O funk é inimigo do feminismo?
O machismo está presente em todos estilos, principalmente nos comprados pela indústria musical, e isso deve ser discutido e combatido. No entanto, criticamos aqueles que focam sua crítica no funk se escondendo atrás de um preconceito de cor e de classe. O funk é hoje a voz das periferias cariocas, que historicamente são oprimidas.
* Giulia Tadini
Levar a voz das comunidades
Aonde o nosso Funk atingir
Pois o favelado de verdade
Vai ser favelado mesmo se sair dali.
Por isso…
Sou favela
Eu fui
E sempre serei favela
(Mc Júnior e Leonardo)
Durante a Cúpula dos Povos, pudemos sentir o que é a primavera cariora em todos os cantos da cidade do Rio de Janeiro. Desde muitos vestindo na rua a camiseta da campanha “Nada deve parecer impossível de mudar” até pessoas nos bares querendo adesivos apoiando a pré-candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio. Uma das atividades que participamos foi uma roda de funk, organizada pelo MC Leonardo, que há anos luta pela descriminalização do funk carioca, som de negr@s e favelad@s. Essa atividade contagiou os que estavam presentes e fez muitas pessoas refletirem sobre esse gênero musical. Se a primavera carioca tem um fundo musical, esse é bem democrático, e vai do mpb ao funk carioca.
MC Leonardo é um dos defensores do funk, ele afirma que a história da senzala e de seus batuques, seus barulhos sempre foi criminalizada. O violão não, o piano não, mas o atabaque sim. Há um racismo e elitismo em relação ao funk. Em artigo “O funk é feminista” Carla Rodrigues argumenta como diversas letras do funk reafirmam o direito ao prazer do corpo da mulher para mulheres negras e faveladas. E ela questiona como pode o movimento feminista não reivindicar este movimento. Quando o feminismo nega o funk, será que não está reforçando a crimilização?
Não é de se surpreender que durante a cúpula dos povos, Valesca Popozuda participou de um ensaio fotográfico em defesa dos direitos das mulheres e dos LGBTs sobre seu próprio corpo. Valesca e diversas outras mulheres do funk reafirmam em suas músicas o direito à libertação sexual das mulheres da periferia. Podemos dizer que se a marcha das vadias tivesse uma trilha sonora, ela seria do funk. Em ambos fenômenos, as mulheres estão se afirmando como seres que podem fazer o que quiserem com seu próprio corpo, e podem afirmar seu prazer sexual.
Não estamos aqui negando que no funk existem letras que reproduzem e reforçam o machismo, mas isso não é algo único apenas deste estilo musical. Está presente em todos estilos, principalmente nos comprados pela indústria musical, e isso deve ser discutido e combatido. No entanto, criticamos aqueles que focam sua crítica no funk se escondendo atrás de um preconceito de cor e de classe. O funk é hoje a voz das periferias cariocas, que historicamente são oprimidas.
Nós do Juntas! estamos acompanhando a primavera carioca através da nossa correspondente Nathalie pelo blog Juntos somos Freixo!
Outros artigos interessantes:
- Manifesto “Movimento Funk É Cultura”
- Entre ofensa e o prazer sexual: do punk hardcore ação libertária ao funk carioca de Valesca Popozuda
* Giulia Tadini é estudante de Ciências Sociais e militante do Juntos!