A midiática morte de Bin Laden e as revoluções árabes
Os Estados Unidos assassinaram o líder da Al-Qaeda no mesmo período em que as revoluções árabes estão derrubando seus aliados do poder. Coincidência, acaso ou sorte? O nosso século começou assim. Em 2001, as torres gêmeas dos Estados Unidos foram destruídas pela organização terrorista Al-Qaeda, liderada por Osama Bin Laden. Mais de 3 mil pessoas […]
Os Estados Unidos assassinaram o líder da Al-Qaeda no mesmo período em que as revoluções árabes estão derrubando seus aliados do poder. Coincidência, acaso ou sorte?
O nosso século começou assim. Em 2001, as torres gêmeas dos Estados Unidos foram destruídas pela organização terrorista Al-Qaeda, liderada por Osama Bin Laden. Mais de 3 mil pessoas foram assassinadas. O governo americano contra-atacou, com seus próprios métodos terroristas. Foi inaugurada a “guerra contra o terror”. Assim, começou um ciclo de violência crescente e difícil de escapar. Porque os Estados Unidos passaram a acreditar que qualquer ação era legítima para aniquilar o fundamentalismo islâmico . E a guerra virou uma suposta “ferramenta da paz ”. A guerra no Iraque e a guerra no Afeganistão serviram para várias coisas: primeiro, para fortalecer o nacionalismo americano a partir do sentimento de vingança; segundo, movimentar a lucrativa indústria da guerra; terceiro, para buscar petróleo. Isso tudo, acobertado pela idéia de justiça.
A morte de Osama Bin Laden em 1º de maio de 2011 virou um espetáculo midiático. Porém, lembrem-se: Bin Laden foi assassinado num momento totalmente novo da história do mundo árabe. E não parece ter sido por mero acaso. As revoluções árabes são o fato mais importante do século. Essas revoluções estão derrubando ditadores aliados dos Estados Unidos, como no Egito e na Tunísia. A idéia de democracia radical se espalhou para Líbia, Síria, Iêmen, Barhein, Marrocos. Milhões de pessoas entraram na onda revolucionária. E essas revoluções não têm nada a ver com fundamentalismo islâmico ou terrorismo. Muito pelo contrário , são revoluções relativamente pacíficas e não tem o islamismo como eixo. Não são fanáticas, e sim tolerantes com as diferentes crenças.
Neste quadro, existem hoje dois movimentos anti-americanos na região árabe: o terrorismo islâmico da Al-Qaeda, de um lado, e o movimento das massas por democracia, de outro. Tenho a impressão que, diante destes dois inimigos, os Estados Unidos prefere a Al-Qaeda. Quer dizer, a Al-Qaeda é um “inimigo melhor”. Por quê?!
Primeiro, porque a Al-Qaeda é mais fácil de demonizar. Eles são terroristas violentos, e isso inflama o sentimento de vingança, motor da “guerra contra o terror”. Segundo, demonizar o inimigo é ótimo, porque assim se pode buscar petróleo por meio de guerras com um disfarce de “justiça”. Terceiro, porque a Al-Qaeda não reúne a mesma quantidade de pessoas que está nas ruas pelas revoluções árabes. Sua dimensão é menor, seu potencial de crescimento também. Não podemos esquecer que a Al-Qaeda nasceu em 1988 de grupos islâmicos financiados, treinados e armados pelos Estados Unidos. A origem do terrorismo está justamente no imperialismo.
Já as revoluções árabes, é outro papo. Estão expulsando ditadores que formam a base de apoio para os negócios de petróleo dos Estados Unidos. O discurso estadunidense em defesa da democracia é pura balela. Quando é necessário implantar ditaduras de apoio para seu imperialismo, o fazem. As revoluções do mundo árabe podem, na melhor das hipóteses, gerar governos verdadeiramente democráticos, que preservem seus recursos naturais, que não se submetam às vontades dos Estados Unidos, que preservem sua soberania. A verdadeira soberania nacional dos países árabes é um pesadelo para os Estados Unidos. Porque eles querem garantir acesso livre aos 36% de petróleo produzido no mundo, dos quais consomem 60%. Vai que as revoluções democráticas conquistam os corações e mentes do mundo . São um inimigo terrível ao imperialismo.
A Al-Qaeda é um monstro adormecido, que foi cutucado pelos EUA no mesmo momento em que o mundo árabe realiza revoluções. Veio a calhar! Por que provocar a Al-Qaeda é uma forma de reacender o fanatismo islâmico e jogar sombras sobre as revoluções não religiosas e democráticas. E de quebra, fortalecer Barack Obama nas disputas eleitorais dos Estados Unidos. Em um dia, sua popularidade cresceu 15%.
Não nos enganemos com esse show da mídia mundial. A morte do terrorista Bin Laden revela como as revoluções árabes são o pior pesadelo americano, e como a Al-Qaeda é útil ao imperialismo.