Virada Cultural: cultura uma vez por ano?
24h de arte e cultura na cidade. De quem e para quem? E os outros 364 dias do ano, onde fica a arte onde está o investimento em cultura da periferia?
* Giovanna Henrique Marcelino e Otavio Mancuso
São Paulo é conhecida como a cidade que não pára, a cidade que tem de tudo o tempo todo. No entanto, é apenas num período reservado de 24h que a cultura é convidada a mostrar suas caras. Ao longo do ano, é durante a Virada Cultural que as manifestações artísticas e o investimento em atividades culturais gratuitas aparecem de forma viva, aberta e espetacular no centro de São Paulo.
Não é a toa que a cultura não tem essa visibilidade mais vezes por ano. A prefeitura continua dando mostras que prefere organizar um evento “pontual” ao invés de garantir que iniciativas culturais espalhadas pelos bairros e periferias tenham espaço o ano inteiro. Cortes de verbas, repressão aos artistas de rua e o descaso com a produção cultural da periferia são alguns casos em que isso se traduz.
E isso acontece enquanto muitos jovens cotidianamente reclamam um espaço de inserção na esfera pública da cidade, encontrando na própria produção cultural e artística uma ferramenta de autoafirmação e equilíbrio frente os desafios do dia-a-dia. Muitas vezes a dança, a escrita, o grafite no muro se demonstram meios pelos quais a juventude na cidade consegue buscar uma verdade, encontrar possibilidades de repensar a sociedade ou mesmo uma forma de se expressar livremente e de se abstrair da bitola que o cotidiano na lógica urbana muitas vezes nos coloca. Assim, diversos movimentos artísticos expressam a presença de verdadeiros narradores de experiências de vida, de contestadores, que veem na cultura uma forma de se fazer ouvir e de se apoderar da cidade com manifestações de pensamento, de indignação, de reflexão.
Queremos outra política cultural para São Paulo, com mais verbas e planejamento para a cultura. Claramente esta não cabe e não se dá por completo por meio da realização de um grande evento de 24h. Queremos vida na cidade o ano inteiro, no centro, nos bairros e na periferia!
* Giovanna Henrique Marcelino é estudante de Ciências Sociais da USP e militante do Juntos! São Paulo e Otavio Mancuso é estudante de Ciências Sociais da Unicamp e militante do Juntos! Campinas