Reitoria da USP vira as costas para o debate sobre cotas
A reitoria da USP segue se recusando a debater a questão das cotas raciais, enquanto a maioria das universidades públicas do país começam a abrir suas portas para negras e negros no Brasil. Chega de retrocesso!
Raul Santiago Rosa*
Mais uma da série: Descasos da Reitoria
Dia 25 de setembro ocorreu mais uma sessão do raro Conselho Universitário, sessão essa que teria, entre diversas pautas, uma discussão sobre Inclusão Social e Cotas. Os representantes discentes interviram de modo a pressionar a reitoria à implementar discussões e audiências para que amadurecêssemos essa importante peça-chave na democratização da universidade. Porém logo de cara nos deparamos com a falta de interesse da reitoria de fomentar esse debate, visto que o tema já era para ter sido discutido no conselho anterior, e por isso, esperávamos que iniciássemos com a discussão a respeito de cotas. Entretanto ele foi jogado como o ultimo elemento na pauta, dando margem a uma restrição qualitativa do debate em virtude do tempo e também quantitativa, visto que diversos diretores e conselheiros foram abandonando a sessão. Outro absurdo que precisa ser denunciado é que a frente pró-cotas dia 15 de agosto protocolou um documento propositivo para constar na pauta do conselho, porém tal pauta chegou aos conselheiros sem esse documento, mostrando mais uma vez o descaso da reitoria quanto a esse processo litigioso.
70% dos alunos de São Paulo no ensino médio estão matriculados em escolas públicas e menos de 30% da USP é composta por eles. 37% da população de SP é negra ou parda, porém menos de 14% da USP é composta por pretos e pardos. 99,1% dos estudantes dos “cursos de ponta” (Engenharia, Medicina, Direito) são brancos, sendo que em 5 anos só 77 não-brancos conseguiram entrar. Não estamos navegando por águas obscuras, há muito acúmulo dos movimentos sociais a respeito do tema e esse ano o STF deliberou a constitucionalidade das cotas, e a dita maior universidade da América latina não teve se ausentar desse debate, porém não devemos esperar esforços ou diálogo com a reitoria, essa contenda prossegue com a luta por democratização da USP que os estudantes tanto andam se esforçando. O XI congresso de estudantes da USP, em agosto, discutiu a importância da luta por cotas sociais e raciais para democratizar o acesso à universidade. E essa é a luta dos estudantes da USP!
*Raul Santiago Rosa é diretor do DCE da USP, militante do Juntos e professor de Biologia da Rede Emancipa de Cursinhos Populares