Mais um “Negro Drama” ou os muitos Vinícius da cadeia
Privado de sua liberdade, dormindo no chão e dividindo cela com mais 15 pessoas, o jovem garante que ele não é o único negro drama na Cadeia Pública Juíza Patrícia Acioli, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Quantos outros foram confundidos, presos, espancados e mortos?
*Por Mariane Duarte e Marcela Lisboa
Mais um negro drama para somar nas rimas de Mano Brown. Vinicius Romão, 26 anos, foi preso no último dia 10, no Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, acusado de assaltar uma mulher. Após 16 dias, o jovem conseguiu um habeas corpus para responder ao processo em liberdade, pois a autora da acusação, Dalva Moreira, assumiu ter se confundido.
Vinícius é mais um jovem sem rosto, mas com cor. A mesma de Amarildo e de Douglas. Até quando? Até quando a figura do negro continuará sendo relacionada ao crime, a prostituição e a tudo o que a sociedade considera ruim? O clássico dos Racionais tenta explicar, “me ver pobre, preso ou morto já é cultural”. O negro drama continua sendo confundido com bandido, continua tentando se manter firme pra ser considerado cidadão.
Privado de sua liberdade, dormindo no chão e dividindo cela com mais 15 pessoas, o jovem garante que ele não é o único negro drama na Cadeia Pública Juíza Patrícia Acioli, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Quantos outros foram confundidos, presos, espancados e mortos? Essa é lei que nossa sociedade nos apresenta. Para sobreviver, o negro precisa andar na linha.
Não importa se ele já atuou na novela das 18:00 horas da globo ou se ele é um morador de rua: existem vidas em jogo. É absurdo que um dos discursos sobre o caso era o de solidariedade pelo fato de ser um ator, ter uma profissão, como se ser negro e trabalhar fosse condição para ele ser considerado cidadão. E assim a cultura racista brasileira se revela cruel novamente.
Precisamos abrir os olhos para a realidade que nos cerca a todo instante. Lutar para dar voz a todos os Vinícius e para salvar todos os Amarildos. Como disseram os Racionais, “Não foi sempre dito que preto não tem vez?/ Então olha o castelo, irmão./ Foi você quem fez…” A luta contra a discriminação racial é todo dia, é preciso combater o argumento de que seria uma “auto-vitimização de negros”. É a luta por igualdade até que os marginalizados ocupem o centro.
*Mariane Duarte é estudante de História da UERJ São Gonçalo e do Juntas RJ e Marcela Lisboa é estudante de Comunicação da Faculdade CCAA e do Juntas RJ.