Primeiro de maio pelo mundo e a juventude em 2013
A única alternativa para a juventude europeia tem sido os protestos, que reúnem milhões de pessoas em diversos países pedindo uma nova política, voltada para a população, e não para os bancos. Aqui no Brasil não nos faltam motivos para nos juntarmos a todos os jovens trabalhadores e indignados do mundo e cantarmos um novo futuro.
Daniel Faria e Daniel Ribeiro*
“Nós propomos refazer as coisas.
Estamos fartos de trabalhar para nada,
escassamente para viver,
jamais uma hora para pensar.”
Esses versos eram cantados nas manifestações de trabalhadores norte-americanos no fim do século XIX, momento histórico em que foi travada uma forte batalha por condições justas de trabalho no mundo todo. Afinal, a jornada de trabalho era de 19 horas diárias, e muitas mortes, durante ou em consequência desta jornada, eram registradas nas fábricas daquele período. A palavra de ordem, então, poderia ser sintetizada na famosa frase: “oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas para o que nos der ganas”.
Passado mais de um século deste momento tão importante da história mundial, notamos que muitos foram os avanços no mundo do trabalho conquistados a custa de muito suor. No entanto, estamos vivendo mais um momento da história no qual há inúmeras possibilidades de se avançar em projetos que interessam a grande maioria da população mundial. Afinal, o mar da história está agitado e nós, os inquietos, os questionadores, os indignados, temos que estar em sintonia com o que se passa em todo o mundo a fim de buscarmos respostas e soluções aos enormes problemas que hoje afetam principalmente os países europeus.
No velho continente a situação é bastante dramática, sobretudo a dos jovens europeus. Dos 26,521 milhões de desempregados na União Europeia, 5,690 milhões são jovens (abaixo de 25 anos). Enquanto a taxa de desemprego em toda a UE é de 12,1%; o desemprego na juventude chega a 23,5%.
Essa tragédia social se agrava nos países mais atingidos pela crise econômica. Na Grécia, o índice é de 59,1%; na Espanha, 55,9%; na Itália, 38,4% e em Portugal, 38,3%. Os dados são do Eurostat.
O que agrava essa situação é que, se o presente já está terrível, não há indícios de que o futuro será melhor. Essas taxas, em vez de diminuírem, só aumentam. Desde o começo da crise, em 2008, nenhum governante europeu conseguiu se reeleger. Essa alternância, entretanto, não trouxe mudanças significativas para a população.
E o que eles oferecem para a juventude? Capitaneados pela chamada Troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), implementam pesados cortes nos gastos sociais, que só pioram a situação, tudo em nome da austeridade.
A única alternativa para a juventude europeia tem sido os protestos, que reúnem milhões de pessoas em diversos países pedindo uma nova política, voltada para a população, e não para os bancos.
Dentre todos os movimentos da juventude, um dos que mais chamou atenção foi o dos Indignados, na Espanha. Um dos seus lemas rodou o mundo (servindo inclusive de lema ao Acampamento Internacional da Juventude latino-americana), e ainda permanece como inspiração para todos os jovens: “se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”. Um lema que remete, de certo modo, àquelas canções do final do século XIX, que representa ao mesmo tempo um grito de desabafo e também de esperança por um outro futuro.
Aqui no Brasil não nos faltam motivos para nos juntarmos a todos os jovens trabalhadores do mundo e cantarmos este novo futuro. O primeiro de maio brasileiro foi marcado pela reunião daqueles indignados com a educação pública do país e que no ano de 2012 parou quase que a totalidade das universidades e institutos federais; por aqueles que neste momento paralisaram as escolas públicas do estado de São Paulo; foi marcado pelo encontro dos milhares de jovens que brigam diariamente pelo direito de amar sem ter que sofrer qualquer tipo de preconceito e violência de Felicianos da vida; pela esperança de que em todo o país, a exemplo de Porto Alegre, a organização da juventude nas ruas consiga barrar os aumentos previstos para o transporte público; e será marcado também, sem dúvida, pela força e disposição das jovens mulheres, trabalhadoras ou estudantes, que travam uma luta dura e também diária para que sejam superadas as desigualdades de gênero que esta sociedade injusta lhes impõe através de muito desrespeito e violência.
No Rio de Janeiro, em especial, estivemos reunidos na concentração da Praça Afonso Pena que seguiu em caminhada até o Maracanã, palco das últimas importantes mobilizações que ocorreram na cidade. Por aqui, também temos motivos de sobra para nos indignarmos, seja com o governo Cabral ou com o Prefeito Eduardo Paes. Desde suas políticas de remoção e ocupação das favelas até o processo totalmente nebuloso da venda e expropriação do Maracanã e seu entorno, o que está em jogo é a mesma política: “o Rio de Janeiro deve ser e servir somente àqueles que fazem altos investimentos na cidade”. Por isso, temos a tarefa, neste novo período histórico mundial, de conquistarmos a cidade para nós, para a maior fração da sociedade. Afinal, como também gritaram os jovens em Wall Street, somos os 99% contra aqueles que somam apenas 1% e que são, hoje, os donos do poder. Neste primeiro de maio, em pleno outono, pudemos reviver um pouco da primavera carioca e sentir novamente os ventos da mudança soprando a nosso favor. 2013 ainda será palco de muitas lutas e conquistas para nós, os 99% da população.
* Daniel Faria é estudante de Comunicação da UFRJ e militante do Juntos-RJ. Daniel Ribeiro é estudante de Ciências Sociais e militante do Juntos-RJ.