Tomar as ruas, ocupar as praças!
O dia 15 de outubro de 2011 não será esquecido. Foi um acontecimento histórico. A maior manifestação simultânea mundial já realizada. Foram quase 1000 cidades em 82 países, nos cinco continentes. Alguns dados são impressionantes: mais de 1 milhão de indignados na Espanha; 300 mil nas praças de Roma; mais de uma centena de cidades […]
O dia 15 de outubro de 2011 não será esquecido. Foi um acontecimento histórico. A maior manifestação simultânea mundial já realizada. Foram quase 1000 cidades em 82 países, nos cinco continentes. Alguns dados são impressionantes: mais de 1 milhão de indignados na Espanha; 300 mil nas praças de Roma; mais de uma centena de cidades nos Estados Unidos, organizadas em torno do Movimento “Ocupe Wall Street”.
A presença política e social massiva nas praças do mundo pontua o novo tempo. Em um ano que começou com as revoluções do mundo árabe, foram milhões no mundo inteiro que atenderam ao chamado dos indignados espanhóis, quando deflagraram as concentrações de Maio/2011, clamando por “Democracia Real Já”. Em meio a mais grave crise do capitalismo (que nos ameaça inclusive do ponto de vista civilizatório), o êxito do 15.O é uma primeira resposta global aos ataques que os grandes capitalistas querem impor aos povos e a juventude.
Além da manifestação em si, temos que considerar as circunstâncias: neste ano o mundo foi comovido por múltiplos processos de luta: a juventude na Tunísia e no Egito ajudou a derrocar ditadores. Os jovens trabalhadores portugueses precarizados construíram o movimento da “Geração à Rasca”; o termo “indignados” foi traduzido para o grego- “Aganaktismeni” – com centenas de milhares de pessoas protestando contra o governo nas praças do país, somando-se as constantes greves gerais. A juventude palestina, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia organiza com cada vez mais força sua resistência. Mesmo em um país majoritariamente conservador como Israel, os movimentos juvenis também se fizeram ouvir nas praças. Além da rebelião vista na periferia londrina, com o protagonismo de jovens pobres e imigrantes. Podemos afirmar que existe um movimento planetário, desigual e combinado, de jovens indignados.
O mais importante dos movimentos, contudo, foi à ocupação do principal centro financeiro do mundo – Wall Street, no Parque Zucotti, em Nova Iorque. Tal movimento reverberou nas principais cidades dos Estados Unidos, envolvendo estudantes, desempregados, artistas, sindicalistas. O mundo em 2011 está marcado por crises e protesto. O New York Times fez o seguinte juízo “O Movimento Ocupe Wall Street, que surgiu no mês passado em Manhatan e chegou a mais de 900 cidades no mundo no final de semana, prova entre outras coisas que, por mais importante que sejam as novas mídias sociais na difusão dos protestos, nada substitui o fato das pessoas saírem às ruas”.
Nas praças brasileiras, estivemos Juntos!
Nos orgulhamos de sermos parte daqueles que começam a caminhar em direção aos novos tempos. Intelectuais e artistas como Eduardo Galeano, Naomi Klein, Michael Moore, Slavoj Zizek, Susan Sarandon, Sean Penn integraram-se ás praças, bem como o líder do Wikileaks, Julian Assange.
O Juntos – Juventude em Luta! foi parte ativa da convocatória no Brasil, organizando e atuando nas principais ocupações e manifestações.
O Brasil, como parte da conjuntura latino-americana, ainda está começando a avançar no processo de mobilizações, se comparado com o norte da África e da Europa. Em nosso continente, o 15.O teve expressão massiva apenas no Chile, como parte do calendário de lutas que os estudantes já desenvolvem contra o governo Piñera, em defesa do ensino público. As razões políticas e econômicas se explicam no quadro de estabilidade relativa destes países, sendo o Brasil parte fundamental da sustentação desta estabilidade.
No entanto, algumas fissuras começam a aparecer. Neste ano tivemos importantes greves: professores pararam em 16 estados, bombeiros, servidores da universidade, correios, bancários, trabalhadores das obras do PAC. Tivemos também manifestações espontâneas contra a corrupção, convocadas via redes sociais- as maiores foram em Brasília e São Paulo, além de ocupações vitoriosas de reitorias nas universidades federais, em cinco estados. Compreendendo esse quadro, ser parte da convocatória mundial do 15.O era fundamental.
Estivemos envolvidos na organização das atividades de várias capitais importantes, tendo destaque Belém, São Paulo e Porto Alegre, mas, também atuando em outras cidades do estado de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pará, Minas Gerais, Bahia, Distrito Federal, Paraná, entre outros.
Vale destacar que, retomando o espírito do Fórum Social Mundial, Porto Alegre foi a capital brasileira dos “indignados”-, numa passeata que juntou cerca de 2000 pessoais, terminando com show de Tonho Crocco no acampamento na Praça da Matriz.
E isso é só o começo
Sintonizados com os ventos do mundo, nas marchas contra a corrupção, na luta contra as graves consequências dos megaeventos para a população, seguimos nosso calendário de mobilização. Estaremos na virada contra a corrupção (dia 15 de novembro), nos debates universitários e nas eleições de Diretórios Centrais Estudantis em todo o país, lutando por melhores condições de estudo, transporte, lazer e moradia. Já estamos na briga contra as propostas elitistas de cassar o direito a meia entrada na copa e na luta em solidariedade ao Wikileaks e Julian Assange. Seguimos acompanhando as manifestações pelo planeta.
Nosso próximo passo é o desenvolvimento do nosso coletivo, somando forças com todo o ativismo que é parte deste novo movimento global de indignação. As ocupações das praças e a tomada das ruas voltaram para ficar. A luta por outro futuro recém começa. Estamos Juntos e conectados. Como afirma o rapper Emicida, expressão dos nossos dias, “A rua é nóis”.