USP: ações da reitoria provocam críticas
do Estado de São Paulo. Mais de um ano após ganhar uma nova gestão, a Universidade de São Paulo (USP) passa por um momento de conflitos internos. Algumas medidas polêmicas adotadas pela reitoria estão gerando o questionamento de alunos, professores e funcionários, que se dizem insatisfeitos com a instituição.
Mais de um ano após ganhar uma nova gestão, a Universidade de São Paulo (USP) passa por um momento de conflitos internos. Algumas medidas polêmicas adotadas pela reitoria estão gerando o questionamento de alunos, professores e funcionários, que se dizem insatisfeitos com a instituição.
Os principais projetos da reitoria são os maiores alvos de discussão. O reitor da USP, João Grandino Rodas, afirma que só pode tomar decisões após os pareceres dos órgãos colegiados. “Não existindo decisão pura e simples do reitor, não é possível autoritarismo por parte dele”, afirma o reitor. (mais informações nesta página).
Rodas foi eleito no fim de 2009, em uma eleição que ocorreu sob protestos e provocou um debate interno. Segundo colocado da lista tríplice que é enviada para o governador do Estado – na época, José Serra (PSDB) -, Rodas foi escolhido por ser, na avaliação do governo, o mais indicado para apaziguar os conflitos na universidade.
A última gestão, da ex-reitora Suely Vilela, havia acirrado os ânimos de alunos e funcionários, culminando em greves longas e na ocupação da reitoria em 2007, por 50 dias. Foi durante essa administração que a polícia entrou em conflito com estudantes e servidores pela primeira vez desde o regime militar.
Reforma. Na gestão Rodas, um dos casos mais debatidos é a reforma da Cidade Universitária, que deve custar cerca de R$ 60 milhões e prevê a construção de novos espaços. O projeto será financiado com o excedente no orçamento da instituição, baseado no aumento da arrecadação estadual – a verba das três universidades estaduais, USP, Unicamp e Unesp, representa 9,57% da arrecadação do ICMS.
No lugar dos “barracões”, por exemplo, a USP pretende construir um complexo de 70 mil m² para abrigar atividades administrativas, docentes e de pesquisa, além de espaços dedicados à internacionalização da universidade. Como o Estado mostrou, as obras provocaram a transferência de trabalhadores para locais distantes da zona oeste, onde fica a Cidade Universitária, como Santo Amaro, na zona sul. “Estamos todos tristes e com medo de sermos transferidos”, afirma uma funcionária da reitoria que prefere não se identificar.
Questionamento. Na semana passada, uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo reuniu cerca de mil pessoas, entre alunos, professores e funcionários. O debate foi convocado pelo deputado Carlos Giannazi (PSOL). A intenção era discutir a atual situação da USP e apresentar uma representação que seria protocolada no Ministério Público, questionando a reitoria sobre a compra de imóveis fora do câmpus.
Segundo o documento, a USP adquiriu alguns imóveis – como um terreno na região da Consolação, de R$ 7,4 milhões, por exemplo. A reitoria seria notificada do procedimento. Como representante da USP, compareceu o coordenador de Relações Institucionais, Wanderley Messias. Ele deixou a audiência sem se pronunciar, após ser ofendido por uma funcionária e um estudante.
A discussão na Alesp também abordou o relatório de um grupo de professores da USP que propõe o corte de 330 vagas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), a USP Leste, e a possível extinção da graduação de Obstetrícia, que seria incorporada à Enfermagem. Desde a segunda quinzena do mês, estudantes e professores têm se mobilizado para defender o curso.
Discussão. Ao lado de algumas medidas tidas como impopulares, a reitoria também enfrenta alguns desafios antigos da universidade. A relação com os funcionários é historicamente tensa, com um passado de paralisações e greves. Às vésperas de um novo dissídio, os funcionários criticam a demissão, em 5 de janeiro, de 271 aposentados na ativa. Na época, a USP divulgou um comunicado afirmando, entre outras considerações, que a medida permitiria a renovação do quadro de funcionários. “Existe um clima de insegurança entre os servidores. É um descontentamento como nunca vi”, afirma um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno Carvalho.
Os funcionários demitidos afirmam que foram pegos de surpresa. “Não esperava uma atitude dessas da reitoria”, afirma Vera Soares, de 52 anos, que faz parte do grupo de servidores.
A Associação dos Docentes da USP (Adusp) também discorda de algumas medidas da administração. “Os recursos são distribuídos de forma antidemocrática”, opina o presidente da entidade, João Zanetic.
No entanto, medidas da atual gestão, como a criação das reuniões temáticas do Conselho Universitário e a reformulação dos cursos noturnos, por exemplo, têm agradado bastante. “O professor Rodas é muito bem preparado e experiente. Precisamos ter eficiência na administração e a reitoria tem mostrado isso”, afirma o diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP de Ribeirão Preto, Sigismundo Bialoskorski Neto.