O que defende quem defende Yoani Sánchez?
A visita da blogueira cubana tem agitado o Brasil mas pouco se fala sobre o que defende quem defende Yoani Sánchez.
*Júlio Câmara
As últimas semanas têm sido agitadas entre os defensores, críticos, e defensores críticos – meu caso – do governo de Cuba. Acontece que desembarcou no Aeroporto Internacional do Recife, na madrugada do dia 18, a blogueira cubana Yoani Sánchez que escreve um blog com críticas ao regime castrista.
Entre os fatores que colocaram Yoani sob holofotes do mundo estão as constantes farsas desmascaradas depois de serem publicadas no seu blog, o “Geração Y”. Entre as mentiras da blogueira, destaca-se a de quando “foi sequestrada e espancada a mando de Fidel Castro”, convocou uma coletiva de imprensa em 24 horas e apareceu sem qualquer marca no corpo.
Yoani segue mais de 80 mil pessoas no Twitter e avisa no seu próprio perfil: Tuíto por SMS. Quem já usou o Twitter através de SMS ou de qualquer conexão precária, pode imaginar quanto tempo ela levaria para seguir tanta gente. E sobre os seguidores de Yoani, 50 mil são falsos criados exclusivamente para segui-la. Fica evidente que ela conta com ajuda de programas fraudulentos para bombar o seu perfill.
A relação de Yoani com o serviço de segurança dos EUA virou pública quando o WikiLeaks divulgou um documento diplomático em que Michael Parmly, ex-chefe da Seção de Interesses Norteamericanos, disse que “ficaria muito incomodado se as numerosas conversações que tive com Yoani Sánchez fossem publicadas“.
Como o acesso à internet em Cuba é bastante precário – em grande parte por causa do embargo yankee que está sendo solucionado em parceria com a Venezuela – Yoani escreve para o mundo através de voluntários que traduzem seus textos para 15 idiomas. Fiquei curioso e quis conhecer melhor o voluntário que traduz o blog para o português.
Com uma rápida pesquisa no Google e em algumas redes sociais, facilmente compreendemos o que leva Humberto Sisley de Souza Neto a apoiar Yoani Sánchez. Podemos traçar o seu perfil através das páginas que curte, as pessoas que admira, as ideias que divulga. E isso eu tentarei fazer agora.
Não queremos a família Castro, queremos a família real
Humberto Sisley de Souza Neto é um médico com mais de 60 anos de idade, do Rio de Janeiro que, na internet, se apresenta como um incansável defensor da – PASMEM!- monarquia. No Facebook, é fã da página “Monarquistas da Casa Real do Brasil” que “reconhecem Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança e a Casa Real do Brasil”.
Me parece irracional que o apoiador da blogueira que implora por liberdade e democracia em Cuba seja um defensor da monarquia, um regime onde não escolhemos nossos representantes e o poder é herdado entre quem possui o sangue nobre. E possuir sangue nobre é ser descendente de quem há centenas de anos atrás explorou incessantemente a nossa terra, extraindo nossas riquezas com mão-de-obra escrava e chacinando os índios que aqui viviam.
Confesso que cogitei a hipótese de tanta contradição ser apenas imaturidade intelectual de um pré-adolescente na puberdade, já que ele também curte a página “Pippa Middleton Ass Appreciation Society”, dedicada a homenagear, em especial, a bunda de Pippa Middleton, a única irmã de Catherine, Duquesa de Cambridge. Mas nas próximas linhas esclareço porque acredito que o que o move são objetivos menos nobres.
Segurança: O exemplo que vem de Israel!
Yoani não poupa críticas à polícia cubana. Em especial, à polícia política que, segundo ela, é autoritária e frequentemente agride opositores ao regime. Ela mesma jura que já foi vítima, como escrevi no começo do texto. E, pensando em segurança, o apoiador de Yoani tem sua referência: Força de Defesa de Israel, responsável por diversas chacinas e, segundo a Anistia Internacional, por “assassinatos ilegais, tortura e maus tratos aos prisioneiros e destruição perversa de centenas de casas“.
Também é preciso lembrar que em 2006 as Forças de Defesa de Israel quebraram um recorde: mataram mais de 300 civis em 6 dias.
Liberdade na internet? Só quero pra mim!
Na política nacional, ele também mostra suas preferências: Álvaro Dias, do PSDB do senador Azeredo que tentou censurar a internet no Brasil (leia: Lei Azeredo), e Kátia Abreu (PSD), testa de ferro da bancada ruralista que ganhou o irônico “prêmio Motossera de Ouro” do Greenpeace graças a sua forte atuação para facilitar o desmatamento das nossas floretas.
Já que falei sobre o Azeredo, também cabe citar que o Humberto curte a deputada estadual do Rio de Janeiro Cidinha Campos (PDT) que entrou na justiça para tirar um canal de vídeos crítico ao governo estadual do ar.
Nem esquerda, nem direita? Si! Pero no mucho…
Para fechar e invalidar o discurso de que Yoani e seus apoiadores não são nem de esquerda e nem de direita, o tradutor voluntário é ativo na página do Instituto Mises Brasil dedicado a “promover os ensinamentos da escola econômica conhecida como Escola Austríaca” e, a máxima do liberalismo: “opor-se às intervenções estatais nos mercados e na sociedade”.
Para não restar dúvidas, a página “Endireita Brasil” está na lista de favoritos de Humberto. Quem acessar, pode conferir o objetivo deles: “defende uma nova direita no cenário político brasileiro: liberal, ética e democrática”.
A conclusão disso tudo, foi bem sintetizada por Thiago Aguiar, Mestrando em Sociogia na USP e do Grupo de Trabalho Nacional do Juntos.
“Nesse marco, é bastante legítimo manifestar-se contra a presença de Yoani Sánchez e tratar de mostrar as incoerências de seu discurso. Mas não são legítimas manifestações de truculência e impedimento à expressão justamente dos que se apresentam como defensores do socialismo e da revolução. Para fazê-lo, é preciso mostrar que não há socialismo sem sua conjugação com liberdade e democracia dos de baixo.
As denúncias de Yoani, ainda que possam ter alguma base na realidade, vindas dela, são uma completa fraude. Mas igualmente são uma fraude manifestações que pretendem defender a revolução e o socialismo, calando sobre as contradições cubanas, organizadas justamente por PCdoB e PT, que colocaram parte da tradição socialista brasileira na lama ao realizar governos de conciliação de classes para executar o programa do capital financeiro internacional para o Brasil, em conjunto com canalhas reacionários como Maluf, Sarney, Kassab e Renan Calheiros. A quem vocês pensam enganar?”
A situação de Cuba é mais complexa do que sugere o discurso de Yoani, do que pensa seu tradutor Humberto ou dos militantes do PT/PCdoB. Por isso é tão importante saber o local da fala, o que defende quem defende Yoani.
*Júlio Câmara é membro do Grupo de Trabalho Estadual do Juntos! RS e bixo de Jornalismo – UFRGS