BALANÇOS DO ENEM E A URGENTE REVOGAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO
Reprodução: Folha de Pernambuco

BALANÇOS DO ENEM E A URGENTE REVOGAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO

Os abismos educacionais da primeira geração de ENEM pós Novo Ensino Médio e sua urgente revogação

Manuela Cavalcanti 17 jan 2025, 17:55

Nos últimos anos temos acompanhado cada vez mais o desmonte da educação pública nacionalmente. O sucateamento da educação tem sido um desafio cada vez maior para o acesso dos estudantes de escolas públicas às universidades, os alunos proveniente da periferia têm que se esforçar três vezes mais para conseguir ingressar em uma universidade pública.

É fato que o sistema nunca esteve do nosso lado, mas, nos últimos anos, o sucateamento da educação só se agravou com a implementação do Novo Ensino Médio e a exclusão de disciplinas obrigatórias da grade curricular como sociologia, geografia e história e a implementação de itinerários formativos.

Desde 2022, entidades estudantis e movimentos sociais vêm pautando as problemáticas do Novo Ensino Médio e dos itinerários formativos, que incluem, uma diminuição no número de aulas semanais da grade comum curricular e das matérias obrigatórias. Esse sucateamento resultou em alunos sem senso crítico, pela falta das disciplinas de sociologia e filosofia e em uma grade horária inflada de matérias sem sentido, que, no fim, não acrescentam em nada e ainda são ministradas por professores sem a formação correta; alunos que passam um ano inteiro dentro da escola e não conseguem aprender nada, com unidades escolares sem estrutura para receber os itinerários de robóticas e as disciplinas absurdas de como fazer brigadeiro e sabonete. Além de que, as matérias estudadas não são as cobradas nos vestibulares.

Os resultados disso são refletidos, principalmente, no ENEM, apesar de a média geral do ENEM 2024 ser maior do que no ano anterior, tendo 546 pontos comparados a 543, a maior parte das médias por áreas apresentam resultados inferiores. Enquanto a média linguagens aumentou, com 528 pontos em 2024 e 516 pontos em 2023, matemática teve uma queda considerável, com 529 pontos em 2024, comparado a 535 pontos em 2023; ciências humanas apresenta um resultado de 517 pontos em 2024, inferior ao de 522 pontos em 2023 e ciências da natureza teve uma média de 495 pontos em 2024 comparado a 497 pontos em 2023.

Todavia, a maior queda está, com certeza, nas redações. Em 2023, 60 alunos tiraram nota 1000 na redação, com quatro estudantes de escola pública. Já em 2024, esse número caiu bastante, sendo apenas 12 redações nota 1000 e só uma delas de um aluno de escola pública. Esses resultados não são por acaso, na verdade, fazem parte de um projeto de precarização do ensino e de criação de mão de obra barata para dificultar o acesso ao ensino superior.

A qualidade do ensino público e do ensino privado sempre foi muito discrepante, o que faz com que as juventudes mais pobres estejam sempre à margem da sociedade, sem muita perspectiva de entrar na universidade, e tudo isso se intercala com o cenário de precarização do trabalho, mercados saturados e crise econômica que estamos vivendo no país. As pessoas que estão sendo mais afetadas com o ensino público precarizado e, por consequência, não conseguem entrar nas universidades públicas são justamente a juventude preta e periférica, que acabam tendo de trabalhar em escala 6×1 para ter o que comer ou para pagar a mensalidade de uma faculdade particular.

Nos últimos anos estamos acompanhando o papel da educação ser completamente deturpado. O que antes motivava, libertava e dava aos jovens a oportunidade de sonhar, agora está sendo usado como mercadoria e como uma ferramenta de preservação do status-quo. Em todo o país, vemos escolas sendo vendidas, enchendo o bolso de grandes empresas com a justificativa de que irá melhorar a qualidade do ensino, o que sabemos que não é o que acontece na prática. Além disso, sabemos que os grandes tubarões da educação e os donos das universidades privadas são os maiores interessados no sucateamento do ensino.

Desde que assumiu a gestão atual, esperávamos que o Governo Lula revogasse completamente o Novo Ensino Médio, o que não aconteceu. É lamentável que um presidente progressista, não ouça a voz de estudantes e professores e tente implementar uma reforma parcial do NEM.

Vivemos um dos piores momentos na educação pública brasileira, onde governos de extrema direita usam a educação como forma de ataques cada vez mais fascistas. Em São Paulo, por exemplo, o governador Tarcísio de Freitas nos ataca de forma truculenta tentando militarizar nossas escolas, vendendo a gestão para empresários e cortando o orçamento da educação.

Como vimos inúmeras vezes na nossa história, os ataques à educação sempre foi uma forma de retirar da juventude o acesso ao futuro. Os resultados do ENEM 2024 nos mostram que este modelo de ensino não nos serve mais, precisamos de uma total revogação do NEM e a saída é a organização, e a luta coletiva. Só a nossa mobilização nas ruas, pressionando, exigindo nossos direitos, pode trazer uma melhora desse cenário terrível da educação.


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