A greve é uma realidade: Nota do Juntos! UFMG
A UFMG já não é a mesma. Que as prioridades do governo e da reitoria sejam ditas pela realidade da necessidade dos estudantes!
Como parte de um movimento nacional, que já ultrapassa 24 universidades, a greve dos professores e dos técnicos administrativos em educação é uma realidade na UFMG. Ainda que haja uma velocidade de adesão diferente entre os cursos de nossa universidade, o movimento tem encontrado espaços cada vez maiores de ampliação em sua adesão entre ambas as categorias.
A demanda, que por vezes parece ser apenas salarial e que há anos está sem reajuste, já seria em si apoiada por nós, uma vez que é uma reivindicação justa de um direito trabalhista. Mas na realidade, a desvalorização dos trabalhadores é reflexo de um processo de precarização geral da educação, que teve início em seu projeto em 2015, se aprofundou nos governos Temer e Bolsonaro e que persiste ainda hoje, com os cortes de mais de 310 milhões para 2024.
A situação é gravíssima. A ausência de uma necessária Recomposição Orçamentária, após uma sequência de cortes nos últimos anos, acompanhada pela política econômica do governo Lula em limitar investimentos na educação – o chamado teto de gastos – gera um impacto direto no nosso dia a dia sem perspectiva de mudança. Sem orçamento, não é possível construir uma universidade que garanta a permanência dos estudantes, que garanta uma estrutura de ponta e contratação suficiente de professores, juntamente com a valorização dos trabalhadores que diariamente a fazem funcionar. A educação pública como nós conhecemos está em disputa. Dinheiro tem, agora, precisamos de lutar para que a educação seja realmente tratada como uma prioridade.
Na melhor universidade federal do país convivemos com a ausência de professores, impactando diretamente na disponibilidade de disciplinas obrigatórias durante o ano, na oferta de disciplinas optativas e livres que são pré-requisitos para a nossa conclusão do curso, gerando sobrecarga no processo de orientação do TCC e da Monografia.
Na melhor universidade federal do país, em que 50% dos estudantes são cotistas por renda, nós somos a geração que convive com bolsas de R$240,00 para assistência estudantil ofertadas em poucas quantidades. Não temos passe livre em Belo Horizonte e contamos com um auxílio transporte de apenas R$180,00 que não subsidia duas passagens por dia durante o mês. Já temos um dos bandejões mais caros do país, que está com risco de aumento. Uma infraestrutura que conta com a ausência de wi-fi, papel higiênico e ventiladores.
A melhor universidade federal do país não consegue garantir trabalho de campo para os estudantes, não têm bolsas de pós-graduação ofertadas e nem vagas de continuidade de estudos. Poucas bolsas de iniciação científica e vagas escassas de intercâmbio.
NADA DEVE PARECER IMPOSSÍVEL DE MUDAR!
Qual é o papel dos estudantes em um cenário em que dois, dos três setores da universidade, estão em greve?
Muitas vezes, a UFMG nos apresenta como uma instituição pronta, da qual vamos apenas para extrair aquilo que se oferece. Mas a UFMG é, na verdade, uma universidade que está em movimento, que foi e é construída diariamente também pelas mãos dos estudantes que são mais de 60% da comunidade universitária. Muitos dos problemas que vivenciamos no dia a dia só são possíveis de serem superados se forem questionados de forma coletiva.
Quando foi que naturalizamos uma universidade que cotidianamente convive com a falta? Se nossa permanência está ameaçada, certamente temos algo a fazer. Fruto de muita luta dos estudantes, a universidade que conhecemos hoje deixou de servir apenas as elites mineiras. Nós, que chegamos muitas vezes pela primeira vez na nossa família em uma universidade pública, não seremos aqueles que vão aceitar o projeto de educação em que estudar vire privilégio.
O cenário da greve abre uma oportunidade para avançar nas lutas dentro e fora dos muros da universidade. Devemos hoje ser parte da unidade desse movimento nacional que exige mais verbas para as universidades mas, ao mesmo tempo, construir as reivindicações que vão avançar nas demandas estudantis em âmbito administrativo da universidade. O nosso papel é ser protagonista, isso significa ser parte ativa das ações que vão garantir também as nossas reivindicações, pois não temos tempo a perder.
PARA ME FORMAR: GREVE ESTUDANTIL JÁ!
Somos a geração que nunca experienciou um cenário de greve. É natural que nós mesmos, e muitos outros estudantes, estejamos em dúvida com o processo. Parte significativa se questiona quanto ao atraso do calendário acadêmico, outra parte não está ainda localizada quanto a urgência de se defender a universidade pública. Vale ressaltar que quando estamos organizados nos espaços coletivos, temos a possibilidade de intervir na forma como a greve dos professores aconteça, para que as contradições sejam tratadas da melhor forma possível.
Nós do Juntos! fazemos a reflexão de que a possibilidade de nos formar está ameaçada, não pela greve, mas pela consequências da precarização: se parte dos professores deixarem a carreira por falta de valorização, se não tivermos reformulação nas políticas que auxiliam os estudantes e permanecerem na universidade e se a universidade seguir diminuindo cada vez mais seu orçamento.
A USP, no ano passado, demonstrou que através da greve estudantil é possível mudar o cenário e cavar vitórias. Essa também pode ser uma saída para construir a UFMG que a gente precisa. Estamos no momento da aumentar o tom da mobilização e defender uma greve estudantil, pois a greve dos professores avança, a dos técnicos também e a saída para os estudantes não pode se fechar em fazer as malas e ir para as nossas cidades, como se a greve significasse férias para nós que somos os primeiros a sofrer com a falta de orçamento. Já não estamos em um momento de ‘’normalidade’’ do funcionamento da universidade e queremos fazer a pergunta: se não agora, quando? Por isso, defendemos a greve estudantil e a suspensão urgente do calendário acadêmico, para ser aprovada em assembleia geral dos estudantes.
Sabemos que nenhuma greve é aderida de forma instantânea. Sabemos ainda que esse horizonte não é uma realidade para muitos estudantes pelas razões já citadas no texto, em que a falta de perspectiva é generalizada para a juventude no nosso tempo. Nós acreditamos, porém, que para combater o projeto de educação que é neoliberal e essencialmente branco e elitista, não basta que seja uma greve estudantil sem uma participação ampla dos estudantes e, por isso, achamos que ela precisa de ser construída por unidade do movimento estudantil, que retorne em cada faculdade para ser amplamente debatida. Precisamos de forma consciente disputar os cursos que não estão ainda convencidos mas, para isso, precisamos do exemplo para a apresentação de uma alternativa. A disposição de luta de cada estudante que defende a greve estudantil como uma possibilidade é também determinante nesse processo.
Acreditamos na mobilização dos estudantes para ocupar o espaço vazio que se abre, que seja um movimento feito para disputar a consciência de maioria social, em atividades unificadas com os professores e os técnicos, que mobilize manifestações nas ruas de Belo Horizonte e que seja uma experiência que vai retomar as urgências das ocupações de 2016 que hoje que vemos serem aprofundadas, não podemos ver de forma silenciosa. A UFMG já não é a mesma. Que as prioridades do governo e da reitoria sejam ditas pela realidade da necessidade dos estudantes!
O QUE QUEREMOS?
Sintetizamos em 4 eixos as demandas que construímos de forma unitária entre o movimento estudantil:
- Recomposição orçamentária da educação pública, em unidade com professores e técnicos – Chega de sucateamento das universidades públicas! Não ao teto de gastos!
- Demandas acadêmicas:
- Suspensão do calendário acadêmico
- Contratação de mais professores, contra o fechamento dos cursos e da pós-graduação, com a aprovação de reserva de vagas para professores negros e indígenas em toda universidade.
- Vagas garantidas todos os semestres para a continuidade de estudos em todos os cursos que possuem licenciatura.
- Ônibus e estrutura para viagens de campo.
- Suspensão do calendário acadêmico, para que não haja prejuízo aos estudantes e garanta ampla possibilidade de manifestação política dos professores.
3. Entrar e permanecer na UFMG
- Ampliação das vagas de nivelamento da FUMP para inclusão de mais estudantes! Permanência para todos que precisam!
- Aumento das bolsas de assistência estudantil em todas as categorias: bolsa manutenção, bolsa aluguel, auxílio para transporte, etc.
- Contra o aumento do preço do bandejão
- Ampliação das cotas, para pessoas trans e quilombolas!
- Políticas de saúde mental – a universidade tem adoecido os estudantes!
- Por políticas de ocupação dos campus da universidade, contra a perseguição dos ambulantes – atividades de lazer, festivais: a UFMG É NOSSA.
4. Estrutura
a) Bandejão na arquitetura
b) Ventiladores em todos os prédios e no bandejão.
b) Iluminação no campus.
c) Abaixo às catracas!
d) Garantia de um wi-fi que funcione!
e) Fraldários nos banheiros.
f) Papel higiênico nos banheiros.
g) Projetores em todas as salas.
h) Medidas de acessibilidade para PCDs!
i) Ônibus intercampi