Neste final de semana, manifestações em mais de 70 cidades por todo o planeta marcam o 1000º dia de Bradley Manning na prisão sem julgamento. Ativistas presentes nos cinco continentes organizaram atos, marchas, performances, instalações artísticas e outros eventos criativos para sensibilizar a população sobre a injusta detenção do jovem soldado.
Bradley é acusado de passar ao WikiLeaks documentos que expõem terríveis crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque. Entre os materiais está o vídeo Collateral Murder, que mostra soldados americanos num helicóptero fuzilando civis num bairro residencial de Bagdá e matando doze pessoas, entre elas dois jornalistas.
No chat que motivou sua punição, ele teria dito que esperava que a divulgação dessas informações pudesse motivar “discussão ao redor do mundo, debate e reformas”. Acredita-se que esse tenha sido o maior vazamento de documentos da história americana (maior inclusive do que o dos Papéis do Pentágono sobre a Guerra do Vietnã protagonizado por Daniel Ellsberg) e que tenha sido um fator motivante não só da retirada de tropas americanas do Iraque como também das revoluções no mundo árabe.
Preso aos 22 anos, Bradley Manning já passou mais de 10% da sua vida nessa condição. Por 11 meses, ele esteve em confinamento solitário e foi forçado a ficar nu, sem seus óculos, sofreu humilhação e privação do sono. Juan Mendez, relator especial da ONU sobre tortura, descreveu o tratamento dado a Bradley como cruel, desumano e degradante.
Além disso, o tempo de prisão de Bradley é ilegal. A lei militar dos EUA garante que o acusado deve ser levado a julgamento até 120 dias depois de detido. Manning já passou oito vezes mais do que a lei permite na prisão e seu julgamento está agendado para finalmente começar apenas no dia 3 de junho.
O tratamento dado a Bradley não é por acaso. O governo americano está decidido a fazer do caso um exemplo para desencorajar outras pessoas de divulgar verdades para o mundo como ele fez. Por isso o caso é tão crucial e por isso Manning merece nosso total apoio.
* Tiago Madeira é estudante de Ciência da Computação na USP e militante do Juntos!