Não foi por 20 centavos, nem é só por 19%. Os educadores do Rio lutam pela educação pública!
Uma das palavras de ordem de junho foi “não é só por 20 centavos”. Hoje a história se repete, os profissionais de educação do Rio elegeram como principal pauta, não apenas o reajuste do salário, mas um projeto: uma educação que forme cidadãos, pública e de qualidade.
Não foi por 20 centavos, nem é só por 19%. A luta dos educadores do Rio é pela educação pública de qualidade para todos!
Quem tiver nada pra perder
Vai formar comigo o imenso cordão
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir
Alguém vai ter que me ouvir
(Cordão – Chico Buarque)
por Thaís Coutinho* e Maíra Tavares Mendes**
Uma das principais palavras de ordem de junho foi “não é só por 20 centavos”. Poucos meses depois da maior mobilização de massas que o Brasil já viu, a história se repete – os profissionais de educação, sobretudo da rede municipal, elegeram como principal pauta, não apenas o reajuste do salário, mas um projeto: uma educação que forme cidadãos, que não esteja baseada na meritocracia, e que precisa de autonomia pedagógica.
Estas reivindicações foram capazes de mobilizar massivamente a categoria – milhares de educadores, dentre os quais muitas mulheres, resolveram dizer um basta a um modelo de educação que perpetua as enormes desigualdades que vivemos no Rio de Janeiro. Portanto, ao se contrapor ao atual sistema educacional, os educadores fazem cair a máscara dos autoritários governos Paes e Cabral.
A mobilização exigia do governo, entre outras coisas, a elaboração de um plano de carreira, reivindicação histórica da categoria. Porém o Plano proposto pelo prefeito Eduardo é um ataque à educação pública. Ele não atende as premissas básicas reivindicadas pela greve: ser um plano unificado, paridade para aposentados, valorização por tempo de serviço e por formação. É um plano que deixa de fora mais de 90% dos profissionais de Educação do Rio de Janeiro. E para piorar, o plano legitima a dita “polivalência”, isto é, institui que um professor deve lecionar uma matéria para a qual ele não é habilitado.
Foi a gota d’água: a indignação na categoria é enorme. Não é de qualquer greve que falamos aqui: é uma greve massiva, e por isso chamou tanta atenção da mídia. Todos nós sabemos que a grande mídia tenta criminalizar e esconder os movimentos para blindar o governo. Mas a greve está sendo tão forte que não é possível mais escondê-la. Os atos reúnem milhares de educadores, tendo já alcançado quase 20 mil professores em um único. A capacidade de mobilização e diálogo com a população são os principais pontos que diferenciam esta greve de muitas outras que aconteceram e acontecem no Brasil.
Ocupação da Câmara
Um dos pontos altos da greve foi a ocupação da Câmara Municipal com aproximadamente 300 educadores. Primeiramente por mostrar a disposição da categoria: eram profissionais que não tiveram medo das ameaças do governo. Vale lembrar que os professores foram ameaçados de exoneração ao ocupar a Câmara para pressionar os vereadores pela retirada do Plano proposto por Paes.
Naquele momento, após várias tentativas de diálogo sem sucesso com a Prefeitura (cabe lembrar que o governo não compareceu a diversas reuniões em que havia se comprometido), a ocupação se fez necessária. Os educadores do Rio, não poderiam deixar o Plano passar sem lutar. Então não restava outra opção a não ser ocupar o plenário e dar o recado para a bancada governista. Dentro da Câmara, os educadores levantaram suas bandeiras, colocaram seus cartazes, fotos da greve, realizaram debates, transformaram aquele ambiente vazio de Política em um ambiente vivo e intenso. Mais uma vez mostraram a força do movimento de massas, pois além das centenas de educadores lá presentes, (incluindo professores – PI, PII e PEI, AAC, cozinheiras, secretarias escolares, aposentadas… toda a categoria) um número maior se reunia todos os dias do lado de fora demonstrando seu apoio. A população carioca se mobilizou para que não faltasse nada lá dentro, foram à Câmara prestar apoio colegas de trabalho, alunos, pais de alunos.
Um país que bate em educadores não tem futuro
Os profissionais da educação ocupados sabiam que estavam fazendo a coisa certa, e por isso, incomodando muito o governo. Apoiando-se em um mandato de segurança antigo e inválido (da ocupação da CPI dos ônibus) a força policial realizou a desocupação no sábado à noite. O comandante da polícia ao ser questionado pelo SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação) sobre a ordem de retirada sem mandato, afirmou que a ordem veio do governador Sérgio Cabral, a pedido do presidente da Câmara Jorge Felipe. O Prefeito Eduardo Paes, que já deixou sua máscara cair há tempo, e o governador Sérgio Cabral demonstraram que em seus governos a “Educação é caso de Polícia”.
Um registro importante, víamos o clima cada vez ficar mais tenso, naquele sábado, a câmara se enchia de policiais. Estavam todos (os PMs) posicionados na porta de frente do Plenário. Começamos então a nos dar osbraços e a cantar “o povo unido é povo forte, não teme a luta não teme a morte…”. Nós, que durante aqueles dias vivenciamos a fundo a palavra companheirismo, permaneceríamos assim até o fim. Algumas imagens marcaram nossas memórias: a polícia entrava pelas duas portas, uma companheira sendo levada do plenário por três policiais, mesmo assim continuamos resistindo, de braços dados, lado a lado. É difícil de aceitar tanta violência. Éramos em grande maioria mulheres, muitas senhoras, que começaram a passar mal ao serem empurradas pela polícia. Tentávamos ajudá-las, mas a PM não deixava Percebíamos que os companheiros que permaneceram lá fora (tentando impedir a entrada da polícia) sofreram ainda mais, a polícia os atacou Não conseguimos manter a ocupação, mas a mobilização segue intensa.
A terça-feira (01/10): dia da votação do plano
Na terça passada (01/10, dia de votação do Plano) uma grande demonstração de força novamente foi dada. Os profissionais da educação e a população que saiu em seu apoio ocuparam o centro da cidade do Rio de Janeiro. Todos estavam ali para demonstrar mais uma vez que aquele plano não era bem-vindo. E o governo agiu, mais uma vez, com uma truculência enorme. Fez do centro da cidade um campo de batalha. A repressão policial usada contra educadores e população indignou a todos. A cena lembrava uma verdadeira guerra, com grades para cercar os manifestantes e isolar o acampamento onde estavam os profissionais. Bombas foram jogadas por policiais de cima dos prédios na Cinelândia. Os educadores foram tratados como criminosos por defender a educação pública. Nas redes sociais, pudemos ver ima
gens de um Rio em guerra. De um lado a força repressora de Paes e Cabral, com suas armas pesadas, suas bombas e carros blindados. De outro, os educadores desarmados, mas com a “história na mão”, “aprendendo e ensinado uma nova lição”. E é por isso que a greve é tão perigosa para o governo: embora desarmados, trazemos a arma mais perigosa – o pensamento crítico e a certeza que é possível mudar a história da Educação e do nosso país. Estamos aprendendo e ensinando que a somente a luta transformará a sociedade brasileira. E não estamos dispostos a esperar sentados por isso. Sabemos que o momento é agora, sabemos da nossa força.
As jornadas de junho foram essenciais para incentivar os processos de lutas que existem hoje no Brasil. Elas serviram como exemplo de que é possível conseguir vitórias através da mobilização. Por isso, mesmo com repressão, educadores, demais profissionais e população voltam em maior número às ruas. Por isto, todos estão convocando, assim como o SEPE, um grande ato na segunda-feira (07). E esperamos o apoio e a presença de toda a população carioca, pois sabemos que podemos repetir junho a partir deste dia. Esperamos que os nossos alunos, os pais, e tod@s aqueles que se indignaram com a truculência policial na noite de sábado e terça se juntem a nós. Queremos mostrar para o prefeito e para o governador que a Educação merece respeito. E que a luta em defesa da Educação é de todo o carioca! Como cantou Geraldo Vandré:”vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. E nossa hora é agora!
* Thaís Coutinho é professora das redes municipal e estadual do Rio de Janeiro, diretora do SEPE, e militante do Juntos e do PSOL.
** Maíra Tavares Mendes é professora, estudante da UERJ e militante do Juntos!