A luta dos gregos por outro futuro: estamos juntos!
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A luta dos gregos por outro futuro: estamos juntos!

Acompanhar a mobilização grega contra os efeitos da crise econômica e tentar criar relaçōes com a combativa juventude do país: esse era o desafio do Juntos! especialmente após as últimas semanas. Thiago Aguiar, do Juntos!, conta como foi sua chegada em Atenas.

Thiago Aguiar 21 fev 2012, 01:27

Acompanhar a mobilização grega contra os efeitos da crise econômica e tentar criar relaçōes com a combativa juventude do país: esse era o desafio do Juntos! especialmente após as últimas semanas, quando assistimos a centenas de milhares de pessoas reocupando a praça Syntagma, em frente ao Parlamento, na tentativa de impedir a aprovação do novo plano de ajuste com seus cortes nos salários, no orçamento e privatizaçōes. Nos poucos dias posteriores àquela multitudinária manifestação, a ansiedade foi grande. Finalmente, tudo acertado, começamos a viagem a Atenas.

O primeiro trecho, de São Paulo a Munique, poderia ter chamado a atenção pela babilônia voadora que são as viagens internacionais. Hu, um simpático chinês, senta-se a meu lado e conta que conheceu Manaus e que ficará muitas horas esperando no aeroporto para depois voar de Munique a Pequim. Ao redor, inúmeras conversas em alemão, as quais me desafio, em vão, a compreender junto dos cartazes e vídeos da companhia aérea. O máximo a que cheguei foi um “danke” para agradecer à comissária pelo café. É inegável que a nossa geração assistiu a um enorme aumento das comunicaçōes e do fluxo de informaçōes mundo afora. Ainda que a circulação de pessoas seja restrita por barreiras econômicas ou políticas, o fato é que pela internet, pela música ou pelos noticiários, mais do que em qualquer outro momento, a juventude do século XXI está compreendendo o quanto estamos enredados. A teia é mundial.

A surpresa, contudo, veio na entrada do avião. Jornais de vários lugares estavam à disposição para as muitas horas da viagem. Tomei um exemplar da versão europeia do The Wall Street Journal. Trata-se de um dos jornais porta-vozes do capital financeiro internacional. Então, ao abri-lo, me dei conta que de fato começava a viagem. Um outro clima (além dos 2 graus negativos que me esperariam em Munique) foi aparecendo: a reportagem de capa trata das pressōes e exigências da Alemanha e do Banco Central Europeu para o “resgate” da Grécia, que significa cortar salários, aposentadorias e direitos sociais para pagar os bancos internacionais. A notícia afirma que os tecnocratas europeus discutiam a possibilidade de dividir o empréstimo em partes, destinando agora só o que era necessário para uma urgente operação de troca de papéis, já que, para eles, entregar todo o dinheiro poderia fazer com que os políticos gregos “não implementassem o programa de cortes nos salários, aposentadorias e gastos governamentais”. Mas, como outra parcela da dívida dos bancos será cobrada nas próximas semanas, eles descartaram parcelar a “ajuda” com uma condição: os papéis gregos nas mãos do BCE deveriam ser pagos pelo valor integral e uma troca de papéis com renegociação só acontecerá com os milhares de pequenos credores. Ou seja, exige-se que a Grécia imponha sofrimento à sua população e privatize empresas públicas através de um plano de ajuste para que receba empréstimos destinados a… pagar os banqueiros.

A crise vai-se revelando ao longo das páginas: a Renault, que teve seus lucros diminuídos em 39% no último ano, conta com sobrecapacidade produtiva e retração da demanda; a Peugeot-Citroen cortará custos na ordem de 1,5 bi de euros; a GM européia diminuiu seu lucro; o maior banco francês, Société Genérale, também anunciou perdas em 2011. Em Portugal, a crise também se aprofunda. O desemprego atingiu níveis alarmantes por conta do plano de ajuste imposto ao país. Os cortes nos salários e nos gastos governamentais para pagar a dívida estão destruindo empregos e aumentando a recessão no país. O primeiro-ministro conservador, por sua vez, afirma que a Europa pode confiar no país porque lá há estabilidade e, diferentemente da Grécia, não há protestos nem “caos”.

A ida do Juntos! à Europa nos permitirá estar no centro dos acontecimentos. É inegável que neste continente, hoje, se desenvolve um capítulo importante da crise econômica que desde 2007 afeta o capitalismo. E é também aqui onde estamos vendo parte importante da mudança na situação mundial. Na Grécia, onde surgiu o pensamento ocidental e a democracia, está havendo uma dura luta contra a ditadura dos mercados, que impōe governantes e decide aonde serão destinados os recursos nacionais. Mais do que reivindicar uma velha herança, a luta dos gregos tenta criar, nas ruas, uma democracia real, urgente e necessária. Nas próximas semanas, pretendemos conhecer mais de perto essa luta protagonizada por muitos jovens que não têm esperanças nesse presente, mas não têm medo de construir outro futuro. Espero podermos estar juntos nessa atividade internacionalista!

P.S.: Os informes de primeira hora em Atenas dão conta de uma greve geral nesta quarta-feira. Logo, falaremos melhor sobre isso e sobre o que encontrei nos primeiros momentos na Grécia.


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