Natalia Viana: “Não falar sobre asilo a Snowden é como não ver o elefante branco na sala”
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Natalia Viana: “Não falar sobre asilo a Snowden é como não ver o elefante branco na sala”

Se o governo brasileiro quer liderar o debate mundial sobre governança na internet e vigilância, ele tem a obrigação moral de intervir na situação dos sete jornalistas e whistleblowers sem os quais não haveria, afinal, a conferência Net Mundial.

Natália Viana 25 abr 2014, 21:41

Transcrição da fala de Natalia Viana (diretora da Agência Publica e representante do WikiLeaks no Brasil) no debate “Soberania digital e vigilância na era da Internet” do #ArenaNETmundial. O Juntos esteve na atividade, que também contou com a participação de Julian Assange, Sérgio Amadeu, Jacob Appelbaum e Roy Singham.

“Ativistas e membros da sociedade civil denunciaram fortemente que o evento Net Mundial trouxe um comunicado fraco. Para mim, há algo muito importante de ressaltar, que é o perigo político de uma iniciativa assim. A abordagem tímida sobre a vigilância e a espionagem global é apenas uma face da postura falha do governo brasileiro (e da comunidade internacional) sobre a questão.

Se o governo brasileiro quer liderar o debate mundial sobre governança na internet e vigilância – que foi afinal o que levou à indignação da presidenta Dilma para chamar essa conferência – ele tem a obrigação moral de intervir na situação dos sete jornalistas e whistleblowers sem os quais não haveria, afinal, a conferência Net Mundial: Julian Assange, Chelsea Manning, Sarah Harrison, Edward Snowden, Glenn Greenwald, Laura Poitras e David Miranda.

O governo brasileiro deixou sem resposta oficial o pedido ao asilo do Snowden, que declarou abertamente a imprensa brasileira seu desejo de receber asilo no Brasil. Fontes do Itamaraty afirmaram algumas vezes que o Brasil não atenderá ao pedido. O Brasil, ao mesmo tempo, jamais se posicionou fortemente sobre a situação do Julian Assange, preso há 1233 dias, e quase dois anos encerrado na embaixada equatoriana em Londres.

O impasse diplomático entre Equador e Reino Unido – que se nega a dar o salvo conduto para que Assange viaje a país que lhe deu asilo – precisa urgentemente de mediadores para avançar. Eu vejo o Brasil como um candidato natural e necessário como mediador, pela sua experiência e eficiência em negociações internacionais com o nosso Itamaraty.

Agora que o Brasil quer ser uma liderança mundial no debate sobre a governança na internet, terá que assumir uma posição mais firme. Não existe discussão sobre internet, liberdade, princípios e vigilância sem buscar uma solução para a criminalização desse trabalho jornalístico realizado por este grupo.

Tentar fingir que essa questão – que está no cerne da atual geopolítica digital mundial e da preponderância americana sobre a internet – não existe é como não ver o elefante branco na sala. Qualquer tentativa de avançar no debate mundial sem falar disso será incompleta e impotente.

Por isso, peço: Presidenta Dilma, ofereça asilo a Edward Snowden e busque a mediação do impasse entre Reino Unido e Equador para que Julian Assange goze finalmente do asilo politico que recebeu do Equador, nosso país irmão.”


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