Eu uso saia, eu uso calça, eu uso o que eu quiser
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Eu uso saia, eu uso calça, eu uso o que eu quiser

Chamada pro texto: O desafio foi colocado: que tal ir às aulas da faculdade de saia? O Juntos! topou o desafio e extrapolou, dois militantes cruzaram a cidade de São Paulo de transporte público para mostrar que uma saia, é só uma saia.

Felipe Chagas 18 maio 2013, 12:02

*Por Felipe Chagas

Não tenho como começar esse texto sem comemorar a recente vitória de todos os brasileiros! Não era sem tempo, o Brasil foi o 15º país no mundo a aceitar e celebrar o casamento civil igualitário, pauta que há muitos anos é defendida por todos os militantes LGBTs no Brasil e no mundo. O debate a respeito dessa pauta e principalmente a organização dos ativistas do movimento pelo Casamento Civil Igualitário foram protagonistas de uma das melhores notícias que poderíamos receber num momento tão crítico para a sociedade.

saia_noiteApesar dessa vitória, diariamente recebemos notícias de LGBTs que foram agredidos e até mesmo assassinados por homofobia, lesbofobia e principalmente por transfobia no Brasil. Por isso, mesmo com esse avanço, não podemos parar de ir às ruas para alcançar os outros direitos que ainda nos são velados. Recentemente, um dos últimos mais belos atos que já se viu foi feito por alunos da USP, que organizaram um “Saiaço” de protesto aos ataques machistas e homofóbicos sofrido por um aluno do curso de Têxtil e Moda pelo simples fato de ter ido de saia à universidade.

Num ambiente como o universitário, onde o que se deve preservar é a diversidade das pessoas e da sociedade, uma ação que deveria ser considerada normal, quiçá imperceptível, recebe retaliações, olhares feios e xingamentos. Por isso um grupo de alunos de vários cursos da USP decidiram propor um desafio: passe um dia de saia na universidade. Daniel Vinha do Juntos! São Paulo e eu cruzamos a cidade de Leste a Oeste utilizando trem, metrô e ônibus.

Sem sombra de dúvidas foi uma das mais interessantes e amedrontadoras experiências que eu jamais tive. Isso porque sabemos dos perigos que encontramos pela cidade que, sem políticas públicas voltadas para as minorias oprimidas, mata um LGBT por dia no Brasil. O mais corriqueiro, entretanto, é que quando saímos do trem para utilizar o metrô, próximo ao horário de maior pico, pouquíssimas pessoas sequer repararam na saia que usávamos, bem diferente do trem que muitos olhares escandalizados e escandalizantes nos jogavam.

saia_uspMais tarde nesse dia, no Campus Butantã da USP aconteceu um ato unificado em que dezenas de estudantes trocaram suas experiências e levantaram seus cartazes em protesto por inúmeros problemas que ainda assolam o Brasil no que se diz respeito aos LGBTs. Fortes entusiastas desse ato, os militantes do Juntos! fizeram intervenções que trouxeram a debate importantes pontos como a necessidade de uma Comissão de Direitos Humanos presidida por pessoas que compreendam a diversidade da sociedade, pela aprovação da PLC 122 que criminaliza a homofobia e lembrando que o dia 17 de maio é o Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia.

A manifestação dos estudantes foi tamanha que inúmeros cursos tiveram garotos usando saias, até mesmo Direito e Escola Politécnica, que são considerados ambientes machistas e opressores, receberam a visita das coloridas saias.

O rico debate que se tira de uma ação simples, mas concreta, mostra como ainda precisamos avançar e muito para alcançarmos uma real igualdade entre as pessoas. É, mais do que nunca, importante desconstruir a ideia que se criou sobre a definição de gênero por roupas, modos de expressar-se e afins. Quando se pensa a respeito de homens usarem saias, o pensamento conservador se retrai e produz preconceitos, mas o que se deve realmente perceber é que uma saia é apenas uma saia, uma peça de vestuário que historicamente esteve ligado a ambos os sexos, mas que, nos últimos anos, graças ao imperialismo e à imposição do gênero se tornou exclusivamente feminina.

A liberdade dos brasileiros, infelizmente, é cerceada de maneira que se tornou tão natural, que a manutenção, seja de comportamentos, seja de vestuário, faz com que as coisas não se alterem, e isso ajuda a disseminação do preconceito, ainda pouco prezado, se observarmos o avanço da PLC 122, pela criminalização da homofobia.

Numa semana que começa com uma ótima noticia, em que há um ato que, mesmo, simples é capaz de transformar, mostra que estamos caminhando no rumo certo para a conquista da igualdade de gênero, pelo fim do sexismo e por reais igualdades sejam de sexo, gênero e cor. Por uma real igualdade na sociedade.

O Juntos Pelo Direito de Amar, setorial LGBT do Juntos!, esteve presente nesse ato para mostrar que cada vez mais a saída pela organização coletiva ajuda a conquistar direitos ou impedir que muitos destes direitos já conquistados sejam velados, como a quase centena de direitos que os LGBTs tem a menos na sociedade de hoje. É, igualmente, importante dar consequências às ações coletivas e graças às intervenções de dezenas de pessoas, entre elas muitos do Juntos!, uma atividade que tinha tudo para ser um desfile de saias fashions, tornou-se um espaço de se debater o que fazer de concreto sobre as coisas que nos afetam diretamente e não sabemos como revidar, como é o caso de Marco Feliciano, os assassinatos por falta de políticas públicas ou até mesmo para que uma lei que criminaliza a homofobia seja aprovada.

Novamente nós mostramos que estamos diariamente nas ruas para, Juntos, garantir o direito de amar quem quisermos!

Militante do Juntos! São Paulo e do Juntos! Pelo Direito de Amar*


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