assustada já com a mobilização teve que marcar uma mesa de negociação. Ao final do dia, mais um ato com estudantes de diversos cursos, assembleias ocorrendo com centenas de pessoas e elegendo representantes para o comando da greve. O dia de greve encerrou com a derrubada das grades da Prainha da ECA, local tradicional de festa estudantil, que vinha restringido ao longo dos últimos anos, com o cercamento do espaço.
Mais do que relatar o ocorrido, é preciso refletir e extrair lições desse processo. Até porque a USP não é a única universidade que tem problema de falta de professores de permanência estudantil. As universidades federais sofrem com esses temas, especialmente pelo orçamento, que faz com que incêndios e outros tipos de desastres sejam frequentes, em meio uma política de ajuste fiscal do teto de gastos de Temer e o arcabouço fiscal de Haddad. O maior símbolo desse processo é o incêndio do Museu Nacional da UFRJ em 2018.
A existência de uma greve estudantil na USP não é fruto do acaso. A universidade possui um DCE que apostou e aposta na mobilização. A indignação que levou a greve não é uma novidade, já vinha tendo expressões nos cursos e campi e conseguiu se desenvolver para um caminho comum.
Após a eleição do governo Lula, é nítida a existência de um setor do movimento estudantil que não acredita na mobilização, acha que a saída para nossos problemas é a via institucional, que virão melhorias se atuarmos em conjunto com o governo federal. Sendo que na verdade hoje temos um Ministério da Educação tomado pelos tubarões da educação – empresários do ramo que lucram com o ensino, e que defende uma reforma nefasta do Novo Ensino Médio.
Por outra lado, alguns acham que a mobilização não precisa ser unitária. Basta que os setores “mais combativos” do movimento se organizem e entrem em ação para que tenhamos conquistas. São dois erros no método de construção da luta estudantil.
A USP nos ensina que para a luta ser real é preciso unidade e construção coletiva pela base. A greve estudantil existiu porque foi costurada com todos os setores interessados na mobilização e especialmente com aqueles que ainda não se encontram no dia a dia do movimento, mas que se envolveram a partir de espaços de organização nos cursos, através de assembleias locais.
O exemplo da USP precisa ser seguido. É claro que existem diversas diferenças entre cada universidade do país. Mas o método, a forma de construir o movimento e a aposta na mobilização, são lições para a luta.