Ser mulher. Negra. Latino-americana. Ou: hoje é 25 de julho
Hoje, dia 25 de julho, é Dia da mulher negra latino-americana e caribenha. A nossa luta pela visibilidade e pela liberdade da mulher negra é todo dia!
“Ser negra não é questão só de cor. É questão política.” Foi assim que a minha mãe me ensinou que me afirmar como negra era um importante passo político para concretizar o meu respeito e o meu orgulho pelas minhas raízes. Sim, essas raízes crespas, duras, fortes, grossas. Essas raízes que me deixaram com lábios grossos e ancas enormes. Essas raízes que achatam o nariz, escurecem a pele, nos tornam mais fortes. Demorei a entender o que era ser negra. Só sabia, desde pequena, que eu era diferente. Diferente das minhas primas, loiras (descendentes de italianos). Diferente dos coleguinhas de escola (particular), de cabelos lisos. Diferente até da minha mãe, branca. Diferente do padrão da tevê, diferente de tudo que achavam bonito. Diferente da Barbie. E foi preciso muito tempo pra descobrir que, diferente dessas pessoas todas, eu era igual a Carolina de Jesus, a Chica da Silva, a tantas lindas negras, negras lutadoras.
Hoje é dia da mulher negra latino-americana e caribenha. E, apesar de ter demorado, apesar de já ter alisado o meu cabelo, apesar de já ter desejado ser branca, ser bonita como as brancas, ser aceita como as brancas, hoje eu me orgulho e me emociono em dizer que sou negra. Esse é o meu dia, dia de tantas mulheres que tem que enfrentar o preconceito racial todos os dias. Dia de mulheres que tem que batalhar pelos seus direitos de mulher, pelos seus direitos de negra, pelos seus direitos de ser humano. Dia daquelas que, por seus seios fartos ou sua boca “carnuda”, são consideradas objeto sexual ambulante. Dia daquelas que nos morros e favelas tem que enfrentar o extermínio da juventude negra, de seus filhos, irmão, netos. Dia das que já se foram, mas foram lutando. Das que nem puderam lutar. Das que virão, e muito ainda terão que enfrentar. O dia de luta, mas não de luto. Porque “negra é a raiz da liberdade”.
E, dessas mãos pretinhas que agora escrevem esse texto, vem o pedido: não se esqueçam dessas mulheres. Hoje é um dia importante, mas nos outros 364 elas também precisam de visibilidade. As mulheres negras, das favelas, dos morros, as que choram seus mortos pelo BOPE, as que choraram seus mortos na Candelária, as que trabalham 12, 14, 16 horas por dia e ainda precisam cuidar da casa, elas são a fonte de inspiração da minha vida. Porque elas mostram que nossas raízes são crespas, e são fortes.
*Tatiane Ribeiro é militante do Juntos nas Universidades de São Paulo
Confira aqui a publicação original do texto.