Não pode batucar aqui
Estava eu a passar pela catraca na estação de metrô São Judas, olhei os números que acusavam o roubo, R$2,90. Mas não foi essa minha surpresa. Minha atenção voltou-se para um rapaz que estava a discutir com um dos metroviários em vozes acaloradas…
Diego de Jesus
Quarta-feira, 01 de fevereiro de 2012. 2012, data que precede o fim de um ciclo, espero eu que o fim do ciclo de hipocrisia das corporações que representam esse sistema decadente.
Estava eu a passar pela catraca na estação de metrô São Judas, olhei os números que acusavam o roubo, R$2,90. Mas não foi essa minha surpresa. Minha atenção voltou-se para um rapaz que estava a discutir com um dos metroviários em vozes acaloradas.
“Porque preciso parar de cantar?”, perguntava ele. O rapaz, cujo nome descobri depois ser Lucas, ou se preferir Gracco Oliveira, autointitulado poeta, não conseguia entender o porquê da represália ao simplesmente expressar estar feliz, ao batucar em uma das muretas do metrô e cantar enquanto aguardava seu amigo. E pelo que me pareceu, o funcionário do metrô autointitulando-se A Razão, também não entendia, pois não verbalizava, simplesmente coagiu o rapaz, imobilizando seus braços enquanto mais um fiel defensor da lei e dos bons costumes, que chamaremos de A Ordem, também metroviário, segurava a garganta de Lucas.
O primo de Lucas tentou intervir, assim como o restante da população que se mostrava indignada com o que estava acontecendo. Porém, vendo que o rapaz imobilizado por dois homens ainda estava a reclamar seus direitos, e protestar contra a agressão, A Razão não viu outra alternativa se não derrubar o rapaz ao chão e lhe aplicar uma gravata. E eu que nem sabia que a festa era Black Tie.
Todos em volta perplexos, sem saber se intervir seria se envolver demais, celulares filmando, gritos de desaprovação, mas ali estava a lei, o homem que tinha poder sobre outro homem e que fazia questão de demonstrar isso com orgulho de sua farda.
A briga foi apartada quando os demais seguranças do metrô chegaram, a multidão reclamava, alguns se envolveram na discussão com os metroviários, a PM chegou empunhando cassetetes, e no fundo ouvia-se a voz de Lucas, roca de gritar seus direitos sem os vê-los.
Todos pra DP, duas testemunhas e os três envolvidos. Chegando lá, lhe ofereceram chá… chá de cadeira, no mínimo umas 4 horas esperando para serem atendidos. Tudo pronto e nada resolvido.
Os metroviários o acusaram de desacato entre outros, Lucas e seu primo os acusaram de violação do direito de ir e vir, repressão e abuso de poder.
Todos liberados às 0 horas, um novo dia, o fim de um ciclo, espero eu que o fim do ciclo de hipocrisia das corporações que representam esse sistema decadente.