É PRECISO RECONSTRUIR UMA UFAL DE LUTAS PARA DERRUBAR BARREIRAS
Manifesto pela Reconstrução do DCE/UFAL – Quilombo dos Palmares e em defesa de um movimento estudantil amplo e democrático, vanguarda da juventude alagoana.
Nas próximas semanas, a UFAL passará por um dos processos mais
importantes do movimento estudantil na Universidade, as eleições do DCE/UFAL.
Num cenário marcado pelo abandono da gestão da maior entidade estudantil de
Alagoas por determinadas organizações, posterior à greve das Universidades
Federais (que revelou as diferenças entre o movimento estudantil independente,
daqueles que possuem suas amarras com governos e reitorias), tornou-se notável
ainda os diversos ataques à auto-organização dos estudantes através das
tentativas de aprovação do Código de Conduta Discente e de Calendários
Acadêmicos sufocantes por parte da reitoria, além da retirada das linhas de ônibus
da Universidade, por parte da prefeitura, o Movimento Estudantil da UFAL,
aproximou-se de um caminho alternativo, diante das dificuldades e inseguranças.
Há pouco mais de um ano, os estudantes da UFAL elegeram, por margem apertada,
a Gestão “Todos os Cantos”, que apresentava-se como independente e plural,
quando na prática mostrou-se imobilista, alinhada com os objetivos e propósitos da
Reitoria da UFAL, centrada na construção de projetos individuais de seus
componentes. Revelou-se, inaceitavelmente, tolerante à misoginia, racismo e
LGBTfobia, praticada por parcela de seus membros, posteriormente expulsos pela
mobilização massiva dos estudantes em defesa do legado do DCE que carrega em
seu nome a resistência do Quilombo dos Palmares. Assim, perante a omissão e
posterior abandono do DCE, Centros e Diretórios Acadêmicos, organizações e
coletivos, assumiram a vanguarda das lutas dentro da Universidade, reacendendo o
que a Pandemia, os anos de Bolsonaro e o imobilismo político haviam deixado para
trás, entretanto, ainda distante da real capacidade que têm o DCE à nível estadual.
Por isso, mais do que uma disputa sobre quais organizações políticas estarão no
DCE, acreditamos que esse seja um debate de interesse coletivo dos estudantes da
UFAL, que se relaciona diretamente com a reconstrução do DCE/UFAL – Quilombos
dos Palmares, mas também diretamente com a direção do Movimento Estudantil
alagoano.
Há pouco menos de um ano, o Coletivo Juntos! se forma na UFAL como
reflexo da auto-organização de membros de diversos Centros Acadêmicos,
apostando ainda mais na organização dos estudantes e na unidade das lutas dentro
da universidade e fora dela. No cenário de retomada das atividades presenciais,
após a Pandemia, o movimento estudantil da UFAL encontrava-se, e ainda
encontra-se, fragmentado e enfraquecido, com uma gestão de DCE composta pelos
setores majoritários da UNE, que abrem mão da construção de ações e mobilizações
coletivas e optava pelos acordos com a reitoria como sua estratégia principal para o
movimento estudantil. O cenário ainda se agrava, quando observamos a grande redução do número de CAs e DAs ativos e a desconexão dos estudantes do seu
reconhecimento enquanto classe. Por isso, acreditamos em um novo paradigma
para o M.E. UFAL, sendo a nossa proposta reunir todos os setores que consideramos
combativos, independentes e consequentes.
Reconhecendo acertos e insuficiências, o Coletivo Juntos!, marcou presença e
apostou no desenvolvimento das lutas dentro, mas também para além dos muros,
da universidade. Lutamos contra o Calendário Acadêmico imposto pela Reitoria que
sufocava a saúde mental e o aprendizados dos estudantes, mesmo sem
representação ativa no CONSUNI, sob o qual passamos a lutar pela remoção dos
membros expulsos do DCE e disputar vagas para garantir uma real representação e
participação dos estudantes nos Conselhos da Universidade. Em virtude disso,
barrando outras tentativas de aprovação do Código de Conduta Discente,
defendendo calendários humanizados e cobrando da Reitoria da UFAL a eficácia
das políticas de Assistência Estudantil, como o funcionamento do Restaurante
Universitário em Arapiraca, fechado no período de greve, e o auxílio-alimentação
para os estudantes afetados. Mais do que avanços e garantia do mínimo, as ações
construídas nesse período demonstraram a retomada da ideia de participação,
combate e protagonismo dos estudantes nas decisões e questões que nos dizem
respeito. Apesar disso, a potencialização desse processo, com uma realidade de
entidades de base enfraquecidas e a ausência de um DCE ativo, independente e
combativo que unificasse esses esforços em unidade e massificasse as lutas, gerou
um quadro de dispersão no movimento estudantil e a apatia dos estudantes do seu
reconhecimento enquanto classe, limitando a capacidade do movimento estudantil
da UFAL em ampliar a participação nas lutas.
Valorizando e reconhecendo os acúmulos das lutas que construímos,
enxergamos que só será possível reconstruir o DCE/UFAL – Quilombo dos Palmares a
partir da mobilização das bases e do fortalecimento das entidades de base,
juntamente a uma orientação política que combine a unidade na luta e a busca pela
massificação. A nível nacional, o sucateamento vivenciado pelas universidades
públicas federais e, a nível local, as tentativas de exclusão do debate e a ausência
total de diálogo com a classe estudantil da UFAL por parte da Reitoria, precisam de
uma resposta suficiente, frente às diversas demandas urgentes que tem hoje, a
UFAL. Acreditamos que dos diversos grupos que atuam e estão hoje na
Universidade, boa parte destes companheires, ao colocar a autoconstrução como
principal prioridade, não teriam a capacidade de articulação que hoje se faz
necessária para irmos além das nossas próprias fronteiras. Essa necessidade surge,
exatamente, pela urgência da construção de um pólo independente que enseje a
massificação das lutas, principalmente neste momento em que a esquerda
majoritária não tem interesse em grandes enfrentamentos e mobilizações.
Deste modo, apresentamos como obstáculos e desafios, a partir das
experiências e lições retiradas das lutas, mas também como reflexo das percepções dos que chegam hoje na universidade e se deparam com as mesmas problemáticas
de anos atrás, três pontos principais. O primeiro deles, realidade de toda
Universidade Federal, o sucateamento e o corte de recursos das instituições, é raiz
de inúmeras problemáticas da UFAL hoje. A estrutura da universidade, física e
humana, clama muitas vezes pelo mínimo. Observamos os impactos disso
justamente nos espaços que subvertem a lógica capitalista. Na capital, os cursos de
ciências humanas e ainda mais profundamente os cursos de Artes (Dança, Música e
Teatro), vivem hoje uma realidade dramática, onde até mesmo não há espaço ou
professores para mantê-los em funcionamento minimamente adequado. No
processo de interiorização da universidade, também observamos de forma grave a
desconexão e desvalorização dos cursos e espaços da universidade de forma mais
agravada que na capital. E isto nos leva para o segundo, a gestão da Reitoria da
UFAL. É ingenuidade pensar que as problemáticas da universidade limitam-se a
uma questão nacional orçamentária. A gestão neoliberal e de austeridade da
Gestão atual da Universidade, também faz parte do agravamento de problemas da
universidade. O “verniz democrático” da Reitoria e os limites impostos por ela, além
da não atenção às nossas pautas e mobilizações, demonstram ainda mais a falta de
interesse de enfrentar a lógica privatista, meritocrática, conservadora e liberal que
por diversas vezes ocupa a administração da universidade e que hoje aplica uma
política de redução de gastos e despesas afetando diretamente a permanência dos
estudantes. Depois de tempos, os estudantes se aproximam dos conselhos, comitês
e grupos de trabalho da universidade, passando a enxergar os artifícios utilizados
pela reitoria e pelo aparato burocrático da UFAL para que esta siga sendo
instrumento ideológico, político e econômico das oligarcas elites alagoanas,
afastando-a do povo.
Por último, e o mais direto dos desafios, a construção de um movimento
estudantil democrático, plural, diverso e representativo, é chave para o avanço nos
demais. Esse ponto não pode se limitar às questões de método, organização e
formatação de uma assembleia, ato ou do próprio DCE, é preciso ir além, ainda que
consideremos debates cruciais a serem feitos. Esse debate passa por discutir a
garantia de representatividade real de uma universidade interiorizada e diversa
como a UFAL, não limitando-se ao Campus A.C. Simões. Também passa por discutir
a construção de um DCE que abarque o ativismo político-cultural, que não se limite
às forças políticas e às estruturas do movimento estudantil, reforçando não só as
entidades de base, como Centros e Diretórios Acadêmicos, mas ir além e alcançar
de fato os estudantes. As últimas experiências apontam que é preciso construir
pautas de maioria na UFAL, sendo isso vital para que tenhamos avanços concretos e
unitários para construir lutas vitoriosas diante do cenário apresentado local e
nacionalmente, de forma a unificar os estudantes do Campus Sertão ao A.C. Simões,
do Espaço Cultural à Arapiraca. Em suma, indica a necessidade de um movimento
estudantil realmente democrático, apto a desenvolver sínteses apesar das
diferenças e particularidades.
Convocamos todas, todos e todes que confiem nesse programa de
autonomia, independência, mobilização e unidade para “Fazer Palmares de Novo”,
enfrentar os avanços do neoliberalismo do Governo Lula e na UFAL; defender a
resistência de um movimento estudantil amplo e democrático, retomando o
protagonismo e a direção da mobilização de toda classe da juventude estudantil e
trabalhadora alagoana e, assim, avançar e preparar novos e decisivos
enfrentamentos, como já feito no passado. “Vamos fazer Palmares de Novo!”, para
lutar por assistência estudantil e bolsas dignas, por políticas de permanência reais,
para conquistarmos as cotas trans, exigir a conclusão e ampliação da Residência
Universitária e dos Restaurantes Universitários, por estrutura e acessibilidade, por
transporte e mobilidade dignos, para que nossos cursos sigam funcionando e por
uma UFAL 100% Pública. Para isso, precisamos de um novo DCE que enxergue a
necessidade de fortalecer e reconstruir o movimento estudantil, que observe a
centralidade em ampliar e massificar a entidade, que honre e restabeleça o que
ainda é a Vanguarda e a Maior entidade do Movimento Estudantil de Alagoas. O
Coletivo Juntos! convoca organizações, coletivos, coletivos auto-organizados e
estudantes em suas amplas gamas de experiência e diversidade na universidade
para “Refazer Palmares” e construir uma chapa de unidade na luta e que esteja à
altura da coragem e resistência de Zumbi e Dandara e tudo aquilo que seu nome
representa.
31 de Julho de 2024