Fazer da greve na USP vitoriosa e organizar as próximas batalhas
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Fazer da greve na USP vitoriosa e organizar as próximas batalhas

Sobre o futuro da greve na USP

Juntos USP 16 out 2023, 15:09

A greve que atravessa a USP é histórica em muitos sentidos. Há décadas a universidade não via assembleias gerais tão cheias e atos com mais de 2000 estudantes que extrapolaram os limites do campus e manifestaram a sua indignação para a cidade inteira. Ao contrário de outras greves agitadas na universidade, nossa mobilização atingiu unidades como a Faculdade de Direito, a POLI e a FEA, além de campus do interior, como Lorena – que fez uma assembleia com quase 50% do corpo discente presente – e Ribeirão Preto. Além disso, a greve da USP fortaleceu uma nova jornada de lutas ao se colocar ao lado dos trabalhadores do metrô, da CPTM e da Sabesp e dos estudantes da Unicamp quando também deflagraram uma greve.

Combinando atos dentro da universidade, para impor a agenda de demandas dos estudantes para a burocracia universitária, e fora dela, para denunciar a precarização e o desmonte da educação pública, conseguimos arrancar da reitoria reuniões de negociação. Mesmo com as tentativas do reitor e sua corja de encobrir os problemas da USP e com posições intransigentes diante dos representantes dos estudantes, nas duas últimas reuniões com a reitoria obtivemos importantes vitórias. Com muita luta e unidade, conseguimos a garantia de que nenhum curso será fechado; a contratação de mais 148 professores para os cursos que mais precisam e o adiantamento de todas as contratações previstas até 2025 para os próximos 45 dias – ou seja, mais de 800 novos professores passarão a ocupar as salas de aula uspianas a partir do próximo semestre; a abertura do bandejão durante almoço e café da manhã no sábado em todos os campi; a volta do critério socioeconômico das bolsas PUB; a criação da Comissão de Acesso Indígena; a construção de uma creche para a EACH; o fim da regra do 3:1 na contratação de docentes em Lorena. Essas conquistas são, ainda, insuficientes, por não corresponderem ao nosso projeto de universidade; porém, são avanços valorosos que eram impensáveis de serem obtidos sem a greve.

O debate que já se iniciou, a partir de agora, diz respeito à consolidação e garantia dessas conquistas. Por um lado, uma fração do movimento estudantil aponta que aquilo que foi conquistado até agora são “migalhas”. Para além de desprezar as conquistas – que partem de demandas históricas dos estudantes –, essa posição desconsidera as condições objetivas de nossa luta hoje e tenta tornar uma tática – a greve – em um fim em si mesmo. Nessa toada, uma parte dos setores que compõem essa fração parte para desqualificação do debate ao criar espantalhos e iniciar uma briga de egos para demarcar quem é “mais revolucionário”. O que queremos defender aqui é que a greve estudantil deve ser mais uma ferramenta, dentre muitas outras, de luta dentro da universidade e da sociedade. Essa ferramenta não pode se perpetuar em condições objetivas que nos impedem de seguir batalhando por mais e que ameaçam a garantia daquilo que já conseguimos. As conquistas que arrancamos até agora só foram possíveis a partir da unidade na luta, aglutinando estudantes desde a FFLCH, passando pela POLI e pela FEA e chegando nas engenharias de Lorena. Hoje, ao contrário do que víamos antes, diferentes setores passam a sair da greve – não porque são pelegos, mas pela própria pressão e represália das diretorias das unidades. Assim, inegavelmente, a força que tínhamos antes passa a se dissipar. O cenário que vemos pela frente, caso a greve seja mantida, é de uma mobilização enfraquecida limitada a poucos cursos já “acostumados” a fazerem paralisações. E mesmo nesses cursos podemos ver assembleias e atividades mais esvaziadas.

É importante lembrar, nesse contexto, que não vemos uma greve vitoriosa dentro da USP há 16 anos. O outro lado dessa batalha, a burocracia universitária, não é fácil de ser vencido. Com articulações com grandes empresas e com os governos, a reitoria e sua corja se escoram em uma forte estrutura excludente e com grande capacidade de ameaçar os estudantes e os trabalhadores da nossa universidade. Por isso, é importante ressaltar que estamos diante de uma possibilidade de iniciar uma verdadeira virada de jogo: desmoralizando o reitor para dentro e para fora, conseguimos com que ele cedesse em importantes pautas que antes eram consideradas longínquas nas nossas imaginações. A possibilidade de levar para o conjunto dos estudantes a mensagem de que a luta vale a pena pode nos levar a um novo patamar de consciência e de força para enfrentar a própria estrutura autoritária e neoliberal que sustenta as cadeiras de Carlotti e Maria Arminda.

Para o próximo período, devemos nos motivar por dois sentimentos: o de moralização da nossa luta pela garantia das nossas vitórias e o de sede por mais. Lênin, já como liderança do movimento comunista em 1899, aponta que a greve não deve ser a estratégia última e que tampouco consegue arrancar de nossos inimigos tudo aquilo que necessitamos, ela deve, no entanto, ser uma “escola de guerra”. Isto é: o movimento grevista deve ser encarado como uma oportunidade de garantir conquistas concretas que impulsione a luta até as raízes de nossos problemas e, ao mesmo tempo, de ganho de consciência que pode ser investido em uma próxima batalha. No nosso caso concreto, a greve de 2023 forjou-se como escola ao garantir que a larga parcela dos estudantes se confrontassem com um projeto de universidade que não é capaz de atender suas demandas – isto se expressa na tomada de consciência do desmonte dos nossos currículos, da existência do edital de méritos e do que ele significa, das posições autoritárias da burocracia universitária etc. No plano da prática, estudantes que antes não tinham contato com o movimento estudantil passaram a frequentar assembleias, organizarem ocupações, irem para as ruas manifestarem suas indignações e construírem um movimento grevista.

Agora, a tarefa que temos é de garantir a consolidação de nossas conquistas se somando nos atos, participando das assembleias e fortalecendo as lutas de cada curso e instituto. A decisão que precisamos tomar diz respeito a qual caráter queremos dar para a nossa greve e como queremos que ela seja lembrada: uma greve vitoriosa e que deu o pontapé para um novo período de lutas dentro da Universidade de São Paulo ou uma greve que se deixou ser desmontada pela reitoria e que desmoralizou a própria luta dos estudantes.

Acabar com a greve, como já colocamos, não pode significar o fim da nossa mobilização. Ao sairmos de forma unificada e moralizada desse período, precisamos seguir com um calendário de mobilizações que acumulem para novos enfrentamentos mais quentes. Para isso, é preciso que cada comando de greve se transforme em um comitê de luta permanente em seus cursos para que seja possível arrancar novas conquistas locais – dentro de cada unidade – e que garantam a mobilização dos cursos para seguirmos lutando por pautas que ainda não foram atendidas. Devemos, por exemplo, investir nossas forças em um ato no dia da próxima reunião do Conselho Universitário, em que vai ser apresentada uma proposta da reitora – arrancada pelos estudantes – de volta do gatilho automático até 2025. Além disso, devemos encarar a nossa greve também como um aquecimento para lutas mais ampliadas contra o modelo neoliberal de educação que parte tanto do governo estadual de Tarcísio, quanto em alguns casos do próprio governo federal de Lula. Nossa luta deve ser guiada pelo espírito de Junho de 2013 que levou a juventude para as ruas para exigir mais direitos e pelo Tsunami da Educação, construído por alunos de universidades e escolas, que impôs um freio aos ataques à educação que vinham de Bolsonaro. É nossa tarefa estarmos ombro-a-ombro com os trabalhadores na luta contra as privatizações e contra a reabilitação do bolsonarismo na figura do Tarcísio, assim como sermos ponta de lança na luta contra o arcabouço fiscal e contra o Novo Ensino Médio. Acreditamos que com a moralização da luta dos estudantes através de uma vitoriosa greve, teremos mais força e condições para radicalizar nosso combate dentro e fora das universidades. Até a vitória!

Por isso organize sua indignação: conheça o Movimento Juntos e siga lutando contra projeto neoliberal da USP: por uma universidade mais democrática, diversa e feita para o povo!


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