Se ser cachorra é ser livre, late que eu tô passando!
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Se ser cachorra é ser livre, late que eu tô passando!

O último texto do Juntas! “O funk é inimigo do feminismo?” teve muita repercussão.
Recebemos esse texto de uma militante feminista da Baixada Fluminense (RJ) que também trata sobre esse assunto que queremos compartilhar para fomentar mais discussões!

Lidi de Oliveira 26 jun 2012, 23:05

O último texto do Juntas! “O funk é inimigo do feminismo?” teve muita repercussão. Recebemos esse texto de uma militante feminista da Baixada Fluminense (RJ) que também trata sobre esse assunto que queremos compartilhar para fomentar mais discussões! 

*Lidi de Oliveira

Aviso: O texto não é indicado para pessoas moralistas, continuem assistindo sua programação na TV.
“Só me dava porrada e partia pra farra.
Eu ficava sozinha, esperando você.
Eu gritava e chorava que nem uma maluca.
Valeu muito obrigado, mas agora virei puta”
[ Gaiola das Popozudas]
Neste texto pretendo abordar um assunto que é “polêmico” e “imoral” para algumas pessoas. Nas próximas linhas, você vai ler minha opinião em relação ao Funk da Valesca Popozuda e sua contribuição na luta feminista nos lugares de classes mais pobres.
Sou militante feminista na Baixada Fluminense (RJ), nasci e cresci nessa região.É um lugar marcado por desigualdades sociais, grupos de extermínio, alto índice de violência contra mulheres, LGBTs e negrxs.
Por experiências que vivi e vivo, nesses lugares tão marginalizados, tenho muito que agradecer a Valesca Popozuda por difundir em suas músicas o que tanto lutamos no feminismo “meu corpo, minhas regras”.
Sim, eu sei que muitas companheiras de luta, vão dizer que a Valesca sustenta a ideia machista de que a mulher é um objeto sexual.
Então, tenha paciência que vou explicar o motivo de eu não concordar com a opinião de muitas feministas.
Acredito que o Funk que é cantado por ela contribuiu/contribui para uma postura menos submissa de muitas mulheres. E essas mulheres que estou me referindo são as minhas vizinhas, minha irmã, minha mãe, minhas amigas…e eu.
Ou vocês acham que foi a Simone de Beauvoir e Pagu, que me ensinaram que eu devo ser livre e que ninguém manda no meu corpo? Onde moro não existe uma biblioteca pública e muito menos livraria.
A Valesca chegou primeiro em meus ouvidos, depois vieram os livros e a luta diária.
Não sei se ela é feminista, isso não é minha preocupação (por mais que eu considere muitas funkeiras como “feministas sem cartilha”).
O que me preocupa é como dialogar com uma população marginalizada, e quais os “instrumentos” que posso utilizar para mudar a realidade dessas pessoas, através de um trabalho coletivo. E a cada dia percebo que há um abismo entre o feminismo e as mulheres pobres.
A Diva do funk das popozudas é necessária, mas não fará a revolução. Não é uma super heroína, mas nos ajuda (mesmo sem saber) em uma luta tão difícil contra algumas formas de opressão (isso eu consigo perceber)!
Cabe a nós, nos utilizarmos dos discursos, das músicas, e de todos os espaços para mudar nossa realidade, ou podemos ficar reclamando pelas redes sociais…
Que sua voz continue ativa pelas periferias “daquele jeito”!
Você sabia:
Que na Baixada Fluminense morre uma travesti por dia? (De acordo com levantamento informal feito pelo Centro de Referência LGBT)
Uma triste realidade, né? Agora imagine, a diva desse lugar (sim, é a Valesca) chegando em um baile funk e dizendo no microfone:
“Tenho muitos amigos gays, travestis, bi e sempre vejo eles sofrendo discriminação. É a hora de dar um BASTA” (frase que ela escreveu em seu twitter).
Isso é um ato muito corajoso (!!!), que abre caminhos para discutirmos esse assunto com a população, e lutarmos juntxs para conseguir mudanças.
“O funk não é problema, para alguns jovens é a solução”.
Solta o batidão aí, DJ!

*Lidi de Oliveira é autora do blog http://atrasdaportablog.blogspot.com.br e militante feminista da Baixada Fluminense (RJ)


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