Craques do futebol vão pro ataque contra a CBF
Um levante dos ídolos do futebol brasileiro sacudiu a cena esportiva nacional. No campo dominado pela toda-poderosa Confederação Brasileira de Futebol, 75 jogadores dos principais clubes da série A e B lançaram-se à disputa contra o calendário do futebol nacional em 2014.
*Rodolfo Mohr
Um levante dos ídolos do futebol brasileiro sacudiu a cena esportiva nacional nesta terça-feira, 24 de Setembro. No campo dominado pela toda-poderosa Confederação Brasileira de Futebol, 75 jogadores dos principais clubes da série A e B lançaram-se à disputa contra o calendário do futebol nacional em 2014. Querem ainda conquistar a adesão do conjunto dos outros jogadores.
Incontestavelmente, insurgiu-se o setor que pode fazer um grande estrago ao poder da CBF e de seus aliados, como a Rede Globo e a FIFA. Essa tríade, junto com o governo federal, é que sustenta a Copa do Mundo de 2014, com todas as suas contradições, mazelas e desrespeito ao povo brasileiro e ao dinheiro público.
Os clubes estão escravizados pelas verbas da televisão. O Clube dos 13, entidade criada para representar os maiores clubes do país, foi inviabilizada por isso, por pressão da própria Globo, que ofereceu mais dinheiro a quem negociasse por fora do Clube dos 13. Acredito que muitos clubes não queiram enfrentar o comando do futebol nacional e joguem a favor dos interesses da Rede Globo e da CBF. Muitos comprometeram a alma para ter jogos da Copa em seu estádio. Nesse contexto, os clubes descontentes acabam impotentes.
É mais uma potente voz de contestação que surge nesse Brasil agitado. São os efeitos de junho no futebol brasileiro. Nossos jogadores nunca foram conhecidos pela sua politização. Sócrates e seus companheiros de Democracia Corinthiana foram uma página memorável e única no esporte bretão. Um ou outro se destacam por posições progressistas, como Paulo André do Corinthians e o meia Alex, do Coritiba. O craque paranaense soltou o verbo em entrevista para o jornal O Lance!. Alex criticou o futebol depois do “último beijo da novela”, do domínio da Globo sobre a CBF, que não se preocupa com os clubes, só com a Seleção. Para além das ideologias, os jogadores signatários desse manifesto são os portavozes mais reconhecidos de seus grupos, com grandes personalidades como Rogério Ceni, Zé Roberto, D’Alessandro, Juninho Pernambucano, Paulo Baier, Rafael Sóbis, Victor, Valdívia, Edu Dracena, Elias, Jefferson, Fábio, além dos citados Paulo André e Alex.
O tema promoveu reações de acordo com a expectativa. Anunciada ainda na segunda à noite no Blog do Juca, Kfouri é um dos grandes entusiastas do movimento dos jogadores autodenominado Bom Senso FC, que já conta com página no facebook. A repercussão tomou a imprensa esportiva. Vitor Birner, jornalista, também vibrou com a iniciativa no seu blog. No texto “Todos que amam o futebol brasileiro devem apoiar a luta dos atletas por melhorias no calendário” diz que os jogadores merecem aplausos pelo movimento. Confirmando a importância da ação dos principais boleiros em atuação no Brasil, o Globoesporte.com não manteve a notícia como um dos destaques no site, mesmo que o fato preencha os principais critérios de noticiabilidade.
Uma das manifestações mais aguardadas era a do Deputado Romário, que coerente com suas declarações e atitudes no Congresso, definiu, no facebook, a atitude dos jogadores como “extremamente sensata”. Foi além: “Este levante contra a CBF por parte dos atletas era algo inimaginável até bem pouco tempo. Sorte que eles acordaram a tempo. O que na prática estes jogadores estão comprovando é que o venho dizendo há muito tempo: a CBF não está preocupada com futebol, a única preocupação desta entidade é encher as burras de dinheiro. É por este motivo, inclusive, que estamos assistindo nosso futebol descer ladeira abaixo” disparou o artilheiro da camisa 11 na conquista do tetra em 1994.
A desqualificação do Bom Senso FC começou pela tropa de choque da CBF, as federações estaduais. Francisco Noveletto, presidente da federação gaúcha, afirmou que os atletas “estão reclamando de barriga cheia”. É notório no mundo do futebol que Novelletto é um dos que fazem qualquer coisa para entrar na sucessão do comando da CBF. Um dos que tem João Havelange e Ricardo Teixeira como exemplo.
Os argumentos de que os atletas são milionários, tem todas as regalias e benefícios serão usados fartamente pelos donos do futebol brasileiro. Por isso, mais do que nunca, devemos nos unir aos nossos ídolos contra a CBF. Nossa mobilização já havia derrubado Teixeira, antes mesmo de junho de 2013. Está novamente à tona a necessidade de uma liga de futebol independente, comandada pelos clubes, transparente e que termine com a elitização do futebol brasileiro. Que as Arenas da Copa deixem de ser o palco da exclusão do torcedor de baixa renda e sejam os templos da paixão nacional, tomadas pelo desdentados da geral do Maracanã de antigamente e por atletas de Bom Senso.
*Rodolfo Mohr é gremista fanático, jornalista e do Juntos.