Se ser vadia é ser livre, somos todas vadias!
Por trás de todas essas conotações de vadias, vagabundas, putas e tantos outros rótulos que nos colocam, se esconde o machismo. E é para combater essa lógica que surge a Marcha das Vadias.
* Heliane Abreu
É certo que ao ouvir o nome “Marcha das Vadias” boa parte da sociedade (homens e mulheres) se escandaliza. Mas a pergunta é: Por que se escandalizam? A resposta é simples, a palavra ‘vadia’ carrega consigo um valor. Aquele valor que muit@s julgam: “ah, é coisa de vagabunda, de prostitutas, de mulheres da vida, de cachorras”, e assim por diante. São esses valores atribuídos às mulheres que, diariamente, constituem papéis socialmente aceitáveis (ou não). É assim que se formam os padrões sociais e daí parte toda aquela velha história das mulheres que são “para casar” e as que são “para ficar”. Por trás de todas essas conotações de vadias, vagabundas, putas e tantos outros rótulos que nos colocam, se esconde o machismo. E é para combater essa lógica que surge a Marcha das Vadias.
A Marcha se iniciou na cidade de Toronto, no Canadá, em meados de 2011, após um policial afirmar, em meio a uma palestra sobre como impedir estupros, que se as estudantes quisessem evitar serem estupradas, que parassem de se vestir feito vadias para assim não serem possíveis vitimas de assédio sexual. Após essa declaração, mulheres de Toronto e de várias outras cidades e até mesmo de outros países (Brasil, Israel, Turquia, Argentina e outros), saíram às ruas em marcha pelo direito de serem donas dos seus corpos e de terem autonomia sobre as suas escolhas (do aborto ao modo de se vestir), sem ser oprimida ou diminuída pela sociedade.
Se um dia, uma mulher quiser usar uma roupa mais curta e/ou decotada é porque (para muitos homens e mulheres) ela pediu para ser estuprada. E, estes e muitos outros absurdos, que são recorrentes no dia-a-dia, passam a ser vistos com naturalidade, permitindo a reprodução desse tipo de cultura. Nós precisamos combater os rótulos e os papéis condicionados pela sociedade, para poder avançar no debate: “se ser vadia é ser livre, todas somos vadias!”. Nossa intenção é marchar, discutir e causar a reflexão sobre os absurdos dos abusos, estupros e opressões (dentro e fora de casa) que muitas mulheres sofrem e que, cada vez mais, estão sendo silenciadas pelas atrocidades acometidas nos crimes de violência.
Segundo o Mapa da violência no Brasil, de 1990 a 2010, os crimes de violência contra a mulher aumentaram cerca de 200%. Um estudo divulgado neste ano apontou que o Brasil tem o sétimo maior índice de homicídios entre as mulheres entre 84 países. De acordo com a pesquisa, a taxa de homicídio no Brasil ficou em torno de 4,4 vítimas para cada 100 mil mulheres. O número de estupros cresceu em março nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo em relação ao mesmo período de 2011. No Rio de Janeiro, houve 434 ocorrências de estupro em março de 2011. Já em março de 2012, foram 545, um aumento de mais de 20%. Em São Paulo, a ocorrência do crime cresceu 18%. Passou de 919 para 1088 casos no Estado.
Enquanto milhões de mulheres são afetadas por este problema, vemos descaso do Governo Federal com as políticas públicas voltadas pra saúde, educação, habitação e a falta de garantias de melhores salários e por mais dignidade e igualdade nas esferas trabalhistas que são políticas públicas que garantem com que as mulheres vivam em situações de menor vulnerabilidade e com direitos plenos.
Lugar de mulher é onde ela quiser!
Estamos vendo verdadeiras campanhas de conscientização das pautas feministas estão sendo disseminadas em todo país, exemplo disso é Brasília com sua campanha fotográfica: “Feministas Por quê?” que tiveram uma grande repercussão positiva nas redes sociais. Outras cidades como Porto Alegre, São Paulo, Belém, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e muitas já estão se organizando e fazendo campanhas na internet, nas ruas e nas universidades.
Juntas, temos que sair às ruas para mostrar que nenhum homem pode nos dizer que lugares devemos ou não ocupar. Somos livres e temos o direito de decidir. Temos autonomia de estar em qualquer lugar, pois o nosso lugar é onde NÓS quisermos! Que assim as marchas prossigam no Brasil e no mundo, até o dia em que formos de fato ouvidas, até o dia que não houver mais nem uma mulher sendo violentada e por fim, até o dia em que homens e mulheres sejam, verdadeiramente, iguais. Mas enquanto esse dia não chegar, é nosso dever continuar na luta por outro futuro!
Não me procure na cozinha, estou na rua!
* Heliane Abreu é estudante de letras-UFPA, militante do Juntos!