Juntos! na terra de Mandela
A história do povo negro na áfrica do sul passa pela divisão e formação de tribos como os zulus, Thembus, os Pondo e os Xhosa. No entanto, é importante observar a opinião de Mandela sobre essa junção…
* Mateus Oliveira
A mais ou menos três semanas atrás estive visitando a África do Sul, pela primeira vez. Digo primeira porque a boa impressão deixada por este país me suscita uma imensa vontade de retorno, quem sabe em um futuro bem próximo. Um país com uma enorme riqueza econômica ao contrario da grande parte do resto do continente, grandes belezas naturais, tendo em seu território as paisagens mais bonitas do mundo, associadas a uma imensa diversidade cultural vinda de uma complexa formação histórico – social em que difundiram-se as culturas de vários países europeus colonizadores, como Alemanha, Inglaterra e Holanda associadas às tradições nativas africanas.
A história do povo negro na África do Sul passa pela divisão e formação de tribos como os zulus, Thembus, os Pondo e os Xhosa. No entanto, é importante observar a opinião de Mandela sobre essa junção. Ele que deixa claro sua posição ideológica quanto a formação de seu pais, quando exalta as palavras de um ancião de sua tribo, o qual declarava “que todos os povos vieram de um único pai, o homem branco que tinha chegado, se apoderado, e criado divisões entre os povos.”
Além das praticas já conhecidas dos poderes coloniais de fomentar divisões étnico-culturais entre os povos conquistando, assim, certa facilidade de implantação de suas diretrizes, na África do Sul ocorreu uma situação singular que foi a criação de um estado dividido entre brancos e não brancos, estado que institucionalizou o racismo através de leis claras e severas que atacavam os povos de pele negra. O Apartheid atacava juridicamente e ideologicamente dois aspectos da sociedade africana: um é claro as pessoas negras e o outro alvo do Apartheid era a organização comunista que ficou proibida, assim como o direito de negros casarem com brancos, morarem nos mesmos bairros de brancos e manifestar qualquer pensamento que não fosse ao encontro dos pensamentos das elites dominadoras e assim por diante.
Esta política de divisão foi combatida por mais de 40 anos pelas organizações políticas entre qual teve destaque a ANC (Congresso Nacional Africano em inglês) pela sua luta e seus lideres como Oliver Tambo, advogado que se tornou grande líder, membro da executiva e presidente da mesma. Mais tarde, no exílio, assumiu papel de comandante do braço armado da ANC. Outra figura de destaque viria a ser mais tarde o primeiro presidente negro e primeiro presidente eleito democraticamente na áfrica do sul, Nelson Mandela.
A ANC era uma organização política com muita proximidade do partido comunista. Entre as ações da ANC estava a construção de greves composta por milhares de trabalhadores, manifestações contra as tarifas do precário sistema de transporte coletivo e o planejamento de ações de guerrilhas. O final desta historia todos conhecem, entretanto a vitória contra o Apartheid, o direito a liberdade e a democracia conquistado pelo povo sul africano não foi o suficiente para mudar drasticamente a sociedade. O historiador egípcio Samir Amin alerta em suas obras que a única diretriz imposta pelos imperialistas sul africanos para as negociações de termino do Apartheid e a realização das eleições democráticas, seria a garantia de que não se instalaria um regime socialista no pais, objeção que foi aceita e que com toda a certeza definiu os padrões de vida hoje na África do Sul, onde extinguiu completamente o Apartheid do Estado, mas não dos hábitos de algumas pessoas em alguns lugares, como as praias de Durbam. É possível ver que negros, brancos, indianos e mulçumanos se dividem em praias diferentes, uma divisão apenas cultural talvez, ou ainda por esse hábito estar bem vivo na memória das pessoas mais velhas.
A África do Sul, famosa por suas minas de ouro e diamantes, tem hoje como carro chefe na economia o turismo, seja ecológico, de aventura e principalmente o referente à sua história local, como Soweto um bairro construído aos arredores de Johanesburgo, capital, para que os negros fossem morar longe dos brancos. É um dos locais mais visitados na áfrica, se não o mais visitado, isso se deve a vários fatores, pois Soweto é um bairro carregado de simbologia sendo este o reduto de resistência e centro de organização política dos negros. Em Soweto houve os mais sanguinários massacres, onde pessoas desarmadas eram mortas friamente pelo aparelho militar, essas memórias não foram apagadas e o povo, assim, construiu no bairro um memorial para lembrar cada vida, cada alma das pessoas que ali lutaram e morreram por suas convicções. O estudante Hector Peterson dá nome a este memorial por ser o estudante mais jovem a ser assassinado durante uma das maiores manifestações realizadas em Soweto, outro ponto bastante visitado de Soweto é a Vilakazi Estreet, a única rua do mundo que tem dois Nobeis da Paz: Nelsom Mandela e o bispo Desmond Tutu que tem suas casas quase que uma de frente pra outra. Outro grande ponto turístico é a Robben Island, na cidade do cabo, onde Mandela ficou preso por mais de 20 anos.
O turismo na áfrica é relativamente barato se comparado ao brasileiro. A moeda do país é o ZAR RAND que em relação ao real tem cotação em torno de 0,22 centavos de real para 1RAND, mas apesar de toda riqueza que existe neste pais uma grande parte da população ganha em torno de um salário mínimo que fica entre 1400 e 1500 Rands, algo em torno de 350 reais.r o estudante mais jovem a ser assassinado durante uma das maiores manifestações realizadas em Soweto, outro ponto bastante visitado de Soweto é a Vilakazi Estreet, a única rua do mundo que tem dois Nobeis da Paz: Nelsom Mandela e o bispo Desmond Tutu que tem suas casas quase que uma de frente pra outra. Outro grande ponto turístico é a Robben Island, na cidade do cabo, onde Mandela ficou preso por mais de 20 anos.
Isso me leva a refletir sobre minha principal lição aprendida na África, a de que podemos e vamos lutar para que brancos e negros usem de iguais direitos, de que a sociedade entenda que é obrigação dela garantir que as mulheres sejam respeitadas como qualquer outro cidadão, que mesmo que tudo isso aconteça essa seria apenas uma parcela diante da principal luta que temos pela frente, a de vencer nosso principal inimigo: o sistema capitalista- imperialista, porque na África do Sul se aprende que quando negros e brancos se tornaram “iguais” vê-se que não só o branco explora o negro, mas agora negro explora o negro, homem explora o homem, os sistemas econômicos estabelecidos em nossa sociedade historicamente sempre usaram de motivos ideológicos para causar discórdia e fundamentar a sua exploração, seja o idioma, a cor, a etnia, o sexo, o gênero. O capitalismo se recicla e aprimora sua forma de dominar a sociedade. Nosso papel é, na contra-hegemonia, buscar estabelecer novas bases de organização social, política e cultural, baseada na igualdade entre povos e nações, negros e brancos, homens e mulheres.
* Mateus Oliveira, é militante do Juntos Pelotas e coordenador do DCE-UFPel.