Então é natal
Logicamente tudo isso não se trata de fraternidade, e sim de igualdade. Por isso, nesse natal estamos Juntos! contra o racismo e a exclusão social.
Guly Marchant e Heitor Moraes*
Hoje é o dia, todos receberão os presentes ao lado da mesa farta, família reunida, todos na mais completa harmonia e hospitalidade que só o natal consegue trazer a cada lar. Porém nem todos podem usufruir das farturas trazidas pelo bom velinho. Enquanto muitos estão neste clima natalino, outros milhões se encontram nas profundezas da marginalização social, querendo uma família com quem ficar no natal, querendo a mesa farta, querendo “ser como todo mundo”.
O processo de aculturação natalina imbuído em uma lógica consumista e fantasiado de esperança solidária, apenas aprofunda a desigualdade social necessária ao sistema capitalista. A frase, “quem não come, não ganha presente”, utilizada de forma educativa para evitar a má alimentação das crianças, torna-se perversa quando vista pelo ângulo das milhões de crianças que não possuem condições de alimentar-se. E assim como nem toda casa tem uma chaminé, nem todas as crianças têm acesso ao que deveria ser natural, a infância. Acesso que há séculos é negado às crianças negras que desde muito sofrem com a necessidade de trabalhar e com a rejeição social. Aos poucos, a pá substitui os bonecos, a enxada substitui a bola e inicia-se uma grande avalanche da exclusão social. Uma exclusão que continua na escola, na saúde e é reforçada pela sociedade. Afinal Papai Noel com suas bochechas rosadas em nada se parece com um veho negro de terceira idade ou, com diria o poeta Cuti, não traz boneca preta.
Para cada mesa farta, uma criança ficará sem seu presente, mas pior que isso, seguirá sem futuro. A culpa, certamente, não é das famílias que querem confraternizar com seus entes queridos, mas pensar nisso nos faz questionar a paz e fraternidade pregadas nessa data. Certamente não é a fraternidade dos shoppings centers que ficam abertos 32 horas durante a véspera de natal, mas fecham as portas e reforçam a segurança quando jovens da favela marcam seus “rolés”. Logicamente tudo isso não se trata de fraternidade, e sim de igualdade. Por isso, nesse natal estamos Juntos! contra o racismo e a exclusão social.
*Guly Marchant e Heitor Moraes são militantes do Juntos! Negras e Negros.