Sou feminista, sou radical, estou na rua para derrubar o Cabral!
Um grito ecoou pelas ruas de Copacabana e Ipanema, no Rio de Janeiro, no último sábado. Como em várias partes do mundo, as mulheres de todos os cantos do país se reuniram para, com uma só voz, exigirem nossos direitos usurpados por tantos anos, por uma sociedade machista e conservadora.
Marcela Lisboa*
Maíra T Mendes**
Um grito ecoou pelas ruas de Copacabana e Ipanema, no Rio de Janeiro, no último sábado. Como em várias partes do mundo, as mulheres de todos os cantos do país se reuniram para, com uma só voz, exigirem nossos direitos usurpados por tantos anos, por uma sociedade machista e conservadora.
Estivemos na Marcha das Vadias do Rio de Janeiro (MVRJ), evento que passou a ser realizado em dezenas de cidades pelo mundo, desde Toronto, no Canadá em 2011. A primeira Marcha das Vadias aconteceu quando, após diversos estupros ocorrerem numa universidade, policiais recomendaram às mulheres “vestirem-se decentemente”, atribuindo responsabilidade pela violência às roupas das mulheres, e não aos estupradores.
Mas havia algo diferente nesta Marcha: a MVRJ ocorreu numa conjuntura histórica do Rio de Janeiro, durante a Jornada Mundial da Juventude, mais um dos megaeventos que seguem vendendo a cidade para um punhado de investidores enquanto quem nela vive segue com péssimas condições de transporte, educação, saúde, e no caso, nossos direitos sexuais e reprodutivos. É uma falta de responsabilidade, num evento com tantos jovens, campanhas categorizando DIU, pílula anticoncepcional e pílula do dia seguinte como abortivos e desincentivando o uso de camisinhas! Até panfletagem de “fetos” de plástico os fundamentalistas utilizaram para criminalizar as mulheres que abortam. Felizmente algumas pesquisas (http://bit.ly/12Ysgpu) demonstraram que, diferente da linha oficial da Igreja Católica, a maioria dos peregrinos defende os métodos contraceptivos, ainda que não concorde com a legalização do aborto.
Não foi só isso: durante toda a Jornada foram realizados protestos contra as arbitrariedades do governo de Sérgio Cabral e Eduardo Paes: a tentativa de criminalizar o movimento ancorada no monopólio dos meios de comunicação, o dinheiro público usado no terreno de Jacob Barata (dono, ou melhor, rei de várias empresas de ônibus) para cortar árvores e aterrar o “Campus Fidei” em Guaratiba, mais enlameado do que o próprio Cabral, o sumiço do Amarildo pela Polícia “Pacificadora” na Rocinha, tratar os movimento como caso de polícia, através de repressão, e inclusive as suspeitas de seqüestros de militantes do PSOL que denunciaram abusos desta corporação com resquício de ditadura militar.
Nós do Juntas ficamos muito orgulhosas de nosso papel na manifestação que reuniu mais de três mil pessoas. Usamos da arte e criatividade, pintando bocas enormes em nossos corpos para simbolizar nosso grito há muito entalado na garganta. Gritamos contra os padrões nos nossos corpos, contra a violência, contra o Cabral, exigindo o paradeiro do Amarildo, contestando as diversas formas de desigualdade que não suportamos mais que sejam silenciadas.
O machismo normatizado por nossa sociedade não nos representa. Lugar de mulher é na rua, é na luta. De idosas a crianças, de religiosas a atéias. Mulheres e homens se uniram com um só propósito: reivindicar direitos. Cantamos funk, cantamos palavras de ordem, pintamos reivindicações nos corpos seminus, que quando vendidos no Carnaval não causam tanto espanto. Tivemos tambores, intervenções teatrais, distribuição de camisinhas (“use, o papa não vai saber”), olhares curiosos, alguns intolerantes, mas a maioria com simpatia – inclusive a de muitos garis que se deslocavam de Ipanema para Copacabana.
Dissemos basta a violência contra a mulher! Dissemos que nós, mulheres, devemos decidir o que fazer com nossos corpos, e lutamos para que o aborto seja legal, seguro e gratuito. Denunciamos o absurdo Estatuto do Nascituro que coloca os direitos de um punhado de células sobre os direitos da mulher, e dá direitos de pai a estupradores, que passariam a entrar na Certidão de Nascimento. Reafirmamos que, independente de cor, religião ou sexualidade, somos protagonistas de nossas próprias histórias, e não vamos mais nos sujeitar ao machismo de cada dia. Para algumas, a primeira experiência. Para outras, mais uma vitória. Para todas, apenas o começo.
Fomos à rua porque mais do que nunca, é necessário revelar os interesses do Estado: é preciso que seja verdadeiramente laico para garantir o direito de tod@s, independente de religião! Não podemos seguir aceitando que os direitos das mulheres, o direito à cidade, o direito à moradia digna, educação, saúde, transporte continuem sendo moedas de troca na governabilidade de Paes, Cabral ou Dilma. As mobilizações de junho mostraram que é possível conseguir vitórias, e seguiremos este método para avançar e não retroceder.
É por isso que reduzir a Marcha das Vadias a crucifixos e santas quebradas é dar a importância de asterisco a uma totalidade rica e turbulenta que vive o Rio de Janeiro. Um momento em que a linha de frente foi das mulheres que não hesitam em tomar as ruas para derrubar o Cabral. E voltarão a cada dia, independente da repressão.
Se você também acha que a luta das mulheres é indissociável da luta para derrubar o Cabral, venha construir com o Juntas! Queremos que mais mulheres sejam protagonistas e é só dar o primeiro passo – para participar de nossas reuniões entre em contato conosco pelos emails mai.biologia@gmail.com ou m.liisboa@hotmail.com.
Mulheres de todo o mundo, uni-vos!
*Marcela Lisboa é militante do Juntas e estudante de Jornalismo da Faculdade CCAA
**Maíra T Mendes é professora, militante do Juntas, e estudante da UERJ