Em Campinas, Juntos enfrenta repressão e segue na luta!
Em Campinas, a luta continua. A população segue nas ruas por um transporte público e de qualidade, e contra a velha política. Mesmo com repressão, continuamos tomando as ruas pela cidade!
Juntos! Campinas
O Brasil entrou na rota dos indignados e em Campinas não foi diferente. Nós do Juntos! estivemos desde o primeiro grande ato, no dia 20 de Junho, que marcou a história da cidade, reunindo mais de 50 mil indignados nas ruas. Temos, desde então, construído e participado dos atos na luta pelo direito ao transporte verdadeiramente público e de qualidade e também contra a velha política, que se baseia em acordões com os interesses econômicos privados de grandes empresários.
Integramos a Frente Contra o Aumento da Passagem, que desde o ano passado tem denunciado os abusivos aumentos na tarifa. As exigências por nós apresentadas à Prefeitura e Câmara de Vereadores, entre elas, Passe Livre e uma Auditoria para abrir a caixa preta do busão, foram ignoradas sob o pretexto de sempre: faltam verbas e dados técnicos. Mas nós sabemos que o que falta é vontade política de combater a máfia dos transportes, sintoma da estreita relação do prefeito e da maioria dos vereadores com seus financiadores de campanha.
Assim, a resposta mais contundente que o movimento teve foi o uso abusivo de força policial, tanto da PM como da Guarda Municipal – aliás, também militarizada. Bombas de gás lacrimogênio, de efeito moral, violência física e moral foram usadas, com o intuito de desmobilizar e criminalizar o movimento. Ao mesmo tempo, as mais variadas expressões e manifestações da periferia são cotidianamente alvo das armas e fuzis da polícia, numa clara demonstração de perseguição da juventude e da pobreza, a exemplo do Campo Belo e do assassinato do MC Daleste .
Desde o primeiro ato temos nos preocupado com a segurança e integridade dos ativistas e seu legítimo direito de manifestação. Nossos militantes além de ajudar a socorrer os ativistas, tem também auxiliado os detidos com o advogado militante do Juntos e outros parceiros. Diante de nosso protagonismo, junto a outros movimentos organizados, fomos duramente perseguidos no ato do dia 3 de julho, com 4 militantes do Juntos detidos, sendo 2 algemados.
Não vamos retroceder e aceitar perseguição política. Não deixaremos de ocupar as ruas por nossos direitos. Nesse momento, nós do Juntos fazemos um chamado a toda juventude campineira:
• Organize sua indignação! Bora nos reunir para discutir nossas mais variadas demandas e exigir dos governantes as mudanças que queremos!
• Por um verdadeiro sistema de transporte público e gratuito! Vamos acabar com a máfia dos transportes!
• Contra a violência e extermínio da juventude, em especial das periferias.
• Desmilitarização da Polícia e da Guarda Civil Metropolitana de Campinas.
Abaixo, relato do militante Filipe Jesus que junto com Tânie, sofreram com os abusos e arbitrariedades da PM no ato do dia 3 de Julho:
“Após a dispersão violenta feita pela PM no ato do dia 03 de julho (quarta-feira) em Campinas, eu e Tânie Oliveira, do Juntos!, e mais um menor de idade, fomos abordados por policiais na Rua 14 de Dezembro e detidos arbitrariamente. Para além da asfixia do lacrimogênio lançado abusivamente em frente a prefeitura contra cerca de 50 manifestantes pacíficos, fomos agredidos, insultados e ameaçados pelos policiais que, com uma violência injustificada, realizavam a operação sem qualquer identificação na farda.
Fui lançado ao chão duas vezes, algemado e agredido com pancadas e um soco na boca. Tânie foi revistada por dois policiais homens e também agredida com violência. O menor, além de ter seus cabelos puxados, recebeu socos e chutes antes de também ser algemado. Como protestei contra abuso de autoridade, recebi pelo ouvido uma ameaça de “sumiço” caso não parasse de criar problemas.
Além de nós, cerca de 30 outras pessoas também foram detidas naquela noite. A meta passada pelo rádio da polícia, conforme outra militante do Juntos! ouviu na viatura, era prender “no mínimo 20”. Cumpriram a meta lotando um ônibus com todos que encontravam nas ruas, seja fugindo das bombas da PM, seja esperando a condução no ponto de ônibus.
Além de termos sido os únicos algemados do dia, ficamos isolados dos demais em uma sala dentro da delegacia acompanhados por policiais. Também fomos os últimos a serem liberados, bem como os únicos que tiveram seus celulares retidos clandestinamente pela polícia, que os devolveu sem os cartões de memória. Neles estavam registradas cenas da operação policial do dia e especialmente, o registro de áudio da nossa prisão.
Para além das agressões e arbitrariedades que sofri enquanto cidadão, tive também minhas prerrogativas profissionais de advogado jogadas ao chão. O mesmo ocorreu com outros colegas, que tiveram suas prerrogativas desrespeitadas em diversas ocasiões, prejudicando a defesa dos detidos.
O caráter eminentemente político das detenções é indiscutível. Ter participado do ato foi um critério absoluto. Um colega psicólogo, que aguardava os detidos em frente a delegacia, foi abordado por um policial não identificado que se lembrou de tê-lo visto na manifestação e o deteve por horas sem registro algum. Casos semelhantes se repetiram ao longo de toda a “caça” feita após a dispersão, num cenário caótico que nos remete aos anos de chumbo da ditadura civil-militar.
É mais do que fundamental avançar na luta pela desmilitarização da polícia e na denúncia dos abusos cometidos. Um novo período de lutas se abre no Brasil, e isso traz consigo o recrudescimento das ações de vigilância e da violência das forças de repressão contra grupos políticos organizados e a pobreza.
A ação monstruosa que os mesmos policiais realizaram na região do Campo Belo (periferia de Campinas) horas depois, atacando crianças, mulheres grávidas e idosos nas ruas, espancando adolescentes dentro de suas casas e arrebentando sem dó toda uma população em luta contra as remoções forçadas na região, nos indica a centralidade de ampliarmos o controle da sociedade sobre as ações das forças policiais.
A pouca atenção, para não dizer o SILÊNCIO da mídia sobre esses episódios, deve ser rompido por nós para garantia da segurança dos envolvidos. Não podemos permitir a impunidade desta corporação, nem de seus mandantes! A polícia não faz um trabalho técnico de manutenção da “lei e da ordem”. Ela cumpre uma função política, e deve ser responsabilizada e denunciada como tal.”