Portar um nike e vencer?
No Brasil das quebradas e da Copa do Mundo é o canto dos oprimidos que traz justiça às periferias. Na contramão, o último clipe do MC Guimé “País do Futebol” dá um salve à nação do futebol e das oportunidades que está sendo tomada e revolucionada pelas periferias – uma distorção atraente e perigosa da realidade.
No Brasil das quebradas e da Copa do Mundo é o canto dos pobres e oprimidos que pode romper a normalidade da opressão, que pode trazer luz e justiça às periferias. Na contramão de uma mensagem crítica, o último clipe do MC Guimé “País do Futebol” (com Neimar e Emicida) dá um salve à nação do futebol e das oportunidade que está sendo tomada e revolucionada pelas periferias – uma distorção atraente e perigosa da realidade. Por quê?
Emicida fala de contar a própria história. Guimé diz resumir a “total realidade”. Nossa história é de 500 anos de Brasil, de racismo e escravidão; a realidade é de luta, dor e algumas poucas vitórias. É importante reconhecer o espaço que as periferias vêm ganhando na identidade nacional, mas sem perdermos a noção do que isso nos custou e que hoje a maioria esmagadora dos jovens da periferia não é Neimar, nem Guimé, nem Emicida. São mão de obra barata pro mercado ou pro tráfico, sem perspectivas de melhora.
Vejo o clipe “País do Futebol”: http://www.youtube.com/watch?v=bWnS2dIDgQA
Nos últimos anos os movimentos culturais periféricos se fortaleceram dentro e fora da grande mídia, levando a realidade dura das massas trabalhadoras para milhões de acessos no Youtube através de clipes muitas vezes amadores. Desde modas como “leleque” até rimas reflexivas do rap e do funk explodiram nas redes sociais e ganharam a atenção de mais gente.
Mas o mercado é rápido: Transforma em mercadoria todo tipo de filosofia, jogando fora o que não lhe interessa. Se vendem Jesus, se transformaram Che Guevara em camisetas, porque não vender um estilo de pobre emergente (“olha aonde a gente chegou”) – ocultando as necessárias críticas aos donos do poder? Eis a nova música de Guimé, que prega o sonho do país do futebol com oportunidade para a periferia sem mostrar que a luta existe e custa caro, luta de Amarildo, Douglas e tantas pessoas que perdem seu futuro nas quebradas.
Não é sobre ganhar dinheiro. Não é sobre celebrar nossa conquistas. É sobre acreditar no sonho e nas oportunidades, mas entender que isso é acreditar no que o povo gritou em Junho nas ruas. Na mudança social através da organização. É entender a banalizaçao de nossas prioridades com o embelezamento da Copa, é não esquecer da fila do sus todo dia, é jamais esquecer do piso salarial dos professores. E palavras sobre copa/quebradas sem isso não nos representam.
* por Otávio Mancuso, militante do Juntos Campinas.