Não foi por 20 centavos, nem é só por 19%. Os educadores do Rio lutam pela educação pública!
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Não foi por 20 centavos, nem é só por 19%. Os educadores do Rio lutam pela educação pública!

Uma das palavras de ordem de junho foi “não é só por 20 centavos”. Hoje a história se repete, os profissionais de educação do Rio elegeram como principal pauta, não apenas o reajuste do salário, mas um projeto: uma educação que forme cidadãos, pública e de qualidade.

 

Não foi por 20 centavos, nem é só por 19%. A luta dos educadores do Rio é pela educação pública de qualidade para todos!

Assembleia dos profissionais da educação da Rede Municipal (Lapa, 3.9.13)

Assembleia dos profissionais da educação da Rede Municipal (Lapa, 3.9.13)

Quem tiver nada pra perder

Vai formar comigo o imenso cordão

Ninguém vai me acorrentar

Enquanto eu puder cantar

Enquanto eu puder sorrir

Alguém vai ter que me ouvir

(Cordão – Chico Buarque)

 

 por Thaís Coutinho* e Maíra Tavares Mendes**

 

Uma das principais palavras de ordem de junho foi “não é só por 20 centavos”. Poucos meses depois da maior mobilização de massas que o Brasil já viu, a história se repete – os profissionais de educação, sobretudo da rede municipal, elegeram como principal pauta, não apenas o reajuste do salário, mas um projeto: uma educação que forme cidadãos, que não esteja baseada na meritocracia, e que precisa de autonomia pedagógica.

Estas reivindicações foram capazes de mobilizar massivamente a categoria – milhares de educadores, dentre os quais muitas mulheres, resolveram dizer um basta a um modelo de educação que perpetua as enormes desigualdades que vivemos no Rio de Janeiro. Portanto, ao se contrapor ao atual sistema educacional, os educadores fazem cair a máscara dos autoritários governos Paes e Cabral.

Paes a culpa é sua!

Paes a culpa é sua!

A mobilização exigia do governo, entre outras coisas, a elaboração de um plano de carreira, reivindicação histórica da categoria. Porém o Plano proposto pelo prefeito Eduardo é um ataque à educação pública. Ele não atende as premissas básicas reivindicadas pela greve: ser um plano unificado, paridade para aposentados, valorização por tempo de serviço e por formação. É um plano que deixa de fora mais de 90% dos profissionais de Educação do Rio de Janeiro. E para piorar, o plano legitima a dita “polivalência”, isto é, institui que um professor deve lecionar uma matéria para a qual ele não é habilitado.

Foi a gota d’água: a indignação na categoria é enorme. Não é de qualquer greve que falamos aqui: é uma greve massiva, e por isso chamou tanta atenção da mídia. Todos nós sabemos que a grande mídia tenta criminalizar e esconder os movimentos para blindar o governo. Mas a greve está sendo tão forte que não é possível mais escondê-la. Os atos reúnem milhares de educadores, tendo já alcançado quase 20 mil professores em um único. A capacidade de mobilização e diálogo com a população são os principais pontos que diferenciam esta greve de muitas outras que aconteceram e acontecem no Brasil.

 

Ocupação da Câmara

Um dos pontos altos da greve foi a ocupação da Câmara Municipal com aproximadamente 300 educadores. Primeiramente por mostrar a disposição da categoria: eram profissionais que não tiveram medo das ameaças do governo. Vale lembrar que os professores foram  ameaçados de exoneração ao ocupar a Câmara para pressionar os vereadores pela retirada do Plano proposto por Paes.

1377097_549094248499125_1753502171_nNaquele momento, após várias tentativas de diálogo sem sucesso com a Prefeitura (cabe lembrar que o governo não compareceu a diversas reuniões em que havia se comprometido), a ocupação se fez necessária. Os educadores do Rio, não poderiam deixar o Plano passar sem lutar. Então não restava outra opção a não ser ocupar o plenário e dar o recado para a bancada governista. Dentro da Câmara, os educadores levantaram suas bandeiras, colocaram seus cartazes, fotos da greve, realizaram debates, transformaram aquele ambiente vazio de Política em um ambiente vivo e intenso. Mais uma vez mostraram a força do movimento de massas, pois além das centenas de educadores lá presentes, (incluindo professores – PI, PII e PEI, AAC, cozinheiras, secretarias escolares, aposentadas… toda a categoria) um número maior se reunia todos os dias do lado de fora demonstrando seu apoio. A população carioca se mobilizou para que não faltasse nada lá dentro, foram à Câmara prestar apoio colegas de trabalho,  alunos, pais de alunos.

Um país que bate em educadores não tem futuro

Os profissionais da educação ocupados sabiam que estavam fazendo a coisa certa, e por isso, incomodando muito o governo. Apoiando-se em um mandato de segurança antigo e inválido (da ocupação da CPI dos ônibus) a força policial realizou a desocupação no sábado à noite. O comandante da polícia ao ser questionado pelo SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação) sobre a ordem de retirada sem mandato, afirmou que a ordem veio do governador Sérgio Cabral, a pedido do presidente da Câmara Jorge Felipe. O Prefeito Eduardo Paes, que já deixou sua máscara cair há tempo, e o governador Sérgio Cabral demonstraram que em seus governos a  “Educação é caso de Polícia”.

Um registro importante, víamos o clima cada vez ficar mais tenso, naquele sábado, a câmara se enchia de policiais. Estavam todos (os PMs) posicionados na porta de frente do Plenário. Começamos então a nos dar osbraços e a cantar “o povo unido é povo forte, não teme a luta não teme a morte…”. Nós, que durante aqueles dias vivenciamos a fundo a palavra companheirismo, permaneceríamos assim até o fim. Algumas imagens marcaram nossas memórias: a polícia entrava pelas duas portas, uma companheira sendo levada do plenário por três policiais, mesmo assim continuamos resistindo, de braços dados, lado a lado. É difícil de aceitar tanta violência. Éramos em grande maioria mulheres, muitas senhoras, que começaram a passar mal ao serem empurradas pela polícia. Tentávamos ajudá-las, mas a PM não deixava Percebíamos que os companheiros que permaneceram lá fora (tentando impedir a entrada da polícia) sofreram ainda mais, a polícia os atacou Não conseguimos manter a ocupação, mas a mobilização segue intensa.

Minutos antes da desocupação - Foto: Bruno Bentolila

Minutos antes da desocupação – Foto: Bruno Bentolila

 

A terça-feira (01/10): dia da votação do plano

Na terça passada (01/10, dia de votação do Plano) uma grande demonstração de força novamente foi dada. Os profissionais da educação e a população que saiu em seu apoio ocuparam o centro da cidade do Rio de Janeiro. Todos estavam ali para demonstrar mais uma vez que aquele plano não era bem-vindo. E o governo agiu, mais uma vez, com uma truculência enorme. Fez do centro da cidade um campo de batalha. A repressão policial usada contra educadores e população indignou a todos. A cena lembrava uma verdadeira guerra, com grades para cercar os manifestantes e isolar o acampamento onde estavam os profissionais. Bombas foram jogadas por policiais de cima dos prédios na Cinelândia. Os educadores foram tratados como criminosos por defender a educação pública. Nas redes sociais, pudemos ver ima

gens de um Rio em guerra. De um lado a força repressora de Paes e Cabral, com suas armas pesadas, suas bombas e carrprofessoresemgreve_rjos blindados. De outro, os educadores desarmados, mas com a “história na mão”, “aprendendo e ensinado uma nova lição”. E é por isso que a greve é tão perigosa para o governo: embora desarmados, trazemos a arma mais perigosa – o pensamento crítico e a certeza que é possível mudar a história da Educação e do nosso país. Estamos aprendendo e ensinando que a somente a luta transformará a sociedade brasileira. E não estamos dispostos a esperar sentados por isso. Sabemos que o momento é agora, sabemos da nossa força.

As jornadas de junho foram essenciais para incentivar os processos de lutas que existem hoje no Brasil. Elas serviram como exemplo de que é possível conseguir vitórias através da mobilização. Por isso, mesmo com repressão, educadores, demais profissionais e população voltam em maior número às ruas. Por isto, todos estão convocando, assim como o SEPE, um grande ato na segunda-feira (07). E esperamos o apoio e a presença de toda a população carioca, pois sabemos que podemos repetir junho a partir deste dia. Esperamos que os nossos alunos, os pais, e tod@s aqueles que se indignaram com a truculência policial na noite de sábado e terça se juntem a nós. Queremos mostrar para o prefeito e para o governador que a Educação merece respeito. E que a luta em defesa da Educação é de todo o carioca! Como cantou Geraldo Vandré:”vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. E nossa hora é agora!

* Thaís Coutinho é professora das redes municipal e estadual do Rio de Janeiro, diretora do SEPE, e militante do Juntos e do PSOL.

** Maíra Tavares Mendes é professora, estudante da UERJ e militante do Juntos!

 

Professores são Reprimidos pela PM - Imagem do Brasil de Fato

Professores são Reprimidos pela PM – Imagem do Brasil de Fato

 


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