Lições de um enfrentamento
Infelizmente, a reação direcionada pelos governos estaduais, com comando do Palácio do Planalto e auxilio criminoso das organizações Globo, fez com que o movimento sofresse um recuo. Contudo, de modo sucinto, é necessário tirarmos algumas lições desse rico processo
por Leandro Fontes, Juntos! RJ
Estamos no carnaval, mas antes do confete e da serpentina, gostaríamos de refletir alguns elementos na crise da segurança pública e a greve nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro. Sabendo que, nesse momento, todos os esforços estão sendo voltados para liberdade e anistia de Daciolo e dos demais presos.
Infelizmente, a reação direcionada pelos governos estaduais, com comando do Palácio do Planalto e auxilio criminoso das organizações Globo, fez com que o movimento sofresse um recuo. Contudo, de modo sucinto, é necessário tirarmos algumas lições desse rico processo:
1ª) pela primeira vez, a nível nacional, as forças policiais se rebelaram contra seus comandantes e seus governos. O descontentamento teve peso nacional, gerando solidariedade nos quartéis em parte significativa da federação.
2ª) os bombeiros seguem sendo a principal vanguarda desse movimento, sua expressiva mobilização e a simpatia junto a setores de massas, fez dessa categoria o expoente balizador desse processo. Não é por acaso o apelo que existe pela liberdade do Cabo Daciolo.
3ª) o papel cumprido pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que se jogou de cabeça na repressão ao movimento grevista, criminalizando os profissionais da segurança pública e anunciando que esse será o “tom da música” daqui por diante. Ou seja, o PT não será apenas um engenhoso administrador do capitalismo no Brasil, mas também estará na linha de frente da repressão aos movimentos sociais para garantir os interesses das elites e a estabilidade do regime.
4ª) parte dos movimentos sociais e setores de esquerda compreenderam a necessidade de apoiar o movimento grevista militar. Sabendo separar o joio do trigo. Isto é, sem abstrair o papel (genético) repressor da polícia, mas dialogando sob os elementos objetivos da realidade, como: a grande parte dos profissionais da segurança pública é formada por trabalhadores precarizados que, na essência, estão ali cumprindo ordens superiores (dos governos). Em greve, estes mesmos trabalhadores não estavam cumprindo ordens e, por consequência, desafiaram o status quo e apostaram em nossos métodos* para reivindicar seus direitos. Entre o mês de janeiro e fevereiro, essas categorias foram à vanguarda na luta contra os governos do RJ, BA e federal. Esse é o fato!
5ª) como todo processo importante, até as derrotas, trás ensinamentos relevantes para todos nós. Do ponto específico, em médio prazo, podemos dizer que a vida nos quartéis não será a mesma. Pois forjou um punhado de “incendiários” nas forças militares. Paralelo a isso, nas três categorias (bombeiros, policia civil e militar), a confiança no governo Dilma está extremamente abalada e pode caminhar para uma ruptura a luz dos acontecimentos futuros.
O Juntos! cumpriu o seu papel nesse processo. Não apenas no apoio formal a greve, mas se somando nas atividades, nas assembleias, construindo espaços de solidariedade e estreitando laços com algumas lideranças do movimento. Para nós, esse processo é parte da luta geral, que momentaneamente saiu dos quartéis do RJ e BA, porém caminhou para o Comperj (Itaboraí-RJ) e para os rodoviários de Curitiba. O Juntos! segue acreditando que para almejarmos outro futuro se faz necessário mobilizarmos 99% contra 1%, por democracia real e por conquistas para os trabalhadores e a juventude.
* métodos de mobilização, atos, passeatas, panfletagens.