A desumana jornada de trabalho do estudante secundarista no Brasil!
Reproduçõ: Alê Bastos/Mandato Fábio Felix

A desumana jornada de trabalho do estudante secundarista no Brasil!

O Novo ensino médio ‘‘uberiza’’ nossa mão de obra e nos tira a esperança de um futuro, a juventude tem direito de sonhar

Rafaela Dini e Roy Fonseca 19 nov 2024, 20:11

A realidade dos estudantes do novo ensino médio é clara, para quem se dispõe a olhar: milhares de estudantes recorrendo a trabalhos precarizados e enfrentando condições insalubres. O IBGE aponta que em 2023, 41,7% dos estudantes que evadiram das escolas, deram como justificativa a necessidade de trabalhar, o que reflete na nossa educação pública, onde cada vez mais é precarizada, onde os estudantes da rede pública contam com uma carga horária de aulas reduzida, deixando de fora matérias importantes para a formação, gerando o grande avanço do que podemos chamar de “uberização” da mão de obra dos estudantes secundaristas.

Afinal, qual é a causa da situação enfrentada pelos estudantes atualmente, e como isso se relaciona com nossa jornada de trabalho e a escala 6×1?

Atualmente, vivemos um avanço significativo na luta de classes, uma batalha histórica que Marx já havia descrito ao defender a redução da jornada de trabalho como essencial para combater a exploração capitalista. Na obra “O Capital”, ele expôs como o sistema capitalista opera ao sugar a força de trabalho de bilhões de pessoas, gerando lucros para os donos dos meios de produção enquanto concentra capital e poder. Nesse contexto, a pauta da escala 6×1 surge como uma resistência contemporânea, impulsionada pelo movimento Vida Além do Trabalho e pelo vereador eleito no Rio de Janeiro, Rick Azevedo, que propõem uma emenda constitucional para reduzir a carga horária semanal e garantir três folgas remuneradas. Essa luta reflete os sintomas cruéis da crise capitalista, que massacra a juventude trabalhadora com precarização e esgotamento.

Com o Novo Ensino Médio em curso desde o governo Temer e com a aplicação no governo Bolsonaro, a educação pública tornou-se um campo de exploração para os “tubarões da educação”, que lucram com reformas no ensino médio, voltadas para formar mão de obra barata em vez de oferecer uma educação emancipadora. Esse modelo visa preparar os jovens para a “uberização” do trabalho, restringindo suas oportunidades e condicionando-os a postos exploratórios. Podemos também problematizar a atual Lei do Estágio que intensifica a exploração dos jovens, flexibilizando suas jornadas e permitindo abusos que comprometem tanto seu aprendizado quanto sua saúde. Para os estudantes que precisam conciliar trabalho e estudo, o peso é brutal: enfrentam uma dupla jornada diária para garantir sua subsistência e ainda lutar para manter o acesso à educação, assim é inegável que temos menos diretos de trabalhar, menos direitos de estudar.

O jovem que entra no mercado de trabalho antes de concluir a graduação sacrifica uma fase crucial de sua vida, submetendo-se a estágios exaustivos ou jornadas de oito horas, seis dias por semana, além das cinco horas diárias de estudo. No fim, restam-lhe poucas horas “livres”, tomadas por tarefas acadêmicas e afazeres domésticos, resultando em uma rotina de sobrecarga e esgotamento. Essa realidade é a expressão da lógica capitalista que transforma o estudante em mão de obra barata, incapaz de desfrutar de lazer ou cultura, pois seu salário mal cobre as contas básicas.

Para romper com o ciclo de exploração que assombra a juventude e limita seus direitos, é urgente nos unirmos às mobilizações pelo fim da escala 6×1, nunca se esquecendo que toda conquista trabalhista e estudantil foram fruto de intensa luta coletiva. Hoje, nossa geração se vê forçada a abandonar os estudos para ingressar em um mercado de trabalho precarizado e exaustivo, onde o salário mínimo mal cobre o básico, deixando pouco ou nada para lazer e cultura. Além disso, dificuldades burocráticas, como a perda do auxílio financeiro por problemas nos sistemas de presença escolar, reforçam a precarização da vida estudantil. Precisamos organizar nossas demandas e lutar por uma educação de qualidade e condições de trabalho justas e regulamentadas, que garantam dignidade e acesso real a direitos básicos, sem arredar o pé da luta, pois apenas coletivizando nossas indignações e demandas conseguiremos meios eficazes para mudar nossa realidade.


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